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Política & Poder

Amazônia pode mudar ‘lugar subalterno’ de fornecedor de matéria-prima, diz Lula em cúpula

O presidente brasileiro afirmou que a cúpula deve discutir e promover uma visão de desenvolvimento sustentável na região

Redação Jornal de Brasília

08/08/2023 15h33

Belém (PA), 08.08.2023 – Presidente Lula participa da reunião dos Chefes de Estado e de Governo dos países signatários do Tratado de Cooperação Amazônica (TCA), em Belém (PA). Foto: Ricardo Stuckert/PR Foto: Ricardo Stuckert/PR

ANA CAROLINA AMARAL
BELÉM, PA (FOLHAPRESS)

Ao iniciar o discurso de chefes de Estado na Cúpula da Amazônia, que começou nesta terça (8) em Belém, o presidente Lula (PT) declarou que a questão amazônica é um passaporte para os países da região saírem de um lugar “subalterno” de fornecedores de matéria-prima.

“Em um sistema internacional que não foi construído por nós, foi-nos reservado historicamente o lugar subalterno de fornecedores de matérias-primas. A transição ecológica justa nos permite mudar esse quadro”, afirmou o presidente em sua segunda fala no evento.

“A Amazônia é nosso passaporte para uma nova relação com o mundo -uma relação mais simétrica, na qual nossos recursos não serão explorados em benefício de poucos, mas valorizados e colocados a serviço de todos”, acrescentou. “Todo mundo fala da Amazônia. Agora é a Amazônia que levanta sua voz para falar ao mundo”, concluiu.

Mais cedo, Lula abriu a cúpula com um rápido discurso, cumprimentando líderes presentes na reunião e informando a agenda da manhã, que inclui falas de chefes de Estado da Bolívia, Peru e Guiana e a representação diplomática da Venezuela.

“Fortaleceremos o lugar dos países detentores das florestas tropicais na agenda global, desde o tema das mudanças climáticas até a reforma do sistema financeiro global”, afirmou o presidente na abertura.

O encontro conta com a presença de quatro dos oito chefes de Estado dos países da OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica). Estão no evento os presidentes da Bolívia, Luis Arce; da Colômbia, Gustavo Petro; do Peru, Dina Boluarte e o primeiro-ministro da Guiana, Mark-Anthony Phillips.

“Desde que o acordo da OTCA foi assinado, os chefes de Estado só se encontraram três vezes. Há 14 anos não nos reuníamos. É a primeira vez que o fazemos diante do extremo agravamento das mudanças climáticas”, afirmou Lula, acrescentando que a cooperação nunca foi tão urgente, pois os desafios demandam ação conjunta dos países.

Em uma mudança de planos, a Venezuela cancelou a vinda do ditador Nicolás Maduro e enviou a vice, Delcy Rodriguez. Já Equador e Suriname enviaram os seus ministros de relações exteriores, respectivamente Gustavo Miranda e Albert Randim.

O presidente brasileiro afirmou que a cúpula deve discutir e promover uma visão de desenvolvimento sustentável na região, combinando a preservação ambiental com emprego digno e os direitos de quem vive na Amazônia. Citou ainda a necessidade de combater o crime internacional e valorizar povos indígenas e conhecimentos ancestrais.

Outro objetivo apontado por Lula é o fortalecimento da OTCA. “É o único bloco do mundo que nasceu com missão socioambiental”, afirmou. “Poderemos assegurar que nossa visão de desenvolvimento sustentável terá vida longa.”

PRESIDENTE DESTACA QUEDA NO DESMATAMENTO E CRITICA GESTÃO PASSADA

Após a abertura, Lula passou a palavra ao governador do Pará, Helder Barbalho, à secretária da OTCA, María Alexandra Moreira López, e a seis representantes da sociedade civil organizada. Em seguida, retomou a fala abrindo os discursos de chefes de Estado.

Ao final do dia, os representantes dos países amazônicos devem assinar a Declaração de Belém, com o objetivo de fortalecer a cooperação regional, especialmente no setor de florestas e combate a crimes.

Lula adiantou anúncios que o documento trará, como a criação de um painel científico da Amazônia, que orientará políticas dos governos da região, e a do Centro de Cooperação Policial Internacional, com sede em Manaus, para que países integrem inteligência e esforço policial no combate a crimes na região.

Ao mencionar que quer compartilhar benefícios dos seus esforços com vizinhos amazônicos, Lula reforçou feitos recentes, como a queda de mais 40% do desmatamento na Amazônia nos primeiros sete meses do governo -e também de suas gestões anteriores.

“Entre 2004 e 2012, reduzimos o desmatamento na Amazônia em 83% e evitamos que 4 bilhões de toneladas de CO2 fossem emitidas na atmosfera. Essa foi a maior contribuição feita por um país para redução dos gases de efeito estufa oriundos do desmatamento até hoje”, disse.

O presidente ainda criticou o antecessor, lembrando a política de desmonte ambiental conduzida por Jair Bolsonaro (PL).

“Na tribuna da ONU, o Brasil ressuscitou noções de um nacionalismo primitivo e responsabilizou ‘índios e caboclos’ pelas queimadas provocadas pela ação humana. Nos tornamos um pária entre as nações e nos afastamos de nossa própria região”, declarou, sobre o período bolsonarista.

O QUE É A CÚPULA

Na quarta-feira (9), o encontro deve receber líderes de outros países florestais, como República do Congo, Indonésia, República Democrática do Congo, além de diplomatas dos países doadores do Fundo Amazônia, Alemanha e Noruega.

A Cúpula da Amazônia tem o objetivo inicial de discutir questões socioambientais entre os países amazônicos.

A ideia do encontro foi apresentada pelo então presidente eleito Lula em discurso feito no ano passado durante a COP27, em Sharm El-Sheikh, no Egito. Em abril deste ano, houve a concretização da ideia com o agendamento do evento.

A proposta é reunir os países-membros da OTCA. Além desses, outras nações também foram convidadas para o evento. O presidente francês, Emmanuel Macron, por exemplo, havia sido convidado para a cúpula (afinal, a Guiana Francesa tem em seu território -que é parte da França- parte da floresta amazônica), mas não virá ao encontro.

Oficialmente, o governo diz que a cúpula serve para fortalecer a OTCA e para a “definição de uma posição em comum pelos países em desenvolvimento que detêm reservas florestais”. Ao final do evento, é esperado a assinatura de um tratado conjunto.

Além de autoridades, nomes da sociedade civil têm atuado com propostas para embasar e direcionar as discussões na cúpula.

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