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Política & Poder

Marcos Cintra diz à PF ter sido induzido ao erro em publicações sobre suspeita das urnas

Cintra fez publicações que alimentaram afirmações golpistas em grupos bolsonaristas de que teria havido fraude nas eleições presidenciais

FolhaPress

24/11/2022 19h53

Foto: José Cruz/Agência Brasil

Constança Rezende
Brasília, DF

O economista Marcos Cintra, filiado à União Brasil, disse em depoimento à Polícia Federal na quarta-feira (23) ter sido induzido ao erro ao levantar, em suas redes sociais, suspeitas sobre o resultado das urnas. Ele afirmou ter sido “vítima de uma publicação incompleta”.

Ex-secretário da Receita Federal no governo de Jair Bolsonaro (PL), Cintra fez publicações que alimentaram afirmações golpistas em grupos bolsonaristas de que teria havido fraude nas eleições presidenciais.

À PF o economista –que foi vice na chapa de Soraya Thronicke (União Brasil)– justificou que obteve uma informação em mídia digital de que algumas urnas teriam registrado 100% dos votos para o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e zero para o presidente Bolsonaro.

No entanto, disse que as notícias acessadas omitiram a existência de urnas com registro de votos unânimes também para Bolsonaro e que, por falta de conhecimento, não teve como procurar tais informações no site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Os comentários de Cintra nas redes motivaram a abertura de um inquérito relatado pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, no qual foi incluído o depoimento à PF. O Twitter retirou do ar o perfil do economista, respondendo à decisão judicial.

Questionado pela polícia se conhecia a estrutura de informática dos sistemas do TSE e a técnica dos mecanismos de segurança utilizados no processo eleitoral, o economista afirmou que não.

Também disse não saber os processos de auditoria realizados pelo tribunal no sistema eletrônico de votação (urnas eletrônicas, incluindo hardware, software e transmissão de dados para contabilização dos votos) e que apenas tem conhecimento dos fatos que saem na mídia.

“Indagado se teve acesso ao código-fonte das urnas eletrônicas ou de alguma forma obteve informações técnicas que indicaram vulnerabilidades no sistema de votação eletrônico que pudessem dar causa a condutas fraudulentas nas eleições de 2022, respondeu que não, indagado se participou dos testes de integridade das urnas eletrônicas, respondeu que não”, diz o termo de declaração da PF.

Na publicação no Twitter, Cintra disse que “tem razões para não concordar com Bolsonaro, falta de preparo e de cultura, baixa capacidade de liderança, e comportamento inadequado para presidir um país como o Brasil”.

Mas acrescentou que as dúvidas que Bolsonaro levanta sobre as urnas “merecem respostas” e citou o dado sobre Lula ter obtido a totalidade de votos em algumas urnas no Brasil.

Após a publicação, o presidente da União Brasil, Luciano Bivar, decidiu encerrar o contrato do partido com o economista. Filiado à legenda, Cintra ganhava R$ 45 mil por mês para prestar consultoria na área tributária. Os recursos eram públicos e vinham do fundo partidário.

Em seu depoimento, Cintra disse que a publicação não teve a intenção de deslegitimar o sistema eletrônico de votação, mas que “pelo contrário, buscou explicações para resguardar o próprio sistema eleitoral e que acredita na legitimidade das instituições”.

Ele finalizou declarando que sua publicação é um fato isolado e pontual e que é oposição ao atual presidente [Bolsonaro], “jamais tendo a intenção de utilizar as redes sociais para atacar as instituições democráticas, tampouco o TSE e o Estado democrático de Direito”.

Disse ainda que houve uma “sincera dúvida”, tendo demandado explicações ao TSE, que respeita “profundamente” os ministros do STF e do TSE e que, “infelizmente, o seu tweet foi mal interpretado, sendo uma grande surpresa, aos 77 anos de idade, estar sendo investigado neste caso”.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, de fato houve seções eleitorais pelo país em que apenas 1 dos 2 candidatos recebeu votos, mas não se trata de caso isolado, e é algo que se repetiu nos pleitos anteriores.

Neste ano, ao todo foram 143 seções onde apenas Lula teve votos e 4 em que só Bolsonaro foi votado. Isso representa uma porcentagem ínfima do total de urnas do país: 0,03%.

Em 2018, quando Bolsonaro saiu vitorioso, ele teve todos os votos em 4 urnas do país, enquanto Fernando Haddad (PT) foi o único votado em 328. Em comparação a 2018, portanto, a quantidade de urnas que tiveram apenas voto em candidato do PT diminuiu. Já em 2014, foram 11 urnas com votos só em Aécio Neves (PSDB) e 192 apenas para Dilma Rousseff (PT).

Neste ano, das 143 seções em que só Lula foi votado, 118 ficam no Nordeste ou no Norte do país, sendo que muitas delas em áreas com grande presença indígena e quilombola.

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