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Política & Poder

Entenda as diferenças dos casos Marielle e Adélio que Bolsonaro usou para contra-atacar Moro e negar interferência na PF

Bolsonaro afirmou que Moro teria se preocupado mais com o caso Marielle do que supostos mandantes do atentado que sofreu em setembro de 2018

Redação Jornal de Brasília

28/04/2020 16h58

Foto: Agência Brasil

O presidente Jair Bolsonaro citou os casos Adélio Bispo e Marielle Franco durante pronunciamento na última sexta, 24, quando tentou rebater as acusações de seu ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. O ex-juiz da Lava Jato afirmou, mais cedo no mesmo dia, que o Planalto estava querendo substituir o comando da Polícia Federal para obter informações privilegiadas sobre investigações em andamento.

Bolsonaro afirmou que Moro teria se preocupado mais com o caso Marielle do que supostos mandantes do atentado que sofreu em setembro de 2018, em Juiz de Fora (MG), durante a campanha eleitoral. “Acho que todas as pessoas de bem no Brasil querem saber. Entendo, me desculpe senhor ex-ministro: entre meu caso e o da Marielle, o meu está muito menos difícil de solucionar. Afinal, o autor foi preso em flagrante de delito”, afirmou o presidente.

No entanto, ao contrário do que alega o Bolsonaro, o caso Adélio Bispo está mais resolvido que o da ex-vereadora carioca. Além do inquérito sobre o atentado estar concluído há dois anos, o réu ter confessado o crime e já ter sido julgado pela Justiça, o único inquérito que ainda tramita ligado à facada está parado aguardando decisão do STF.

O Ministério Público do Rio ainda não identificou a motivação exata do crime, e tampouco os mandantes. Diversas linhas de investigações foram abertas, algumas já até foram deixadas de lado, mas poucas vieram à público. Os dois suspeitos de matar Marielle estão presos preventivamente, mas ainda não foram julgados.

Confira abaixo três pontos sobre o caso Adélio e o caso Marielle Franco:

Adélio agiu sozinho por ‘inconformismo político; Motivação para assassinato de Marielle continua explicação

Adélio Bispo: O inquérito da Polícia Federal sobre a autoria e o ataque de Adélio Bispo contra o então candidato Jair Bolsonaro foi concluído no dia 28 de setembro de 2018 – 22 dias depois do atentado. O relatório assinado pelo delegado da Polícia Federal Rodrigo Moraes Fernandes concluiu que Adélio Bispo agiu sozinho durante o crime e foi motivado por ‘inconformismo político’.

“No que tange à participação ou coautoria no local do evento, a partir das evidências colhidas, descarta-se o envolvimento de terceiros”, escreveu Fernandes.

Além de depoimentos de testemunhas, a PF recolheu imagens de câmeras de segurança do município de Juiz de Fora (MG), como agências bancárias, estabelecimentos comerciais e até imagens gravadas por participantes do ato pró-Bolsonaro. Ao todo, foram 2 terabytes de arquivos, sendo 150 horas de gravação, 1200 fotos, 250 GB de dados de aparelhos telefônicos e de notebooks, 600 documentos, 6000 mil mensagens instantâneas e 1060 mensagens de e-mails.

Marielle Franco: As investigações sobre o atentado contra a vida da vereadora Marielle Franco seguem em andamento pela Polícia Civil (e não pela PF), e são sigilosos, com linhas de apurações sendo descartadas sem que outras sejam divulgadas. Atualmente, dois suspeitos (Ronnie Lessa e Élcio Queiroz) foram presos sob acusação de serem os executores do crime. Ambos negam participação no caso. A dupla será levada a júri popular ainda este ano, em data a ser definida na Justiça.

A motivação para o assassinato de Marielle ainda é desconhecida. Pessoas ligadas à ex-vereadora negam que ela estivesse recebendo ameaças. Uma hipótese aponta que o assassinato teria ligações à grilagem de terras na zona oeste do Rio, outra seria que a morte era um ‘recado’ para o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), de quem era próxima. Uma discussão antiga entre Marielle e Carlos Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro e filho do presidente, levou a Polícia Civil a ouvir pessoas ligadas aos gabinetes.

