LUANA LISBOA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
A cirurgia para tratar hérnia inguinal, condição de saúde do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), é uma das mais realizadas no mundo e apresenta altas taxas de sucesso entre os pacientes, afirma Diego Adão, professor de cirurgia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Segundo a defesa do ex-presidente, ele precisará de procedimento cirúrgico para correção de hérnia inguinal bilateral, além de intervenções complementares.
As hérnias na região da virilha surgem quando, conforme o envelhecimento, os tecidos ficam frágeis e a região, naturalmente mais fraca, não consegue segurar o intestino dentro do abdômen, e o órgão começa a escorregar para a região do canal inguinal, em direção ao testículo, explica o cirurgião-geral.
“Na região entre o testículo e a região inguinal, o intestino começa a empurrar a parede abdominal e ele faz uma bolinha, um abaulamento, uma fragilidade. É uma perda da resistência da parede abdominal na região da virilha”, afirma.
No caso de Bolsonaro, o problema aconteceu dos dois lados, configurando-se, então, como uma hérnia inguinal bilateral.
A questão tem como fatores de risco tanto o envelhecimento quanto o histórico familiar, tabagismo, desnutrição e a constipação intestinal. Como o ex-presidente passou por vários procedimentos cirúrgicos, o músculo pode ter ficado mais fraco, favorecendo o aparecimento da hérnia.
Para a correção do problema, existem dois grandes procedimentos mais comuns: a cirurgia tradicional, chamada de cirurgia de Lichtenstein, e a técnica por vídeo.
A primeira consiste em identificar a área de maior fragilidade da parede abdominal e colocar uma tela de polipropileno em cima do músculo para repará-lo. A tela estimula um processo inflamatório no corpo, gerando uma cicatriz que torna a região mais “dura”. Na segunda, feita por vídeo, o corpo também recebe a tela, só que por dentro do abdômen, explica Adão. Essa é a mais indicada, porque a recuperação é mais rápida.
No entanto, no caso do ex-presidente, não deve ser a conduta escolhida devido ao fato de que ele já passou por outros problemas nessa região do corpo, afirma.
As cirurgias são consideradas eletivas, ou seja, são programadas, quando o paciente está em uma fase sintomática não complicada, caracterizada por dores e alteração estética. Neste caso, o paciente não consegue fazer esporte sem sentir dor, por exemplo. Já quando a fase é sintomática complicada, a cirurgia é de urgência e deve ser feita o quanto antes.
Embora haja o risco da hérnia aparecer novamente após o procedimento, o médico explica que a taxa de sucesso costuma ser alta, ultrapassando os 90%. A chance de recidiva da hérnia é de 2% a 5%.
Uma segunda complicação que pode surgir, no entanto, é uma dor crônica. “Tem pacientes que não toleram muito a tela e ficam com uma dor ali, ou porque a tela está incomodando ou porque mexeu muito perto do nervo que enerva a região da virilha”, acrescenta.
A maioria dos pacientes volta à vida normal após o primeiro mês, inclusive com retorno a atividades físicas e relações sexuais.