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Política & Poder

Centrão vê nova janela para chapa presidencial com apoio de Bolsonaro, mas sem Bolsonaros

Centrão vê desgaste da família Bolsonaro após episódio da tornozeleira e busca avançar em articulação por candidatura própria com apoio da direita

Redação Jornal de Brasília

24/11/2025 13h24

Foto: Reprodução/@tarcisiogdf/Instagram

Foto: Reprodução/@tarcisiogdf/Instagram

RANIER BRAGON E MARIANNA HOLANDA
FOLHAPRESS

A prisão preventiva de Jair Bolsonaro (PL) e o episódio envolvendo a violação de sua tornozeleira eletrônica são apontados por integrantes do centrão como uma nova janela de oportunidade para pressionar por uma chapa presidencial em 2026 encabeçada por Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e com um nome do próprio grupo como vice.

Governadores do campo da direita e os partidos de centro e de direita que controlam o Congresso Nacional tentam há meses emplacar a chapa com o apoio de Bolsonaro, essencial para garantir viabilidade eleitoral à empreitada. Os filhos do ex-presidente resistem publicamente à ideia.

As últimas horas, porém, reavivaram o ânimo nessa direção, em especial pela confissão de Bolsonaro em vídeo de que meteu “ferro quente” na tornozeleira e a declaração, neste domingo (23), de que fez isso devido a uma “paranoia” causada por medicamentos.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que ensaiava encabeçar a chapa presidencial, foi peça central na decretação de prisão assinada pelo ministro Alexandre de Moraes, segundo quem a vigília convocada pelo senador tinha intuito secreto de viabilizar uma fuga do pai.

De acordo com integrantes da direita e do centrão, a pretensão presidencial de Flávio, que havia ganhado o aval do deputado federal Eduardo Bolsonaro, se enfraquece. O episódio fez o senador entrar na mira de Moraes, na avaliação de aliados.

Flávio, Eduardo e Carlos tentam manter o controle sobre o espólio eleitoral do pai, o que inclui acusações públicas e nos bastidores contra integrantes da direita, como o próprio Tarcísio e os demais governadores que pleiteiam disputar a Presidência -Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Romeu Zema (Novo-MG) e Ratinho Jr. (PSD-PR).

Carlos e Eduardo, por exemplo, chegaram a dizer em redes sociais que esses governadores agem como “ratos” e “oportunistas” ao pretenderem se lançar com o apoio de Bolsonaro, conquistar o voto de seus eleitores, mas nada fazerem para resolver a sua situação judicial.

A queda de braço na direita não se resume ao cabeça da chapa, mas também ao vice. No mundo de sonhos do centrão, Tarcísio teria como vice alguém do próprio grupo, como o senador Ciro Nogueira (PP-PI) ou a senadora Tereza Cristina (PP-MS). Recentemente, o senador disse ao jornal O Estado de S. Paulo que avisou Bolsonaro de que seu nome não estaria mais à disposição para o cargo.

O ex-presidente já chegou a dizer a aliados que daria apoio a Tarcísio, desde que sua mulher, Michelle, fosse a vice, mas todas essas negociações são marcadas por idas e vindas.

O cuidado do centrão na negociação tem como razão de ser a avaliação consensual no grupo de que um rompimento com Bolsonaro ou uma viagem solo sem o seu apoio teria enorme chance de fracassar nas urnas.

Por isso, publicamente os principais integrantes do grupo foram a público criticar a decisão de Moraes e prestar solidariedade ao ex-presidente.

Nos bastidores, há promessas direcionadas à família de que caso não haja empecilhos graves ao projeto do grupo, isso facilitaria o trabalho de tentar diminuir as penas do ex-presidente no Congresso, articular um cenário do Supremo para concessão de prisão domiciliar e, a médio prazo, em caso de vitória em 2026, viabiliza a anistia geral no próximo mandato.

Nos últimos dias, mesmo antes da decretação da prisão preventiva de Bolsonaro, parte do centrão e o PL voltaram a pressionar pela votação no Congresso do projeto que reduz as penas dos condenados por atos golpistas, e que reduziria o tempo de regime fechado de Bolsonaro de 6 anos e 10 meses para algo em torno de 2 a 3 anos.

Bolsonaro foi condenado a 27 anos e três meses de prisão pelo STF por cinco crimes, como líder da trama golpista. Outros sete réus foram condenados a penas que vão de 2 a 26 anos de reclusão. Além deles, centenas de pessoas foram punidas pelos atos do 8 de Janeiro.

A confissão de Bolsonaro de que tentou violar a própria tornozeleira dificulta o andamento do projeto da anistia na Câmara, segundo integrantes do centrão. Inicialmente, quando todos os detalhes da prisão ainda não haviam sido divulgados, a percepção era de que havia exagero na decisão de Moraes e uma proposta de redução de penas ganharia força.

Diante da divulgação do vídeo horas depois, o entendimento de lideranças do centrão é de não haver clima para votação da proposta, que já vinha enfrentando dificuldade no Congresso.

Aliados do ex-presidente dizem que o objetivo é postergar ao máximo um bater do martelo sobre 2026 sob o argumento de que, assim que isso ocorrer, Bolsonaro será colocado de vez em segundo plano. Isso em um momento de fragilização e de muita restrição às suas articulações políticas.

As próximas semanas e meses serão decisivas na definição do nome da direita que irá enfrentar a possível tentativa de reeleição de Lula (PT) -ou dos nomes da direita, caso o campo não chegue a um entendimento e resolva lançar nomes de forma pulverizada.

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