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Política & Poder

Lula lança pré-candidatura após conflitos internos e desgaste com falas

Organizadores afirmam que o ato deverá reunir 4.000 pessoas. Desse número, 2.000 convites seriam de São Paulo, 1.000 de movimentos sociais

FolhaPress

07/05/2022 7h42

Catia Seabra, Julia Chaib e Victoria Azevedo
Brasília, DF e São Paulo, SP

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lança sua chapa com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) neste sábado ?(7), após um período de declarações desastradas, divergências na coordenação de campanha e em meio a rusgas internas.

Idealizada pelos organizadores, a imagem de Lula e Alckmin em destaque, diante de apoiadores de diferentes partidos, não vai se concretizar. Ao lado de bandeiras do Brasil, fotos dos dois serão expostas no centro de convenções em São Paulo preparado para a oficialização da campanha.

Alckmin, no entanto, deverá participar apenas virtualmente após ter recebido o diagnóstico de Covid-19 nesta sexta (6). Apresentando sintomas leves da doença, ele deverá falar ao vivo, em um telão.

O ato deste final de semana foi pensado para oficializar a frente ampla que Lula tenta construir e cujo mote será “vamos juntos pelo Brasil”.

O slogan irá incorporar as cores verde e amarela da bandeira brasileira —sem deixar de lado o vermelho, tradicionalmente associado ao PT. E a expectativa entre pessoas ligadas à pré-campanha é que o ato deixe para trás essa fase de instabilidade.

Organizadores afirmam que o ato deverá reunir 4.000 pessoas. Desse número, 2.000 convites seriam do estado de São Paulo, 1.000 para representantes de movimentos sociais, populares e sindicais, e o restante para os partidos aliados, autoridades, artistas e intelectuais.

A chef Bela Gil e o músico Paulo Miklos serão os apresentadores do evento. A sambista Teresa Cristina deverá cantar o hino nacional.

O evento é planejado no detalhe para evitar eventuais erros. Só Lula e Alckmin vão discursar. Na ocasião, o petista lerá um pronunciamento que vem sendo preparado há semanas.

Lula —que tem sido criticado pelos deslizes cometidos em improvisos—, vai ler um discurso que traz como foco o combate à pobreza e a promessa de união nacional para reconstrução do Brasil.

Segundo aliados, o ex-presidente defenderá o legado petista e, ao falar de sua prisão, dirá que não guarda ódio nem rancor.

A crise econômica e a fome serão apontadas como mazelas enfrentadas pelo brasileiro, em contraposição ao seu governo.

O pronunciamento de Lula abordará a alta de preços e o endividamento da população. A defesa da soberania nacional também estará presente em seu discurso.

Ele ainda irá pregar o tom de esperança e não focará só conquistas do passado. O ex-presidente já tratou desses temas em falas anteriores.

Antes de seu discurso, telas dispostas no centro de convenções exibirão cenas que retratam a crise econômica. O jingle da campanha presidencial de 1989 será cantado durante o ato.

Dirigentes de outros partidos manifestaram preocupação a integrantes do PT com deslizes em falas do ex-presidente nas últimas semanas

Os equívocos são apontados por aliados de Lula como resultado de falta de rumo na comunicação da pré-campanha.

Nas últimas semanas, o petista tem dado declarações polêmicas e, após a repercussão, recuado delas.

No início de abril, o ex-presidente afirmou que o aborto deveria ser um “direito de todo mundo”.

No dia seguinte, o petista tentou contornar as declarações, se posicionou pessoalmente contra o aborto e defendeu o tratamento para mulheres que realizarem o procedimento na rede pública de saúde.

Depois, no final do mês, Lula criticava a postura de Bolsonaro em relação às vítimas da Covid quando diferenciou gente de policiais. O presidente da República tem nas forças de segurança um de seus principais temas de campanha.

Na véspera do lançamento formal da campanha, Lula deu fim a uma incerteza que, há duas semanas, consumia seus apoiadores ao definir os coordenadores de comunicação de sua campanha.

Disposto a apagar a ideia de desestruturação, Lula escolheu o deputado federal Rui Falcão (SP) e o prefeito de Araraquara, Edinho Silva, para a coordenação de comunicação.

