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Política & Poder

Alexandre Guerra propõe “tesourada geral” nas secretarias e em nomeações

Arquivo Geral

19/06/2018 7h00

Foto:João Stangherlin/Jornal de Brasília.

Camila Costa, Francisco Dutra e Jorge Eduardo Antunes
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Corte de secretarias, comissionados e nada de tomá-lá-dá-cá são propostas centrais do pré-candidato ao Governo do Distrito Federal (GDF), Alexandre Guerra (Partido Novo). Propondo uma gestão liberal, o jovem dirigente da cadeia de restaurantes Giraffas, projeto a construção do Estado Necessário. Neste sentido, planeja aumentar a arrecadação de Brasília destravando a roda do setor produtivo. A máquina pública focará em saúde, educação e segurança e cortará “gorduras”, especialmente nas estatais. Parcerias e novos modelos de gestão estão no radar de uma eventual gestão, como exemplo do Instituto Hospital de Base de Brasília. Mesmo descartando alianças e com pouco tempo de televisão no horário eleitoral, Guerra promete o bom combate pelas urnas de outubro, seja nas ruas, seja nas redes.

Como pretende enfrentar o desemprego no DF?

A gente tem o setor de incorporação e infraestrutura. Sempre foi um grande empregador. Já chegou a empregar perto de 100 mil pessoas. Hoje emprega 20 mil. Se você colocar essa população no mercado de trabalho, consegue em um curto prazo a fazer girar a roda da economia de novo. A gente tem uma posição geográfica privilegiada. A gente poderia ser um hub logístico de escoamento da produção brasileira. A gente tem uma cidade monumental, com uma grande vocação para o comercio, serviços e turismo. E outra que a gente chama de Brasília Digital. Temos uma grande vocação para o setor de tecnologia. Um dos maiores compradores de tecnologia da América Latina chama-se Governo Federal, que está aqui dentro da capital federal, o que é um grande privilégio. Não adianta a gente ficar dependendo da máquina pública. Temos que incentivar a iniciativa privada.

Estado Mínimo no DF?

A gente nem fala de Estado Mínimo. Isso gera uma falsa interpretação. A gente usa mais Estado Necessário, ou Estado Essencial. O Estado tem que se concentrar nas atividades fundamentais de que a população precisa, que são saúde, segurança e educação. Hoje o Estado tenta fazer muitas coisas e não faz o que é importante para a população. Exemplo: a gente gastou R$ 2 bilhões com o Estádio Mané Garrincha. Coloca o custo disso por habitante no DF. Quantas pessoas tiveram a oportunidade de conhecer o estádio? Mesmo assim, conhecendo o estádio, será que isso era o mais importante para a vida delas? Esse é um exemplo de coisas que custam muito para nós contribuintes e não são importantes para a população.

Como fazer isso?

As secretarias e as regiões administrativas não podem ficar em função de troca-troca político. Não dá. Nas secretarias você precisa ter pessoas com capacidade e qualidade naquele tema. Hoje você vê as secretarias distribuídas entre amigos, entre derrotados políticos e candidatos. A gente precisa ter grandes e fortes secretarias com pessoas fortes para gerir esse sistema. São mais de 31 regiões administrativas e são usadas de forma política. Eu estive um dia no Paranoá e descobri que foi trocado seis vezes o administrador regional. Seis vezes em três anos e meio. Não teve administração. E foi trocado seis vezes por que? Questões políticas. Entre a Câmara Legislativa. E chegamos em um absurdo maior. A mudança de objetivo, a confusão de objetivo entre Executivo e Legislativo. Um governador eleito terceiriza para a Câmara Legislativa uma instância que é do Poder Executivo. A Câmara que é eleita para legislar e fiscalizar assume uma fatia do Executivo. Isso é inadmissível.

Deputados indicarão secretário ou administradores em um governo seu?

Não.

Será um gestão técnica?

Se a gente muda o arranjo político, consegue dar mais eficiência na gestão, até nas atividades essenciais. A gente acredita muito que os servidor tem que ser protagonista nesta mudança. Muitas vezes as soluções dos problemas estão dentro das secretarias. A liderança que vem em cima de indicações políticas acaba atrapalhando a execução do trabalho dos servidores. A gente tem 17 mil cargos comissionados no DF. Isso tem que ser reduzido.

Como será a relação com a Câmara Legislativa?

