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Política & Poder

Dino determina que SP apresente plano para recompor quadro de pesquisadores de meio ambiente

STF dá 30 dias para governo Tarcísio apresentar plano de recomposição de pesquisadores ambientais em SP

Redação Jornal de Brasília

26/11/2025 13h27

Rosinei Coutinho/SCO/STF

RAMANA RECH
FOLHAPRESS

O governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) deve, em no máximo 30 dias úteis, apresentar um plano para recompor quadros de pesquisadores do estado vinculados ao meio ambiente, definiu o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) e relator do caso, Flávio Dino, na última semana. O plano deve explicitar metas verificáveis, fases de execução, critérios de reposição e prazos para realização de concursos.

A decisão faz parte da ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) 1.201, ajuizada no STF pelo PSOL e de autoria da deputada federal Luciene Cavalcante (PSOL-SP). Na ação, alega-se que o estado de São Paulo e a União realizaram atos e omissões que violam preceitos fundamentais da proteção ambiental.

Isso resultou na decisão proferida no último dia 17. Além do plano de reestruturação, Dino solicitou ao estado de São Paulo a apresentação de um cronograma de implantação e operacionalização do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e do Programa de Regularização Ambiental (PRA). A gestão paulista deve mostrar também o planejamento para cumprir da meta de reflorestar 1,5 milhão de hectares até 2050 e informar sobre outras medidas ambientais.

À União o relator requereu informações sobre as atividades de conservação ambiental, o que inclui multas aplicadas pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).

Em resposta à ADPF, o estado de São Paulo disse que modernizou e fortaleceu órgãos ambientais, “com
consolidação de competências, aumento de dotação orçamentária, ampliação da participação social, reorganização da Fundação Florestal e avanços em estratégias de prevenção a incêndios”.

Em nota enviada à Folha de S.Paulo, a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil) afirmou ser incorreta a alegação de desmonte ambiental e que o déficit de pesquisadores apontado por Dino coincide com o processo de modernização e valorização da carreira iniciado pela atual gestão. Disse ainda que o estado vai apresentar ao ministro as informações solicitadas dentro do prazo.


Na liminar, o relator reconheceu que existe uma redução na área de pesquisa ambiental, o que “compromete a execução adequada das competências constitucionais relacionadas à proteção do meio ambiente”.

Dino destacou que informações obtidas pela Associação dos Pesquisadores do Estados de São Paulo (APqC) demonstram como a redução dos quadros resultou em lacunas no monitoramento das unidades de conservação, fragilizou inventários florestais e impossibilitou o cumprimento de metas internacionais de proteção ambiental. Segundo a APqC, há um funcionário com nível superior na Fundação Florestal para cada 5.500 hectares de unidade de conservação de proteção integral.

Dados do próprio estado mostram uma queda no número de pesquisadores ligados à área ambiental, que ao longo de duas décadas foi de 217 para 115.

O último inventário florestal, realizado entre 2017 e 2019 e divulgado em 2020 pelo extinto Instituto Florestal, aponta que apenas 20% do remanescente de vegetação nativa do estado está dentro das UCs de proteção integral, o que corresponde a 943,8 mil hectares.

Para o ministro, o estado não conseguiu refutar os argumentos que mostram a “omissão estrutural”. Dino citou também a extinção do Instituto Florestal como agravante da perda de expertise.

De acordo com a petição inicial, o fim do Instituto Florestal, que teve suas atribuições transferidas para a Fundação Florestal ligada à Semil, e a unificação do Instituto de Botânica e Geológico “aniquilou todo o Sistema de Pesquisas Públicas Ambientais da administração direta do Estado de São Paulo, e pior, em prazo exíguo”. As medidas foram aprovadas durante a gestão João Doria, por meio da lei estadual n° 17.293, de 2020, que estabelecia medidas de ajuste fiscal.

A deputada Luciene Cavalcante afirmou que o foco central da política de desmonte ambiental é “acabar com a função pública de pesquisadores ambientais”. “O pesquisador não é só um pesquisador cientista, o que é muito importante. Ele é um conservador daquela região. Ele é um fiscalizador da proteção daquele daquele bioma.”

Para ela, a deterioração da política ambiental no estado vem das últimas décadas, mas se agravou na gestão Tarcísio. Isso também por meio das mudanças na carreira científica, sancionadas por ele no dia 3 de novembro, que a gestão defende ser uma modernização e valorização da carreira. Entre as alterações está o fim do regime de trabalho em tempo integral e a instauração da remuneração por regime de subsídio.

A gestão Tarcísio disse que houve aumento de 56,3% do número de projetos em execução de 2021 para 2025 no Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), que unificou o Instituto Geológico e Botânico.

Já a União entrou na ADPF porque existem locais em São Paulo de monitoramento federal, bem como programas de combate a incêndios financiados pelo governo, como o Prevfogo (Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais). Em resposta aos questionamentos da Folha, a AGU (Advocacia Geral da União) declarou: “A União já solicitou subsídios às áreas competentes para se manifestar nos autos dentro do prazo estipulado pelo ministro relator”.

QUEIMADAS EM 2024


A advogada do PSOL Bruna Freitas do Amaral disse que a ADPF foi motivada também pelas queimadas que ocorreram em São Paulo em 2024. A ação tem correlação com o processo 743, que corre no STF e trata das omissões e violações aos preceitos de proteção ao meio ambiente dentro dos biomas amazônia e pantanal.

Movida pelo partido Rede Sustentabilidade, a ADPF 743 endereça as queimadas em 2020. Na época, os incêndios haviam queimado 30% do território do Pantanal na porção brasileira.

“Nós fizemos uma ação específica para São Paulo, porque São Paulo foi fortemente afetado pela crise do ano passado com os incêndios”, disse a advogada. Nessa ADPF, a petição inicial destaca que, entre janeiro e agosto de 2024, houve aumento de 386% dos focos de incêndio em comparação com o mesmo período do ano anterior em São Paulo.

Em 2024, o estado bateu recorde de queimadas da série histórica do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que começou em 1998. O estado teve 3612 queimadas em agosto e 2522 em setembro.

A Semil destacou que São Paulo não esteve entre os dez estados com maior número de focos em 2024 e teve apenas 1,3% de áreas protegidas atingidas pelo fogo.

Neste ano, o número de incêndios foi menor —494 em agosto e 1011 em setembro–, o que pode ter arrefecido em parte a ação, diz a advogada do PSOL. Algumas medidas pleiteadas pela ADPF demandavam certa urgência, como o pedido para aumentar o orçamento de 2025 para a Operação SP sem Fogo, da Defesa Civil, voltado para prevenção e combate a incêndios, e permaneceram sem decisão por parte do magistrado.

“Mas a nossa avaliação é positiva, de que o ministro está atento a essas questões que estão acontecendo em São Paulo”, afirmou a advogada.

Já a Semil argumentou que a Operação SP sem Fogo, que começou em 2023, recebeu “o maior investimento da história de São Paulo” e mobilizou 15 mil profissionais.

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