O presidente Jair Bolsonaro distorceu, na segunda-feira (22), uma fala de um enviado especial da Organização Mundial de Saúde (OMS), David Nabarro, para criticar o lockdown, medida de prevenção à covid-19. Segundo Bolsonaro, Nabarro se colocou contra o isolamento, o que não é verdade.
Bolsonaro usou uma fala de Nabarro, que diz: “Realmente apelamos a todos os líderes mundiais: pare de usar o lockdown como seu método de controle primário [da covid]”. Com isso, o presidente se escorou na fala de um cientista para defender suas teses. “Eu devo mudar o meu discurso? Eu devo me tornar mais maleável? Devo ceder?”, questionou. Veja o vídeo:
No entanto, na entrevista original, Nabarro disse que era preciso encontrar uma forma de retomar a vida social sem que isso significasse aumento no número de casos e mortes pela covid-19. Como o não-isolamento na conjuntura atual do Brasil configura diretamente na alta de pacientes infectados, a fala acabou sendo distorcida por Bolsonaro.
Em outubro do ano passado, no entanto, a OMS já havia dito à revista Veja que nunca advogou por lockdown nacional.
Na cerimônia, Bolsonaro disse que “topa [adotar]” a política de confinamento no Brasil “se [a população] ficar em lockdown por 30 dias e acabar com vírus”, o que, segundo ele, não acontecerá.
“Vamos buscar maneira de atender à população, vamos. Parece que, no mundo todo, só no Brasil está morrendo gente. Lamento o número de mortes, qualquer morte. Não sabemos quando isso vai acabar, se vai acabar um dia. Na Itália, está vindo a 3ª onda. Vão ficar fechados até quando?”, declarou.
O presidente também citou estudos sem mostrá-los. “Pesquisas sérias dos Estados Unidos mostram que a maior parte da população contraiu o vírus em casa”, completou ele, sem citar fontes. Bolsonaro disse que só mudaria o seu discurso contra políticas de isolamento se fosse convencido da eficácia dessas ações.