Fábio Zanini e Gulherme Seto
São Paulo, SP
O evento de despedida de João Doria (PSDB) do governo de São Paulo teve diversos elementos de um comício, o que é proibido pela Justiça Eleitoral no atual momento eleitoral.
Além disso, o ato ocorreu dentro de um espaço do governo estadual, o principal auditório do Palácio dos Bandeirantes, e durante um evento oficial, um seminário sobre municípios.
Três atos oficiais foram assinadas por Doria durante o evento, em meio a gritos de guerra e discursos exaltando sua candidatura: foram dois decretos, sobre cidades inteligentes e a criação do distrito turístico de Iguape (SP), e um projeto de lei a respeito da organização das regiões do estado.
Houve ainda a exibição de um vídeo institucional produzido pelo governo do estado exaltando realizações de Doria, como o combate à pandemia e a geração de empregos.
Nas falas ao microfone, foram diversas referências explícitas à campanha.
“Brasil pra frente, Doria presidente”, gritaram os presentes ao auditório, a maioria prefeitos e parlamentares aliados. As falas foram intercaladas com som de bateria de escola de samba e, ao final, chuva de papel picado.
Nos discursos, não houve muita intenção de disfarçar o caráter eleitoral do evento, ao contrário do que procuraram fazer os pré-candidatos Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Peço uma salva de palmas de pé para o futuro presidente do Brasil e governador de São Paulo”, disse o secretário de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi, também presidente do PSDB estadual.
Prefeito de Ribeirão Preto (SP), Duarte Nogueira (PSDB) disse que no auditório estavam “os fazedores, e não os faladores”, referência a Doria e Bolsonaro, respectivamente.
“Estamos ao lado do João e do Rodrigo para avançarmos e não retrocedermos”, afirmou Nogueira.
Presidente da União dos Vereadores do Estado de São Paulo (Uvesp), Sebastião Misiara fez um longo discurso em que criticou abertamente a candidatura do ministro Tarcísio Freitas (Infraestrutura), que deve disputar o governo do estado com apoio de Bolsonaro.
“São Paulo tem de ser governador por quem nasceu nesse chão. É inconcebível que venha alguém de fora querer nos governar, São Paulo não aceita. São Paulo conduz, não é conduzido”, afirmou ao microfone, em referência ao fato de Tarcísio ser carioca.
Em razão do caráter eleitoral do ato, o PT decidiu acionar o Ministério Público Eleitoral por uso da máquina.
“É um absurdo utilizar um ato de renúncia para lançar sua candidatura. O TRE [Tribunal Regional Eleitoral] precisa investigar se não ocorreu abuso e uso da máquina administrativa”, diz Paulo Fiorilo, deputado estadual do PT.