O que chamam de governabilidade é na verdade o contrário disso. Você tem Poder Executivo que terceiriza para a Câmara parte de uma atividade que é função dele. Isso não funciona. Nossa gestão pública no DF está desse jeito justamente por conta dos arranjos. Sem mudança nesse arranjo, as pessoas podem escolher um lado ou outro, mas a vida não vai mudar. A gente acredita que precisa de um governo com dialogo com a Câmara Legislativa. A gente vai estar aberto ao dialogo com todas as lideranças políticas, independentemente do partido. A única coisa que a gente vai fazer é como se fosse um marco regulatório. Existia uma regra daqui para trás e terá uma nova. Essa regra nova será escolhida pela população. A gente vai ter legitimidade, porque esse é a nossa proposta. A partir dai teremos portas abertas para forças políticas que entrem nesse novo acordo político, respeitando a vontade e os interesses da população. Se tem um deputado distrital eleito pela Ceilândia, que representa a população, a gente vai ter muito prazer de recebê-lo para ouvir o que a população de Ceilândia precisa. Para entendermos o que essa população precisa e junto com esse deputado, ofereceremos esse avanço para a cidade, para as pessoas.

Qual sua avaliação do modelo do Instituto Hospital de Base?

É um modelo que tem que ser testado mesmo. Nesse ponto, sou favorável a testar esse modelo dentro do Hospital de Base. É muito cedo para dizer se está tendo resultados positivos ou negativos. Mas realmente você consegue facilitar bastante a gestão de um hospital, liberando ele da Lei 8.666. A gente tem outro modelo super bem visto, em questão de gestão, que é o Hospital da Criança. O que precisa tomar muito cuidado é que nessas parcerias entre público e privado, muitas vezes tem muito espaço para corrupção e desvio. Falando do modelo em si, sou bastante favorável, tem que ser testado. Não é uma mudança do público para o privado. É uma parceria. Se der certo, acho que podemos experimentar em outros hospitais.

GDF empresarial?

A gente quer implantar práticas da gestão executiva dentro do governo público. Por exemplo, a gente quer colocar pessoas capazes para liderar as secretarias, administrações administrativas. Duvido que um dono de empresa coloque um amigo, alguém incompetente para liderar a empresa dele, se ele precisa dos resultados dessa empresa para sobreviver. A gente precisa ter metas e objetivos. Olha esse tanto de secretaria. Outro dia perguntei para um secretário: qual é o objetivo da secretaria? Ele não soube responder. Muitas vezes a secretaria é autofágica. Ela existe para si auto sustentar, mas não gera uma contra-partida para o cidadão.

Pretende reduzir o número de secretarias?

A gente está fazendo o estudo, mas certamente teremos uma redução do número de secretarias. A gente acha que é excessivo o número de hoje. Muitas secretarias não têm funções claras. A gente acredita que se, algumas atividades funcionarem de forma junta e integrada, vão ter mais eficiência. Muitas vezes, a gente vê secretarias aí brigando pela liderança dentro do Poder Público.

Quais suas propostas para segurança?

A gente tem uma diferença muito grande do que é segurança no Plano Piloto e o que é segurança nas demais cidades. Enquanto a gente níveis de segurança perto de países europeus em Brasília, perto de zero mortes por habitantes no Plano Piloto, vemos uma situação de guerra em outras cidades. Você tem que colocar a força de segurança aonde está o problema e incentivar para que o policial esteja nas regiões mais problemáticas. A gente é muito a favor de uma policia de proximidade, o policial tem que estar perto da população. Tem a questão da implantação de tecnologia e a integração entre a Polícia Civil e Militar. Temos estruturar e dar condições para a policia trabalhar.

Educação?

Os primeiros mil dias de vida são momentos de grande oportunidade dentro do desenvolvimento cerebral da criança. Muitas vezes a criança fica até os 5 anos desamparada em relação à educação. Hoje a gente não tem creches para todas as crianças que precisam. Isso é um primeiro ponto a ser atacado. Temos que rever a metodologia de ensino do ensino fundamental e médio. As crianças têm escola o que precisa ser visto é a qualidade dessa sala de aula, que na minha visão precisa ser muito melhorada. Aí existem muitas maneiras, a implantação de material didático único, para compararmos o desempenho das escolas. Temos que rever essa questão da progressão automática do ensino. Na minha época, lembro que estudava muito para as provas porque, se não, repetia o ano. Não sei porque tiraram isso. Ela passa de ano automaticamente. Acho que isso tem que ser revisto. Por último temos a questão do ensino médio técnico. Isso tem que ser aplicado no DF. O jovem tem que poder escolher para sair do ensino médio já preparado para o mercado de trabalho.

