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Política & Poder

Evangélico agredido em vigília bolsonarista se diz marxista, progressista e contra extrema direita

Ele é evangélico de berço, nascido numa família que frequentava a Assembleia de Deus

Redação Jornal de Brasília

24/11/2025 12h37

evangelico agredido bolsonaristas (2)

Foto: ismaellopespastor/Instagram

ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O evangélico Ismael Lopes, 34, admite que havia pensado em “fazer uma galhofa” quando foi a uma vigília convocada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) em desagravo ao pai. Jair Bolsonaro (PL) foi preso preventivamente naquele dia para por ordem do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.

“Não foi nada tão planejado”, ele diz à reportagem. “Eu iria à vigília de toda forma. Havia até falado em alguns grupos que iria e tal. Mas mais para fazer uma galhofa, gravar um videozinho aqui e ali e ir embora.”

Até que, segundo Lopes, “lá surge a possibilidade de fazer uma fala, após eu solicitar ao próprio Flávio”. É quando pega o microfone e, cercado por bolsonaristas, diz que o ex-presidente deveria ser condenado.

“Nós temos orado por justiça neste país. Temos orado para aqueles que abrem covas caiam nelas. Não mortos, porque não é isso que a gente deseja. A gente deseja que sejam julgados e condenados pelo que fizeram”, afirma, para espanto de quem esperava mais uma pregação a favor do ex-presidente.

Então se vira ao primogênito de Bolsonaro e diz: “Como o seu pai, que abriu 700 mil covas na pandemia, seja julgado pelo devido processo legal. Tenha seu direito de defesa, mas que seja condenado e responda pelos crimes que cometeu”.

Lopes afirma em seguida que também punidos deveriam ser todos os aliados que compõem “essa horda do mal”. A turba o interrompe aí, e ele é agredido na sequência com chutes, socos e empurrões.

Lopes faz parte da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, que divulgou neste fim de semana uma “nota de esclarecimento” dizendo que o ato “envolvendo nosso irmão em Cristo” teve “caráter individual e pessoal”, e que o membro do grupo teria “o apoio necessário” diante das agressões que sofreu.

Essa frente é alinhada à minoria progressista nas igrejas evangélicas e costuma estar presente em eventos do governo Lula (PT) com o segmento. O próprio Lopes se reuniu neste ano com Márcio Macêdo, então ministro da Secretaria-Geral da Presidência.

“Sempre nessa disputa relacionada a fé e política”, Lopes diz que se mobiliza “contra a extrema direita, contra a derrubada de direitos”.

Ele é evangélico de berço, nascido numa família que frequentava a Assembleia de Deus. Migrou depois para uma igreja batista e conheceu a Teologia da Missão Integral, com uma leitura tida como progressista dos valores evangélicos.

Expõe sua visão à esquerda em redes sociais, com alusões a Karl Marx, por exemplo. Mensagem destacada em seu Instagram diz que “o amor ao próximo só é possível com ódio de classe”. À reportagem ele se declara um comunista da linha marxista-lenista, que luta por “melhor condição para a classe trabalhadora na sociedade”.

Lopes afirma que, “no fatídico dia”, o sábado (22) em que Bolsonaro foi preso, um pastor que falaria na vigília organizada por Flávio faltou. Viu uma brecha e se apresentou para falar. Então lhe veio à mente uma passagem do livro de Eclesiastes: “Quem abrir uma cova, nela cairá”.

“Fiz a reflexão sobre o conteúdo do texto, trazendo para a nossa realidade”, diz. “Enfim, sou interrompido, a violência começa. E aí tem toda aquela cena que acabou viralizando nos vídeos pelo Brasil.”

Gravações mostram ele andando para fora do ato e sendo perseguido e atacado por alguns bolsonaristas, enquanto outros pedem que ele seja solto e que aquilo seria “uma armadilha” que Lopes montou. Ele é então resgatado por um policial militar.

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