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Política & Poder

Karol Wojtyla quebra tradição secular no Vaticano

Era agosto de 1978, quando o Papa Paulo VI – Giovanni Montini – deixou o trono de São Pedro

Gustavo Mariani

30/04/2023 9h37

Atualizada 03/05/2023 11h49

Até a década-1970, havia uma lei mandando delegações culturais e desportivas brasileiras que viajassem ao exterior levarem um jornalista. Por conta daquilo, o Ministério da Educação convidou-me a acompanhar uma estudantada que iria à Europa. Para aproveitar a passagem de ida e volta que o Governo me forneceria, negociei férias vencidas, com o Edgar Tavares, o Editor Executivo do Jornal de Brasília. E lá fui eu. Era agosto de 1978, quando o Papa Paulo VI – Giovanni Montini – deixou o trono de São Pedro. Tive de parar com os muitos passeios que fazia, junto com a moçada estudantil, tendo cinco horas adiante no meu relógio ponteirizado no horário de Brasília.

Com o Papa “partindo desta para uma melhor”, fui para uma outra luta, pois sabia que o Jornal de Brasília não me perdoaria se eu, estando na “boca do fato do ato”, não enterrasse a Sua Santidade. Papa despachado, o novo barato era esperar pela fumaça eleitoral do sucessor, ouvir a tradicional frase latina “habmus papam”. Mas, como o fumacê celestial demorava a poluir o Céu, nós jornalistas terminávamos as noites “molhando o pescoço por dentro”, em algum bar longe do Vaticano. Até que elegeram Albino Luciani, filho de uma família pobretona de Forno di Canale, distante mais de 500 quilômetros da Santa Sé. E fomos decifrar o que seria o novo papado.

Após o meu último telex enviado (meio mais moderno de comunicação jornalística da época) acertei com o chefe Edgar Tavares o ressarcimento das despesas que eu tivera por conta das baixas no quadro papal da Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana. Entramos em acordo e, depois, segui para a região do Rio Tauber, na então Alemanha Ocidental, onde residia o amigo Manfred Löcken, que trabalhara em Brasília e fora consultor do programa de Educação Física do MEC. Depois de vários passeio por cidadezinhas como Bad Mergentheim, Ingersheim e outras das quais nem me lembro mais dos nomes, fui para Stuttgart, cidade grande e capital do estado de Baden-Württemberg. Por ali, procurei um amigo indicado pelo Löcken, para livrar-me de pagar hospedagem em hotel. Dias depois, anunciou-se que Brigitte Mohnhaupt, recentemente saída da prisão, não desistiria de tentar o resgate de Andreas Baader, um dos fundadores do seu grupo terrorista – Baader & Meinhoff – e que cumpria pena de prisão perpétua, em Stammheim. Também, a ela, se atribuíam participação nos recentes execuções de Jürgen Ponto, presidente do Dresdner Bank; de Hanns-Martin Schleyer, presidente da Federação dos Empregadores da Alemanha; e de Siegfried Buback, procurador-geral da República alemã.

Informado de que o chanceler Willy Brandt concederia entrevista coletiva à imprensa, me mandei pra cobri-la, muito mais interessado em fazer cobertura no idioma alemão que eu estudava, há cinco temporadas, no Instituto Brasil-Alemanha, de Brasília, com bolsa do Jornal de Brasília. Depois, rodei mais e, por último, fui a Portugal, querendo conhecer a vida artística do Casino de Estoril. Encontrei vários músicos brasileiros na casa e ofereci matéria ao JBr, que não interessou-se pelo tema. Em todo o caso, caso mudassem de ideia, precisando da tradicional “matéria fria” para final de semana, deixei o telefone do Hotel Estoril Sol, onde hospedei-me.

Quando o Edgar Tavares me ligou, após uma noite em que eu passara me divertindo no Casino, ele ordenou-me:

-Volte para o Vaticano, imediatamente! O Papa morreu.

-De novo? – questionei, espantado.

-Não foi o Papa que você enterrou. Foi o que você elegeu – explicou-me, na brincadeira. E lá fui eu, outra vez, enterrar um outro Papa. Parecia que eu já tinha visto aquele filme antes. Enquanto o novo sucessor de São Pedro não era anunciado, nós jornalistas bebíamos vinho à noite, após a assessoria de imprensa vaticana nos desinformar, “informando de que nada seria informado”, ainda. Enfim, um dia, a fumaça branca subiu aos Céus. Pouco depois, nos foi fornecido tudo sobre Karol Józef Wojty?a, o eleito e que, entre outros detalhes, havia sido ator de teatro e goleiro de futebol, em sua juventude polonesa. Pronto! Mandei a minha matéria para o JBr, com a manchete mais escrota que pude sugerir:

Zebra! Goleiro polonês é o novo Papa.

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