Eric Zambon e Jorge Eduardo Antunes
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Nascido em Luziânia (GO), na Região Metropolitana do DF, em 4 de agosto de 1936, Joaquim Domingos Roriz iniciou sua trajetória política como vereador do município. Foi eleito em 1971, permanecendo dois anos na cadeira. Em 1978, foi eleito deputado estadual pelo PMDB goiano. Em 1980, foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT) em Luziânia, mas logo retornou ao PMDB, por onde se elegeu, em 1982, deputado federal por Goiás.
Nas eleições de 1986, Roriz foi eleito vice-governador do estado, na chapa de Henrique Santillo, que o indicou para ser o interventor na Prefeitura de Goiânia, entre dezembro de 1987 e outubro de 1988. Ao sair do cargo, foi indicado pelo então presidente José Sarney para ser governador do Distrito Federal, que ainda não era eleito pela população. Ficou no cargo entre 17 de outubro de 1988 e 15 de março de 1990. Começava aí uma longa relação com a capital.
Para voltar ao poder pelo voto, Roriz ocupou, por duas semanas, o cargo de ministro da Agricultura e Reforma Agrária no governo Collor, renunciando para disputar o GDF. Houve contestação dos adversários, pelo fato de ter sido governador no ano do pleito, mas o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) validou sua candidatura já que Roriz fora nomeado, e não eleito – ainda não havia o instituto político da reeleição.
Filiado ao extinto Partido Trabalhista Renovador (PTR), após costurar uma aliança política que colocou Márcia Kubitschek, filha de Juscelino Kubitschek, como sua vice, Roriz se tornou o primeiro governador do DF eleito pelo voto direto. Obteve 366.035 votos (55,49%), elegendo-se em primeiro turno e derrotando Carlos Saraiva (PT), Maurício Corrêa (PDT), o ex-governador Elmo Serejo (PL) e Adolfo Lopes (PTdoB). Mas não conseguiu eleger seu sucessor, Valmir Campelo, e entregou o GDF ao então petista Cristovam Buarque.
A volta ao poder veio em 1998, em eleição polarizada. O então governador petista Cristovam Buarque, que tinha como vice Sigmaringa Seixas, formou uma ampla aliança com partidos ligados à esquerda (PT, PDT, PCdoB, PCB, PSB, PV, PMN e PSN), e obteve 426.312 votos (42,67%), contra os 391.906 (39,23%) da chapa Joaquim Roriz e Benedito Domingos, que formavam uma frente mais à direita, com PMDB, PPB, PTdoB, Prona, PST, PRN, PRP e PSD. No segundo turno, Cristovam liderava as pesquisas até a véspera das eleições, mas, abertas as urnas, Roriz foi eleito governador pelo PMDB, vencendo uma eleição apertada: teve 537.753 (51,74%), contra 501.523 (48,26%), dados a Cristovam.
Em 2002, Roriz disputou outra eleição apertada. Tendo Maria de Lourdes Abadia (então no PSDB) como vice, ele obteve 521.083 (42,98%) no primeiro turno, contra 495.498 (40,87%) dados a Geraldo Magela e Katea Puttini, da chapa petista. Em parte, a eleição foi atrapalhada pela ruptura com o ex-vice-governador Benedito Domingos (PPB), que chegou em terceiro, com 88.119 (7,27%). Curiosamente, o quarto colocado naquele pleito foi Rodrigo Rollemberg (PSB), que teve 82.369 votos (6,79%). Repetiu-se o quadro de polarização no segundo turno, mas Roriz levou, em outra eleição apertada, obtendo 642.256 votos (50,62%), contra 626.478 (49,38%) dados a Magela.
Em seus anos de governo, Joaquim Roriz fundou diversas cidades-satélites, como Samambaia, construiu grandes obras, como a Ponte JK, viadutos e o Metrô de Brasília. Assentou milhares de moradores de invasões, o que provocou, indiretamente, um adensamento populacional no DF. Deixou o GDF em 2006, para disputar uma vaga de senador. Abadia assumiu o lugar, mas não conseguiu se eleger, perdendo o cargo de governadora para José Roberto Arruda. Roriz obteve 657.217 votos (51,83%), batendo Agnelo Queiroz (então no PCdoB), que somou 544.313 votos (42,93%).
Assumiu o cargo em em 1º de fevereiro de 2007, mas renunciaria em 4 de julho do mesmo ano, após ter seu nome envolvido no escândalo do BRB, para não ser cassado, o que implicaria na perda dos direitos políticos. Mesmo alegando inocência, saiu de cena e deu lugar ao seu suplente, Gim Argello, então no PTB.
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Em 2010, já não estava mais no PMDB, que havia deixado um ano antes, e tentou se candidatar ao Buriti, mas teve a pretensão barrada pela Justiça por conta da Lei da Ficha Limpa, ratificada naquele mesmo ano. Pela legislação, candidatos condenados por órgãos colegiados ou que renunciaram aos mandatos para escapar de punições estariam inelegíveis por pelo menos oito anos, e Roriz foi enquadrado, mesmo tendo renunciado antes da promulgação da norma. Sua esposa, Weslian Roriz, disputou o pleito em seu lugar, mas perdeu para Agnelo Queiroz, já no PT, no segundo turno.
Em 2015, mesmo ano em que recebeu o título de Cidadão Honorário de Brasília, foi condenado em segunda instância e viu sua carreira política ser encerrada, já que a decisão previa mais cinco anos sem direitos políticos. Dois anos depois, no entanto, deixou de ser réu por formação de quadrilha e peculato porque os crimes prescreveram. Mas, já bastante adoentado, não teve mais forças para disputar eleições.
Roriz permanece muito popular e vários candidatos se valem de seu legado nas eleições de 2018. Seu neto, também chamado Joaquim Roriz (PROS), tenta uma cadeira de deputado federal, enquanto Eliana Pedrosa (PROS) é considerada herdeira política do ex-governador. Há ainda parentes mais distantes como Dedé Roriz (PHS) e Paulo Roriz (PSDB), que enfatizam seus sobrenomes para a campanha, apesar da pouca proximidade com o núcleo familiar. E Tadeu Filippelli (MDB) usa imagens de seu tempo como secretário de Obras do governo Roriz na publicidade eleitoral.
No meio político, aliados consideram Roriz um visionário e mesmo adversários reconhecem sua importância para a cidade. O ex-governador deixa sua esposa Weslian Roriz (PMN), que é suplente de senador na atual eleição, três filhas, dentre elas a deputada distrital Liliane e a ex-federal Jaqueline, e quatro netos.