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Brasil

Facada em Bolsonaro, tiros contra Lacerda e J.Pessoa mudaram rumos políticos, explicam historiadores

Atentados a políticos são pontos cruciais na história brasileira. O atentado ao atual presidente, ainda em sua corrida presidencial, já entra nos livros de história do país

Agência UniCeub

07/09/2019 17h46

Não foi apenas o atentado contra o então candidato a presidente Jair Bolsonaro, em 6 de setembro de 2018, que mudou os rumos políticos do país. O ex-deputado federal (hoje no PSL), nem precisou participar de debates em TV e, durante a convalescença no hospital às vésperas do primeiro turno, contou também com a comoção nacional para ficar em primeiro lugar e depois vencer em segundo turno.  Outros dois casos ocorridos no século passado compõem parte importante da narrativa política brasileira, apontam os historiadores Frederico Tomé e Deusdedith Alves.

Para eles, os movimentos que desencadearam a Revolução de 1930, por exemplo, fizeram parte das repercussões do assassinato de João Pessoa (então presidente da Paraíba), em 1930. Outro acontecimento decisivo foi o atentado na rua Tonelero, contra o jornalista e político Carlos Lacerda, em 1954, e que acabou matando o major Rubens Florentino Vaz, que fazia a segurança do principal opositor de Vargas.

Morte de João Pessoa e ascensão de Vargas

Vargas e João Pessoa antes da Revolução de 1930

O historiador Frederico Tomé contextualiza que é preciso compreender os momentos políticos para entender como esses fatos agitaram o período. “Na década de 30, as eleições ocorriam em tempos diferentes. A eleição era no início do ano e a posse só se dava no final do ano. Foi nesse período entre a vitória da chapa de Júlio Prestes, opositor de Getúlio Vargas, e a posse, que o assassinato de João Pessoa, vice de Vargas, aconteceu”.

O assassino do então Presidente da Paraíba, cargo equivalente ao de governador, foi João Duarte Dantas. Adversários políticos à época, ambos duelavam via imprensa. Durante o governo João Pessoa, a polícia paraibana fez uma apreensão no escritório de João Dantas. Entre os objetos confiscados, estavam cartas de amor que Dantas trocava com Anaíde Beiriz, professora com quem mantinha um relacionamento. 

Telegrama com a informação da morte de João Pessoa

Tomé explica que o crime não estava vinculado a questões políticas nacionais, mas com disputas locais e um caso amoroso. “Um possível romance que foi divulgado pelos veículos de comunicação e o ofendido, em Recife, acabou ceifando a vida de João Pessoa (…) Essa morte, muito embora não tenha uma perspectiva de política nacional, desencadeou apoios políticos que acabaram por favorecer uma ação de tomada de poder que partiu de Vargas. Então ele conseguiu angariar forças. Então, de fato, a morte de João Pessoa alterou o quadro político a favor de Vargas e o movimento foi triunfante até a derrocada do governo de Washington Luiz”.

O atentado na rua Tonelero

Carlos Lacerda, opositor de Vargas, é carregado ferido após tiros

“O atentado ao Lacerda é um desses acontecimentos que muda o rumo da política”. É assim que o professor Deusdedith Alves classifica a importância desse fato. No dia 5 de agosto de 1954, um ataque na frente da residência de Carlos Lacerda causou a morte de seu segurança, Rubens Vaz, e feriu o próprio Lacerda, alvejado no pé. “A exploração jornalística de um lado e depois marqueteira, como a gente costuma dizer, nos dois casos, foram muito bem aproveitados”.

Imponderáveis

Deusdedith entende que, mesmo com características diferentes, os episódios dos  atentados mudaram os rumos dos seus tempos. “Acho que esses três casos são importantes para compreensão dos períodos. Depois, o atentado contra Lacerda acaba envolvendo a pessoa de Vargas e ele também tem prejuízos políticos quanto a isso. São casos muito parecidos no fato de, com ou sem motivação política, mudarem um pouco o curso da história política mais a frente”.

O professor explica que são acontecimentos desse tipo que mostram que a história é feita de caminhos imponderáveis. “A história não é uma ciência que se organiza racionalmente com facilidade. Às vezes, a gente é surpreendido com um acontecimento que muda toda uma tendência, e aí vamos ficar com o nosso caso do Bolsonaro: havia, se você for pensar racionalmente, uma tendência de declínio da campanha dele, e um acontecimento mudou o curso dessa espécie de tendência”.

Frederico Tomé também, ao analisar e relacionar os acontecimentos, entende que a imprensa foi um ator político fundamental na divulgação dos três episódios. Em 2018, as redes sociais divulgaram ao vivo o ataque ao Bolsonaro. Nos outros dois episódios, a rádio e o jornal impresso tornaram eventos regionais em alcance nacional. “Se nós colocarmos esses dois exemplos, um em 30 e outro em 54, e a facada que ocorreu em 2018, essas ações trágicas tem uma capacidade de sensibilização no eleitorado, na população em geral, que podem definir rumos políticos, desde que bem exploradas, salientadas, repetidas, todas as estratégias possíveis para que ela seja devidamente entendida como um evento marcante e trágico”.

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