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Política & Poder

Amigos por 40 anos, Fraga se afasta de Bolsonaro após morte da esposa por covid

A morte da esposa afastou a família de Fraga do bolsonarismo e os fez repensar a postura do presidente diante as mortes causadas pela doença

Redação Jornal de Brasília

13/09/2021 15h26

Foto: Divulgação

Grande amigo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o ex-deputado Alberto Fraga (DEM-DF), cortou relações com Bolsonaro após 40 anos de amizade. A decisão foi tomada após sua esposa, Mirta, 56 anos, falecer devido a covid-19. A morte da esposa afastou a família de Fraga do bolsonarismo e os fez repensar a postura do presidente diante as mortes causadas pela doença.

O ex-amigo de vida e política do chefe do executivo concedeu uma entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, onde da mais detalhes sobre o rompimento. Fraga diz que bloqueou Bolsonaro no Whatsapp, além de se ressentir com o mandatário pela morte da esposa, ele afirma que não entende “essa falta de sensibilidade do presidente com relação à morte das pessoas”.

A amizade entre os dois começou em 1980, ano em que ambos frequentaram a Escola de Educação Física do Exército, no Rio. Após a saída da escola, os dois se tornaram deputados e sentavam lado a lado. Já quando o colega se tornou chefe do Executivo, Fraga o encontrava com frequência no Palácio da Alvorada. Esse é mais um grande parceiro que Bolsonaro perde.

Fraga contou que ele e a esposa pegaram covid juntos, e foram internados também juntos. No entanto, os casos tiveram evoluções diferentes. “Ela teve pneumonia viral. Ficou 73 dias internada e veio a óbito em virtude do pulmão não ter se recuperado. O sentimento mais comum de todos nós que passamos uma situação dessa é que gostaríamos de ter tido a vacina o mais rápido possível. E a gente sabe que a vacina foi politizada. Esse foi o grande problema. Enquanto se disputava politicamente quem era o pai da criança, a população ficou sem vacina. Com isso, evidentemente muitas pessoas vieram a óbito porque não tiveram a oportunidade de se vacinar”, disse.

Fraga afirmou ainda que o maior problema foi a politização da vacina. Ao ser questionado sobre como exergava o termo, o parlamentar disse que, mesmo enxergando a necessidade da vacina, Bolsonaro não quis dar o braço a torcer. “Bolsonaro quando percebeu que havia a necessidade da vacina não quis dar o braço a torcer. Porque o mérito ficaria para o Doria (governador de São Paulo). Isso fez com que as coisas se complicassem mais.”.

Ao ser questionado sobre sua posição quanto a pandemia antes de ser infectado, o coronel da reserva da PM do Distrito Federal disse que sempre achou a vacina algo importante. “Eu disse algumas vezes que a economia se recuperava. As vidas não. Isso fez com que, em diversas situações, eu fosse me decepcionando com algumas posturas”.

“Eu não consigo entender essa falta de sensibilidade do presidente com relação à morte das pessoas”

Expoente da bancada da bala, Fraga contou que não se afastou de Bolsonaro assim que a esposa adoeceu. Os dois chegaram a trocar mensagens sobre a condição de Mirta. “Conversamos algumas vezes, principalmente nas madrugadas. Ele acorda cedo mesmo. Eu expliquei para ele a situação da minha esposa e a minha situação. E diante disso foi quando eu me afastei.”, contou.

O rompimento veio logo após, questionado se está rompido com Bolsonaro, Fraga disse que justamente para não estragar a longeva amizade preferiu se afastar. “Em hipótese alguma eu posso culpar o presidente pela morte da minha mulher. Nunca insinuei isso, mas achei por bem me afastar, não romper. Sempre fui amigo do Jair Messias Bolsonaro. Nunca fui amigo do presidente”. Bolsonaro não chegou a ir no enterro da mulher do amigo. Fraga chegou a contar que, se ele tivesse ido, teria dado problema. “Até porque se ele fosse, ia dar problema. Muita gente na família ficou com raiva dele”, afirmou.

Tentando encontrar um motivo do porquê Bolsonaro age assim diante das mortes, o ex-deputado relembrou a morte do senador Major Olimpio, em março deste ano, em decorrência da doença. “Tudo começou com a morte do (senador) Major Olímpio (em decorrência da covid-19). Os filhos até se solidarizaram. Mas ele (Bolsonaro) foi incapaz de dizer uma palavra. Ali ele já mostrou insensibilidade. Deus foi tão bondoso com ele (Bolsonaro) que ele não teve nenhuma perda. Os que tiveram têm uma visão diferenciada dessa questão.”, relembrou.

‘Bolsonaro escolheu muito mal seus conselheiros’

O ex-deputado chegou a ser cotado para assumir um ministério, ele passava por uma acusação de ter usado um cargo público para exigir propina de uma cooperativa de transportes e foi absolvido em março do ano passado. Segundo Fraga, quando a absolvição chegou, os convites desapareceram.

“Bolsonaro escolheu muito mal seus conselheiros. Tem um general aí que está mais para puxar saco do que para ser conselheiro de governo. O presidente precisa se cercar de pessoas que falem: ‘isso vai dar errado’. Um general não vai falar: ‘presidente, não faça isso porque pode dar problema’. Ele vê na figura do presidente o chefe supremo das Forças Armadas “, contou.

Segundo Fraga, o presidente “não gosta de ser contrariado” e o general Luiz Eduardo Ramos, atual ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, responde todas as ordens do chefe do executivo. “O presidente precisa se cercar de pessoas com visão de política, que não pensem pequeno.”

Ele avalia que o impeachment é possível caso haja “algum tipo de esgarçamento na relação entre o Centrão e Bolsonaro”. Ele diz que Bolsonaro deveria ter usado as manifestações de 7 de setembro para passar uma imagem positiva. “Não gostei do discurso do presidente. Exagerou na dose. Pronunciou coisas que era impossível de realizar. Pedir para Fux [presidente do (STF) Supremo Tribunal Federal] tirar Alexandre de Moraes… Isso não existe.” O ex-parlamentar afirmou ainda que “não existe a menor chance de as polícias se insurgirem”, algo que foi preocupação nas vésperas do Dia da Independência.

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