O Novo tem propostas de esquerda, direita mas diz liberal. Qual é a posição do partido?

A gente não é nem de direita e nem de esquerda. A gente é para frente. Muitas vezes caímos nesse ideologismo de discussões bastante afloradas, mas que na realidade não levam a lugar nenhum. Temos que parar com isso. Isso inclusive ocorre entre secretarias do próprio DF. Temos que olhar para o que já deu certo, implantar e ir para frente. A gente é liberal. Defendemos a liberdade dos indivíduos. O agente de transformação da sociedade é o indivíduo.

O DF perdeu muitas empresas para outros estados. Como você avalia o ambiente de negócios?

Terrível. A gente tem um governo que muitas vezes tem um certo preconceito para o desenvolvimento. A gente tem um ambiente de negócios muito ruim no DF. Acabei de ver em Taguatinga um empreendimento para mil moradias. Está pronto. E está há quatro anos parado, esperando o Habite-se. Quatro anos e nisso você tem 80% de distrato. Como é que fica o empresário que colocou milhões de reais ali? Isso é um exemplo de deficiência que a gente tem. E a gente acaba de perder empresas para outros estados. Já conversei com vários presidentes de multinacionais que gostariam de vir para o DF, mas infelizmente estão indo para outros estados porque não encontraram um ambiente negócios favorável aqui.

Impostos?

A gente defende menos impostos na economia. Mas é demagogia falar em redução de impostos, sem antes vir redução de custeio. Antes tem que vir a redução de custeio, senão a gente gera um déficit absurdo e essa conta vai acabar para a população de qualquer jeito. O dinheiro não nasce em árvore. A gente R$ 42 bilhões de orçamento, considerando o repasse da União, 77% desse orçamento é comprometido com folha de pagamento. É terrível a questão fiscal do DF.

Como equilibrar o Estado?

Um: redução de cargos comissionados. Outro, a gente tem que olhar para as estatais. Em 2016, se somar o balanço de todas as estatais, a gente teve R$ 1 bilhão de prejuízo. Agora em 2018, você tem previsto no orçamento de R$ 42 bilhões, R$ 1 bilhão para as estatais do DF. A gente encontra uma Terracap que custa R$ 400 milhões por ano. Custa muito. E a gente tem que fazer uma política pública olhando uma lógica de futuro dessa folha de pagamento, não de quatro anos. A gente tem que reduzir o Estado proporcionalmente. Se a gente crescer o setor privado, proporcionalmente a gente vai reduzir o impacto do Poder Público dentro da economia. A gente tem que falar no aumento de receita do GDF. Não com aumento de impostos, muito pelo contrário. Mas com atração de empresas e investimentos para a nossa cidade. A gente precisa fazer que a economia dela cresça.

Redução da maioridade penal?

Eu sou a favor da redução. A gente vê isso dando certo em vários locais do mundo. Sou a favor porque o jovem de 16 anos, hoje, já tem capacidade de compreensão em relação aos crimes que venha a cometer. Essa faixa de 16 a 18 anos muitas vezes é incentivada a cometer crimes justamente porque é beneficiada. A nossa legislação é muito beneficiária do infrator. Esquece a vítima. É exemplo da impunidade geral no Brasil. Sou super favorável a uma revisão geral da legislação no nosso Brasil.

Como ganhar eleição com pouco dinheiro, sem alianças e pouco tempo de TV?

A gente ganha eleição com propósito. E esse ano a gente vai mostrar isso para a velha política. A gente vai ganhar mostrando para a população o nosso propósito. Isso já aconteceu em outras eleições no DF. A gente tem o exemplo do senador Reguffe, que, com R$ 400 mil, R$ 500 mil, fazendo discurso diferente ganhou de outros dois candidatos com mais de R$ 10 milhões e R$ 15 milhões na campanha.

Ele perdeu muitas antes de ganhar. Está indo para perder essa eleição?

Não. Faremos as eleições do Reguffe em três meses. Não é o Alexandre Guerra. São 60 pré-candidatos para todas as vagas. A gente fez um projeto seletivo com 350 pessoas. Pessoas competentes das mais diversas áreas passaram por ele. O Novo é o maior partido digital do Brasil e o sétimo do mundo. São 1,8 milhão de seguidores. A velha política não está acostumada com isso. Mostraremos o que é uma proposta na rua atrelada a rede social com engajamento.

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