Como Edinho terá que conciliar a tarefa com a administração municipal, caberá a Falcão a condução do dia-a-dia da campanha.

Foi o próprio Lula que sugeriu a escalação de Falcão para a missão durante uma reunião em que petistas chegaram a lembrar-lhe que o deputado se opunha à escolha de Alckmin para a vice da chapa.

Mas o ex-presidente alegou que Falcão respeita decisões partidárias e se dedicaria à campanha após a definição da candidatura.

Falcão e Edinho substituirão o ex-ministro Franklin Martins, afastado após queda de braço com a máquina petista, entre eles o secretário de comunicação do partido, Jilmar Tatto.

Segundo petistas, Lula tenta convencê-lo a assumir uma cadeira em seu conselho político e deu o tempo que Franklin quiser para dar a sua resposta.

O alvo da disputa é o orçamento reservado ao marketing da campanha de Lula, calculado em cerca de R$ 45 milhões. Com a chave do cofre do partido até a formalização da candidatura petista, Tatto reivindicava o direito de opinar sobre o destino dos recursos do fundo partidário.

Com histórico de rusgas com dirigentes petistas e aval de Lula, Franklin não abria mão de comandar a execução da verba, incluindo para comunicação nas redes sociais.

Apesar da proximidade com o ex-presidente, Franklin não resistiu à pressão de petistas pela demissão do jornalista Augusto Fonseca do marketing da pré-campanha. Fonseca tinha sido contratado após processo de seleção conduzido por Franklin.

Segundo petistas, não havia, no contrato, previsão de recursos para realização da pré-campanha até a formalização da corrida presidencial. Só a partir daí os partidos terão acesso ao fundo eleitoral. Até lá, o PT terá que contar o fundo partidário, constantemente bloqueado, por decisão judicial, para pagamento de dívidas do partido.

Essa falta de estrutura ficou evidenciada nas inserções que o partido levou ao ar, em março, o que serviu de justificativa para críticas a Fonseca, culminando com a rescisão do contrato.

Pessoas próximas a Fonseca reclamavam do fluxo do pagamento do PT, que só terá mais verba disponível a partir do início da campanha, com o fundo eleitoral. O fundo partidário da sigla enfrenta uma série de bloqueios da Justiça, o que dificulta pagamentos.

O publicitário Sidônio Palmeira assumirá o marketing da campanha. Palmeira é ligado ao PT da Bahia. Ele fez os programas vitoriosos do ex-governador da Bahia Jaques Wagner em 2006 e 2010, e do atual, Rui Costa, em 2014.

Há apenas 15 dias na campanha, Palmeira é um dos organizadores do evento em que se tenta dar o fim à turbulência que abala o comando da campanha.

Petistas do circuito próximo do ex-presidente dizem que falar de improviso sempre foi o forte de Lula. A diferença é que quando ele fez isso em campanhas anteriores, não havia redes sociais no nível de hoje.

No cenário atual, em que qualquer frase pode ser pincelada e repercutida com tanta facilidade, é preciso redobrar o cuidado com as declarações, daí a decisão de se preparar um discurso para Lula ler neste sábado.

Nesta semana, a coordenação jurídica da pré-campanha fez algumas sugestões para a organização do evento a fim de evitar possíveis questionamentos na Justiça. Entre eles a proibição do pedido de voto explícito e a não realização de intervenções artísticas —porque elas poderiam configurar os “showmícios”. Em outubro de 2021, o STF (Supremo Tribunal Federal) manteve a proibição aos showmícios nas eleições.

O palco, que irá reunir cerca de 60 pessoas, também trará tons de vermelho, mas também verde e amarelo, com a bandeira do Brasil.

Segundo Jilmar Tatto, a TV PT, canal de YouTube da legenda, irá transmitir, a partir das 10h, uma espécie de “esquenta” do evento, com entrevistas com as personalidades ali presentes.

Tatto diz ainda que está sendo elaborada uma rede de perfis na internet que irão replicar a transmissão, na tentativa de potencializá-la no meio virtual. De acordo com ele, até a tarde desta sexta (6), já haviam 200 inscrições, entre elas contas de partidos, parlamentares, centrais sindicais e movimentos sociais.

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