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Política & Poder

Câmara vê cassação de Brazão como irreversível, mas descarta acelerar processo

Presidente de conselho promete rigor, mas afirma que não atropelará ritos que preveem limite de 90 dias para analisar o caso

Redação Jornal de Brasília

14/04/2024 15h12

VICTORIA AZEVEDO E MATHEUS TEIXEIRA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

A decisão de manter Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) preso não deve acelerar a análise do pedido de cassação do deputado no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, segundo parlamentares ouvidos pela reportagem.

Na quarta-feira (10), o plenário da Casa manteve a prisão do deputado, que é acusado de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), em 2018.

O presidente do colegiado, deputado Leur Lomanto Júnior (União Brasil-BA), afirmou à Folha que o caso será analisado “com rigor”, mas que não irá atropelar ritos regimentais para acelerar o processo.

Apesar disso, nos bastidores da Casa a cassação de Brazão é dada como certa. A avaliação de deputados é que ele só conseguirá reverter sua situação caso surja um fato novo muito contundente, o que, até o momento, não foi visto.

Entre os 34 integrantes do Conselho de Ética (incluindo titulares e suplentes), o placar foi dividido: 17 votaram pela manutenção da prisão, 9 pela revogação, 4 se ausentaram e 4 se abstiveram.

A forma como se posicionaram em relação à decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de mandar prender o deputado, porém, não deve ser parâmetro para a votação da cassação.

Isso porque diversos parlamentares que anunciaram voto pela derrubada da prisão afirmaram que, posteriormente, serão favoráveis a retirar o mandato do colega.

O movimento contra a prisão ocorreu para dar um recado ao Supremo e preservar prerrogativas de parlamentares, que preveem poucas situações em que um deputado pode ser preso.

Integrantes do PL que votaram contra a detenção, por exemplo, já declararam publicamente que são contrários à interferência do STF em mandatos da Câmara, mas favoráveis à cassação de Brazão.

Acelerar o processo, no entanto, está descartado. Deputados afirmam que apesar de se tratar de um caso de grande dimensão, o rito não será atropelado. Eles afirmam ainda que é necessário seguir os procedimentos até mesmo para evitar uma eventual nulidade do processo mais adiante.

Segundo o Código de Ética, o processo não pode exceder 90 dias e há uma série de prazos a serem cumpridos no período –apresentação de parecer, defesa do deputado e votação.

O órgão tem caráter consultivo. Caso decida recomendar a cassação, ela só ocorrerá com o apoio, no plenário da Câmara, de ao menos 257 dos 513 deputados.

O deputado Leur Lomanto Júnior afirmou à Folha que não haverá “qualquer tipo de interferência partidária e política” na atuação do conselho.

“Não existe possibilidade de nenhum tipo de interferência partidária e política no Conselho de Ética. Os membros agem com isenção. Eles têm mandato eletivo de dois anos e não podem ser substituídos por líderes. Tenho certeza que todos irão analisar o processo e cada um tomará a sua decisão de acordo com a sua consciência.”

Ele também diz que haverá seriedade e a garantia do “direito da ampla defesa do representado, cumprindo todos os procedimentos do regimento interno da Câmara”.

O colegiado instaurou o processo de cassação na última quarta-feira. O pedido foi apresentado pelo PSOL no dia 27 de março.

Na sessão, foram sorteados três nomes para ser relator do pedido: Bruno Ganem (Podemos-SP), Ricardo Ayres (Republicanos-TO) e Gabriel Mota (Republicanos-RR). Nesta semana, Lomanto Júnior escolherá um desses nomes para relatar o processo.

Ayres e Ganem votaram favoráveis à manutenção da prisão de Brazão na quarta, enquanto Mota se ausentou. O colegiado é formado por 21 titulares e 21 suplentes. Até hoje, no entanto, só foram designados 34 deles.

Na comissão, o deputado acusado de ser um dos mandantes da morte de Marielle terá espaço para apresentar sua defesa. O relator, por sua vez, apresentará um relatório para defender ou não a cassação de Brazão.

O parlamentar foi preso em 24 de março junto com seu irmão, o conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado) do Rio Domingos Brazão, e o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil no Rio. Eles negam envolvimento com o crime.

“Eu, como vereador, com uma relação muito boa com a vereadora, é só entrar na Câmara municipal e pegar, ver onde ainda tiverem imagens”, disse o deputado, em sessão no Congresso no último dia 26 na qual participou na prisão por videoconferência.

A operação para detê-los ocorreu em um domingo para surpreender os suspeitos porque havia indícios de que eles poderiam tentar fugir.

Além das prisões, a polícia também cumpriu 12 mandados de busca e apreensão, todos no Rio. A detenção ocorreu por ordem do ministro Alexandre de Moraes e, depois, foi referendada pela Primeira Turma do STF.

A operação da PF foi desencadeada apenas cinco dias após o ministro homologar a delação premiada do ex-policial Ronnie Lessa, suspeito de ser o executor do crime.

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