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Política & Poder

Indígenas negavam identidade para não morrer, diz ministra

A declaração ocorreu quando a ministra falava sobre o aumento dessa população no Censo Demográfico 2022

Redação Jornal de Brasília

07/08/2023 17h06

Brasília, DF 01/06/2023 A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, participa de audiência da Comissão Temporária Externa do Senado que acompanha a situação dos Yanomami e a saída dos garimpeiros. Ao seu lado, o senador Chico Rodrigues .Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

LEONARDO VIECELI
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)

A ministra Sonia Guajajara (Povos Indígenas) afirmou nesta segunda-feira (7) que indígenas negavam sua identidade no passado por medo de serem mortos no Brasil.

A declaração ocorreu quando a ministra falava sobre o aumento dessa população no Censo Demográfico 2022. Segundo Guajajara, o princípio da autodeclaração teria avançado entre os indígenas nos últimos anos, explicando parte do crescimento apontado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

“Não se assumia o que era porque tinha medo de morrer. Tinha ordem para matar indígena. Por um período muito difícil, povos indígenas, muitos no Nordeste brasileiro, negavam sua identidade para não morrer”, afirmou a ministra.

O novo recorte do Censo 2022, divulgado nesta segunda pelo IBGE, contabilizou quase 1,7 milhão de indígenas no país. O número é 88,8% maior do que o verificado no recenseamento anterior, em 2010.

“Foi muito surpreendente [o resultado]. Pode ser porque antes não se contava diretamente ou pode ser que, assim como foi durante toda a nossa história, povos indígenas negavam sua própria identidade com medo da violência”, disse Guajajara.

As declarações ocorreram durante a cerimônia de lançamento dos dados. O evento ocorreu em Belém.

As ministras Simone Tebet (Planejamento) e Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação) também participaram do encontro, assim como o prefeito da capital paraense, Edmilson Rodrigues (PSOL), o presidente interino do IBGE, Cimar Azeredo, e representantes indígenas.

O cacique Raoni Metuktire, presente no palco da cerimônia, cobrou das autoridades união em defesa da floresta e dos recursos ambientais.

Para Guajajara, as informações do Censo 2022 podem servir como base para políticas públicas. De acordo com a ministra, o levantamento mostra o recorte real do Brasil indígena, já que o IBGE conseguiu acessar áreas mais remotas desta vez.

“São dados que vão propiciar formas de combater a violência que continua assolando os povos indígenas dentro dos territórios e no entorno dos seus territórios”, disse.

Ao tocar nesse ponto, Guajajara afirmou que mais duas pessoas indígenas foram baleadas na manhã desta segunda na região do município paraense de Tomé-Açu (a cerca de 200 km de Belém). Outro indígena havia sido baleado na região na sexta (4).

Ao divulgar os dados do Censo 2022, o IBGE ponderou que os números não são totalmente comparáveis com a versão de 2010, já que houve mudança na aplicação dos questionários com o objetivo de ampliar a coleta.

Especialistas também enxergam reflexos de ações afirmativas que teriam estimulado a autodeclaração dos indígenas.

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