As investigações do caso já citaram o Escritório do Crime, milícia comandada pelo ex-PM Adriano da Nóbrega, morto em março na Bahia e citado no caso Queiroz. Apesar disso, não foi revelado até que ponto a morte do ex-capitão teria ligações com o Caso Marielle nem tampouco ele foi considerado suspeito de ser executor ou mandante do crime.

Adélio Bispo foi julgado e absolvido; suspeitos de matar Marielle ainda vão à júri popular
Adélio Bispo: O juiz federal Bruno Savino, de Juiz de Fora, absolveu Adélio Bispo do crime em 14 de junho de 2019 por considerá-lo inimputável, ou seja, incapaz de responder pelos próprios atos. Apesar de inicialmente declarar que recorreria da decisão, o presidente Jair Bolsonaro não apresentou nenhum recurso. O mesmo fez o Ministério Público Federal, levando o caso a ser transitado em julgado (concluído).

Adélio foi diagnosticado com Transtorno Delirante Persistente e foi internado na Penitenciária Federal de Segurança Máxima de Campo Grande (MS). Recentemente, a Defensoria Pública e o Ministério Público Federal solicitaram e conseguiram a transferência de Adélio Bispo para o Hospital Psiquiátrico de Custódia Jorge Vaz, em Barbacena (MG), a 170 quilômetros de Belo Horizonte.

O motivo foi a falta de estrutura do presídio de Campo Grande para o tratamento psiquiátrico de Adélio.

Marielle Franco: Rossie Lessa e Elcio Queiroz serão julgados em júri popular, em data a ser definida. A decisão partiu do juiz Gustavo Kalil, da 4ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, tomada a quatro dias antes do crime completar dois anos.

A dupla será julgada por duplo homicídio de Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes e também pela tentativa de assassinato de uma ex-assessora de Marielle que estava no carro no momento do ataque e escapou com vida. Lessa e Élcio estão detidos preventivamente desde março do ano passado.

Na decisão, o juiz afirmou que os dois ‘agiram por motivo torpe, armaram uma emboscada e dificultaram a defesa das vítimas’. A defesa alega que o Ministério Público e a Polícia Civil não apresentaram ‘indícios suficientes de autoria’ para justificar as acusações.

Investigações de Adélio e Marielle não identificaram, até o momento, mandantes dos crimes – nenhuma delas depende de ações da PF atualmente
Adélio Bispo: Apesar da rigorosa investigação do delegado Fernandes concluir que Adélio agiu sozinho, outro inquérito foi aberto para apurar quem financiou a defesa de Adélio. O caso levou à apreensão do celular do ex-advogado do esfaqueador, Zanone Manuel de Oliveira Júnior. A análise dos dados, contudo, não foi realizada, segundo a PF.

Por ordem do desembargador Néviton Guedes, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), foi suspensa a quebra de sigilo do celular do advogado. A decisão atendeu pedido da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que alegou violação da prerrogativa de sigilo profissional.

O caso não está nas mãos da Polícia Federal no momento. A decisão de Néviton Guedes foi submetida ao plenário do TRF-1, que em outubro de 2019 formou maioria para enviar o processo para decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Os autos foram encaminhados em março deste ano.

Marielle Franco: As investigações ainda não chegaram a identificar, até o momento, possíveis mandantes para o crime. Uma hipótese levantada por investigadores em Brasília, encabeçada até pela ex-procuradora-geral da República Raquel Dodge, citava o nome do ex-deputado estadual e conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio Domingos Brazão.

O ex-parlamentar foi citado como integrante de milícia da zona oeste da capital fluminense. Dodge denunciou Brazão e pediu a federalização do caso após uma ‘investigação da investigação’ da Polícia Federal apurar tentativas de obstrução de Justiça por parte da Polícia Civil. A federalização está nas mãos do Superior Tribunal de Justiça, e a tendência, segundo ministros ouvidos reservadamente pelo Estado é manter o caso no Rio de Janeiro.

Investigadores de Brasília citaram o nome do ex-deputado estadual e conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio Domingos Brazão. Ele e sua família são apontados como integrantes de milícias da zona oeste do Rio. No entanto, investigações tocadas por autoridades fluminenses descartam a hipótese de que ele seja o mandante do crime.

Estadão Conteúdo

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