Renato Machado e Marianna Holanda
Brasília, DF
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pediu mais diplomacia e menos intervenção armada para solucionar guerras no mundo e comparou o conflito na Ucrânia a outros mais longos como os da Palestina e do Iêmen.
Ao lado da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, com quem se reuniu durante uma hora no Palácio do Planalto nesta segunda-feira (12), Lula criticou ainda, de maneira indireta, grandes potências ocidentais ao apontar uma suposta seletividade no combate às consequências das guerras.
“Precisamos de mais diplomacia e menos intervenções armadas na Ucrânia, na Palestina, no Iêmen. O horrores da guerra e o sofrimento que ela provoca não podem ser tratados de forma seletiva. Os princípios basilares do direito internacional valem para todos”, disse o presidente.
O Iêmen, um dos países mais pobres do mundo, vive há décadas uma guerra civil, que é largamente influenciada pelas grandes potências da região, que armam os diferentes lados do conflito. Os rebeldes houthis, que ocuparam a capital, são patrocinados por forças iranianas, enquanto a Arábia Saudita apoia o governo central do país.
A Palestina, por sua vez, disputa território com Israel desde a criação do Estado israelense em 1948. A população palestina passa por uma série de crises, já descritas por entidades de defesa de direitos humanos como uma espécie de apartheid liderado por Tel Aviv.
Lula também voltou a afirmar que a solução para a Guerra da Ucrânia não pode ser dar por ações militares –ele já criticou publicamente os Estados Unidos e a União Europeia ao afirmar que as potências estariam apenas prolongando o conflito ao apoiar Kiev por meio da entrega de armas e equipamentos bélicos.
“A volta da guerra ao coração da Europa reflete a complexidade dos desafios dos tempos em que vivemos. Lembrei à presidente Von der Leyen que o Brasil votou a favor de resoluções na ONU que condenaram a invasão da Ucrânia pela Rússia”, disse. “Reiterei nosso empenho em busca da paz, evitando a escalada da guerra e do uso da força e seus riscos incalculáveis. Não há solução militar para esse conflito.”
Von der Leyen, por sua vez, disse que o impacto do conflito vai “muito além de fronteiras”. “O Brasil pode ajudar a combate essa guerra. Queremos paz duradoura, abrangente e justa. Discutimos a fórmula do [presidente da Ucrânia Volodimir] Zelenski para a paz. O Brasil terá papel importante a desempenhar como presidente do próximo G20 e pode contar com todo o nosso apoio”, disse, em sua declaração no Planalto.
Na política externa, Lula tem tentado se posicionar como um potencial negociador para encerrar a guerra entre Rússia e Ucrânia. O brasileiro tinha o objetivo de montar um “clube da paz”, fórum de países vistos como neutros por Brasília que serviriam como facilitadores do diálogo entre Kiev e Moscou.
A neutralidade do Brasil, no entanto, começou a ser questionada, principalmente por lideranças ocidentais, devido a declarações do próprio Lula. Comentários equiparando responsabilidades entre Zelenski e Putin, por exemplo, fizeram os posicionamentos do brasileiro serem vistos como mais inclinados a Moscou.