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Brasília

Mauro Cid fica em silêncio ao depor à CPI da Câmara Distrital

Conforme fez em julho, quando prestou depoimento à CPMI do Congresso Nacional, Cid se apresentou fardado perante os deputados distritais

Mayra Dias

24/08/2023 12h01

Foto Lula Marques/ Agência Brasil.

Na manhã desta quinta-feira (24) a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Legislativa Do Distrito Federal (CLDF) ouviu o ex- ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid. Preso desde o dia 3 de maio, Mauro Cid foi ouvido na condição de testemunha.

Esta foi a primeira vez que Mauro Cid falou em público desde que o seu advogado, Cezar Bittencourt, anunciou que ele confessaria sua participação na venda ilegal de um relógio recebido por Bolsonaro durante o mandato. A peça foi uma das que entraram na mira da investigação da Polícia Federal (PF), depois que assessores do ex-presidente tentaram vender os artigos nos Estados Unidos.

Uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) permitia que o tenente-coronel não respondesse perguntas que o pudessem incriminar e, no dia 11 de julho, quando foi convidado a falar na CPMI dos Atos Golpistas, no Congresso Nacional, usou seu direito ao silêncio cerca de 40 vezes, se recusando a responder às perguntas. Nesta quinta, na CLDF, Mauro Cid repetiu o feito. O depoente optou por permanecer em silêncio e não responder às perguntas, independente do conteúdo questionado.

No seu pronunciamento, no início da sessão, Mauro Cid declarou que usa o direito constitucional de permanecer em silêncio, e o presidente da CPI, deputado Chico Vigilante (PT), afirmou que o direito será garantido, mas que todas as perguntas seriam feitas. Ele também comunicou que era um secretário de Bolsonaro. Segundo o depoente, na prática, a função do ajudante de ordens consistia basicamente em um serviço de secretariado executivo do ex-presidente. “Tendo como exemplo a execução das seguintes tarefas: execução da agenda, recepção e encaminhamento de pessoas ou autoridades para as reuniões, atendimento de ligações e recebimento de correspondências, impressão de documentos, recebimento e entrega de presentes e auxiliar nas atividades particulares do ex-presidente, como almoços, viagens e finanças pessoais”, afirmou Mauro Cid.

No texto, que foi o mesmo lido na CPMI, Mauro Cid escolheu não afirmar que sua vinculação administrativa era estabelecida pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI). O discurso, a princípio, teve uma introdução à sua trajetória, e o trecho retirado na fala desta quinta-feira dizia: “Minha vinculação administrativa era estabelecida pelo Gabinete de Segurança Institucional, inclusive, por meio de onde provinha minha remuneração”.

Dentre as perguntas dos parlamentares, estavam temas como desde quando ele conhece a família Bolsonaro, convive com ela e sobre vínculo de amizade entre os núcleos. Foi questionado também se houve influência da amizade para que fosse escolhido como Ajudante de Ordens, se participou ou planejou de ação para divulgação de fake news, se participou de algum tipo de pressão à cúpula das forças armadas para apoiarem planos golpistas. Os deputados também questionaram se ele poderia explicar como foi a participação no esquema de venda das jóias recebidas por Bolsonaro. O depoente optou pelo silêncio.

Quando as movimentações financeiras que realizou, mostrando que entraram R$ 4,5 milhões em contas de sua titularidade e tendo renda declarada no mesmo período de apenas R$ 956 mil foi questionado, Mauro Cid permaneceu calado. Quanto a essa decisão, Vigilante reafirmou que o silêncio também fala. “O senhor não respondeu nenhuma das perguntas. O silêncio foi bastante elucidativo para todos nós”.

Vale destacar que a defesa de Cid chegou a pedir o adiamento do depoimento do tenente-coronel à CPI, argumentando que os defensores “apenas assumiram sua defesa na última semana”, sem “tempo hábil para plena ciência e conhecimento dos fatos atinentes aos autos”. No entanto, Chico Vigilante negou a solicitação, reforçando que seria uma grande oportunidade de Mauro Cid falar. “Vamos fazer todas as perguntas e espero que ele responda”, disse, na ocasião.

Deputados se posicionam

Quanto ao silêncio no militar, Fábio Félix (PSOL) afirmou que a CPI seria uma oportunidade para ele esclarecer as acusações de participação na tentativa de golpe de Estado. leu trechos de conversas obtidas do celular de Cid pela Polícia Federal e, na troca de mensagens, ele teria recebido o pedido de um membro do exército brasileiro para incentivar o ex-presidente Jair Bolsonaro a praticar um golpe de Estado. “Isso aqui é uma CPI contra a tentativa de um golpe, estamos aqui para achar o mandante dessa tentativa”, disse o distrital.

Pastor Daniel (PP), por sua vez, elogiou a carreira do depoente e fez críticas às ações de enfrentamento aos ataques por parte do Governo Federal. “O GSI dispensou um batalhão inteiro que reforçava a segurança do Planalto horas antes dos atos”, pontuou o distrital. “O governo Lula impôs sigilo às imagens do dia 8 e não queria a abertura das CPMI. É muito fácil imputar a culpa de tudo ao modelo bolsonarista”, concluiu Daniel.

Seguindo o mesmo posicionamento, Thiago Manzoni (PL) destacou a “presunção de inocência” do depoente, e afirmou que seu silêncio não o incrimina. O deputado ainda criticou a esquerda e a postura do governo Lula. “Lula ter voltado para a presidência foi um castigo da natureza que o povo não merecia”, salientou.

Por fim, Gabriel Magno, do PT, também mencionou as mensagens encontradas no celular de Cid e leu trechos de reportagens que indicam que mais de R$ 3 milhões teriam sido movimentados em sua conta pelo sargento Luís Marcos dos Reis, ex-assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro. O parlamentar chamou a conduta de Cid de “golpista”, e acrescentou: “O senhor envergonha as forças armadas. Não vamos permitir anistia, como aconteceu em 1964”.

A Comissão se reúne novamente na próxima quinta-feira (31), com oitivas de Armando Valentin Settin e Cacique Sererê Xavante. Ambos são investigados nos inquéritos sobre ataques de 08 de janeiro.

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