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Política & Poder

Empresa de filho de Lira negocia publicidade com Secom, ministérios, BB e Caixa

Veículos de mídia representados pela Omnia receberam pagamentos para distribuir campanhas da Secom, Saúde e Educação, BB e CEF

FolhaPress

17/06/2023 8h41

Mateus Vargas
Brasília, DF

A empresa Omnia 360, que pertence ao filho do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), intermediou negócios de publicidade nos principais órgãos do governo federal e em bancos públicos.

Veículos de mídia representados pela Omnia receberam pagamentos para distribuir campanhas da Secom (Secretaria de Comunicação Social), dos ministérios da Saúde e Educação, do Banco do Brasil e da Caixa.

A Omnia tem como donos Arthur Lira Filho, 23, e Maria Cavalcante, 25, filha de Luciano Cavalcante, ex-assessor de Lira que foi alvo de operação da Polícia Federal sobre desvios na compra de kits de robótica. Além deles, também é sócia da empresa a publicitária Ana Magalhães.

Dados obtidos com base na LAI (Lei de Acesso à Informação) mostram que empresas de mídia representadas pela Omnia receberam cerca de R$ 6,5 milhões da Saúde, como revelou a Folha.

De acordo com o ministério, os pagamentos foram feitos para as empresas OPL Digital e RZK Digital, ambas clientes de Lira Filho.

As mesmas empresas receberam cerca de R$ 2 milhões da Secom, segundo informações extraídas do painel de despesas da secretaria. A OPL ganhou R$ 1,42 milhão, enquanto a RZK recebeu R$ 594 mil.

Do valor pago pela Secom às empresas, R$ 1,59 milhão foi desembolsado entre 2021 e 2022, na gestão Jair Bolsonaro (PL). Outros R$ 428 mil foram encaminhados em 2023, no primeiro ano do governo Lula (PT).

A OPL também recebeu R$ 114 mil em campanhas de mídia do Ministério da Educação, informou a pasta após pedido baseado na LAI.

Já Caixa e Banco do Brasil não detalham os valores pagos aos veículos contratados por agências publicitárias para produzir e distribuir as campanhas de mídia, mas divulgam uma lista de empresas que participam da execução dessas peças.

A OPL e a RZK estão na relação de veículos pagos em campanhas dos dois bancos em 2022.

A empresa do filho do presidente da Câmara recebe uma parcela do pagamento feito pelas agências contratadas pelo governo e bancos públicos para os veículos de mídia.

O valor é discutido entre a Omnia e a empresa representada. A OPL afirmou que a Omnia recebe 15% dos valores líquidos negociados com as agências do governo, “porcentagem padrão para todos os nossos representantes pelo Brasil”.

A OPL distribui as campanhas publicitárias em celulares, entre outros serviços. Já a RZK tem painéis de LED.

A Omnia também representou interesses de seus clientes em diversos órgãos públicos.

A empresa esteve ao menos duas vezes em 2021 na Secom, segundo registros do site da secretaria. Maria Cavalcante e Ana Magalhães, sócias da Omnia, ainda são citadas em outra agenda da pasta de 2022.

A Caixa afirmou que realizou 16 reuniões com representantes da Omnia, “acompanhados dos responsáveis pelos veículos de divulgação (executivos comerciais)” em 2021 e 2022. Não há registros de acesso em 2023, segundo o banco público.

O Banco do Brasil disse que recebe rotineiramente veículos de comunicação e que “a mesma prática ocorreu com a Omnia”. A instituição não confirmou quantas agendas foram feitas com a empresa de Lira Filho.

Maria Cavalcante também fez quatro visitas ao Ministério do Desenvolvimento Social, todas em 2021. Ela foi registrada no sistema da pasta como representante da “upl digital” em três acessos, e da “Omnis360” em outra ocasião, segundo dados fornecidos após pedido de LAI.

O Desenvolvimento Social não informou se clientes da Omnia receberam verbas de publicidade.

Questionada sobre as negociações em diversos órgãos públicos, a Omnia disse que a atividade de representação comercial “consiste justamente em promover os produtos do representado para o trade do seu setor”.

“Faz parte das atividades da Omnia 360 fazer encontros nas agências de publicidade e apresentar novidades e detalhes técnicos aos anunciantes. Algo corriqueiro nas atividades do mercado publicitário, público e privado”, afirmou a empresa do filho de Arthur Lira.

A OPL disse que está presente em campanhas de clientes de diversos setores. “É natural que esteja também presente em campanhas públicas.”

A RZK foi procurada e não se manifestou. Em nota enviada antes da publicação de reportagem sobre negócios da Omnia na Saúde, a empresa disse que segue a prática “comum de mercado” de atuar com representantes comerciais em locais onde não possui escritório.

Questionado sobre negócios do filho em diversos órgãos públicos, o presidente da Câmara repetiu nota que havia sido enviada anteriormente sobre as atividades da Omnia na Saúde.

Lira disse: “Não há nada de errado no desenvolvimento funcional da empresa do meu filho, e muito menos ingerência minha na sua atividade empresarial”.

O presidente da Câmara é o principal líder do centrão e tem feito declarações públicas criticando a articulação política de Lula. Ele se reuniu com o petista nesta sexta-feira (16).

“Esta Folha querer fazer associação sobre fato político inverídico, no caso solicitar ao Ministério da Saúde, com interesses pessoais, é especulativa, descabida, irresponsável e criminosa. E assim será tratada nas instâncias jurídicas, se for publicada com esse foco”, afirmou ainda o presidente da Câmara.

Lira também disse que “as ilações feitas pela Folha de S.Paulo não são jornalismo”. “Aliás, isso é o antijornalismo.”

Um dos auxiliares mais próximos do presidente da Câmara, Luciano Cavalcante, pai da sócia do filho de Lira, foi exonerado do cargo que ocupava na liderança do PP na Casa após ser alvo da PF.

Cavalcante foi alvo de busca e apreensão realizada em 1º de junho dentro de investigação sobre supostos desvios em contratos de kits de robótica custeados pelo FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) no governo Bolsonaro. As aquisições dos kits foram reveladas pela Folha em 2022.

Uma das suspeitas é que Luciano e sua mulher possam ser beneficiários de valores desviados.

O advogado André Callegari, que defende Cavalcante, afirmou que o auxiliar de Lira “não faz parte dos quadros societários da empresa [Omnia]”. “De modo que jamais atuou em benefício dela, seja no âmbito público ou privado.”

Procurados, a Secom e os ministérios da Educação e do Desenvolvimento Social não se manifestaram.

O BB disse que não mantém contrato com as clientes da Omnia, pois a compra de espaço publicitário é feita pelas agências.

A Caixa afirmou, em nota, que os detalhes de negociações comerciais de publicidade são considerados estratégicos e recebem sigilo.

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