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Política & Poder

A grande falta que ele faz para o Brasil de hoje

Morte de Juscelino completa 45 anos no domingo. Por um longo tempo muitas dúvidas pairaram sobre se o ex-presidente teria sido vítima de fatalidade ou de atentado

Redação Jornal de Brasília

20/08/2021 6h14

Hylda Cavalcanti
[email protected]

A morte do fundador de Brasília, o ex-presidente Juscelino Kubitscheck, completa 45 anos neste domingo e costuma ser lembrada por familiares, políticos, pioneiros, boa parte dos candangos que chegaram à capital do país para ajudar a construir a cidade, assim como todos os que aqui nasceram ou para cá migraram nas últimas décadas, já que JK é tido como um patrimônio de Brasília e do Distrito Federal. Mas essa data, para além das homenagens, ainda faz imperar uma dúvida sobre as verdadeiras causas do acidente que vitimou a ele e seu fiel motorista, Geraldo Ribeiro, na Via Dutra, no Estado do Rio de Janeiro, em 1976.

Não era para ser assim. Boa parte dessa dúvida foi sanada em 2014, quando a Comissão Nacional da Verdade anunciou que, depois de dois anos de investigações, o acidente não foi fruto de um atentado. O relatório é oficial, mas há quem considere o tema uma polêmica até hoje, uma vez que um ano antes, uma investigação da Câmara Municipal de São Paulo tinha constatado o oposto: que o acidente tinha sido um atentado.

“Ainda vejo muita confusão atrás de tudo isso. São dois relatórios de entidades sérias e embora a Comissão Nacional tenha feito uma investigação rigorosa, alguns depoimentos dados na Câmara paulistana acenderam em nós uma luz amarela até hoje”, afirma a socióloga aposentada Marta Ferreira, moradora do Guará, que conheceu Juscelino.

“O relatório ajudou a esclarecer vários pontos. A dúvida impera, a meu ver, porque não sei se os brasileiros, em especial os brasilienses, conseguirão acabar de vez com essa polêmica devido à grandiosidade de JK até hoje para eles”, ressaltou, também, o cientista político e analista legislativo do Senado Alexandre Ramalho – que acompanhou as últimas investigações.

De fato, o documento da Comissão Nacional da Verdade até pode ser tido como mais atual, mais completo e mais rigoroso. Mas a questão por trás de tudo está no personagem. Chamado de presidente Bossa Nova, JK é a marca do Brasil desenvolvimentista, num tempo em que tudo era otimismo e perspectiva de crescimento.

Só nos dois primeiros anos do seu governo, conforme dados de estudos diversos, o número de estradas pavimentadas no Brasil cresceu 300%, a quantidade de indústrias triplicou e passou a empregar dez vezes mais gente. Além disso, para abastecer de energia as novas indústrias, foram construídas as hidrelétricas de Furnas e Três Marias e a economia passou a colecionar recordes.

Na avaliação feita pelo jornalista Claudio Bojunga, autor do livro “JK: o Artista do Impossível”, “além de rimar crescimento econômico com liberdade, Juscelino tinha um compromisso com o sonho e com a imaginação”.

Nas investigações sobre o acidente, ficou constatado que o Opala que seu motorista dirigia e que levava o ex-presidente colidiu frontalmente com uma carreta, após ter sido atingido por um ônibus. “Não há nos documentos, laudos e fotografias analisados qualquer elemento material que, sequer, sugira que Juscelino e Geraldo Ribeiro tenham sido assassinados, vítimas de homicídio doloso. Eles morreram em virtude de um acidente de trânsito”, afirmou o relatório da Comissão Nacional da Verdade.

Já as apurações dos vereadores da Câmara Municipal de São Paulo concluiu que a morte de Juscelino havia sido provocada por um atentado planejado pelos militares que comandavam o país. Na época, o motorista do ônibus que bateu contra o Opala, Josias de Oliveira, chegou a afirmar ao colegiado municipal que ofereceram a ele uma mala de dinheiro para que assumisse a culpa pelo acidente.

Muitas especulações

Brasil, Resende, RJ. 24/08/1976. Automóvel acidentado de Juscelino Kubitschek, nas proximidades de Resende no Rio de Janeiro. Pasta: 48701 – Crédito:ARQUIVO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE

Na divulgação do último relatório, o então coordenador da Comissão Nacional da Verdade Pedro Dallari disse que estava muito seguro das conclusões dos peritos e que a equipe da comissão não tinha ficado convencida sobre os argumentos apresentados pelo relatório da Câmara de São Paulo desde o início.

Uma das dúvidas parte do fato de o corpo do motorista Geraldo Ribeiro, depois de exumado, ter apresentado uma perfuração no crânio similar a de um tiro de arma de fogo – que foi levado em considerações pela investigação paulistana. Segundo a Comissão Nacional, ficou comprovado depois que o fragmento metálico era, na verdade, um cravo metálico utilizado para fixar revestimento de caixões e tinha sido provocado por conta do transporte do corpo exumado, e não uma bala.

Outra suspeita que durou anos se deu porque muitos passageiros do ônibus que colidiu com o Opala na parte lateral contaram não terem percebido a batida. Com base em laudos feitos da época, os peritos avaliaram que no caso de um ônibus de 12 toneladas, fazendo uma frenagem, é difícil alguém perceber que encostou em algum lugar.

Também foram analisadas fotos antigas das marcas do asfalto que mostraram a trajetória do carro de JK depois de atingido pelo ônibus. A batida com o ônibus fez Geraldo perder o controle da direção. Ele chegou a tentar recuperar esse controle e iniciar um retorno para a pista onde estava, mas não deu tempo: antes disso, o carro colidiu com um caminhão que vinha em direção contrária, levando à morte dele e do ex-presidente.

Dessa forma, o Brasil perdeu o homem que representou um dos seus maiores sonhos de crescimento e otimismo.

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