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Opinião

Trânsito: A Educação é a Solução!

Nenhuma medida traz mais retorno ao trânsito seguro que o investimento em educação, que é um processo de transmissão, reflexão e construção de novos conhecimentos

Redação Jornal de Brasília

10/05/2021 14h30

Foto: Renato Araujo/Agência Brasília

Por Mônica Soares Velloso*

O acidente de trânsito é, talvez, o mais abrangente entre todas as formas de violência urbana. Qualquer um de nós, ao sairmos de nossas casas, passamos imediatamente a ser motorista, passageiro, ciclista ou pedestre. E, neste momento, infelizmente passamos a correr o risco de fazer parte da triste estatística de vítimas do trânsito.

Nosso país figura no cenário internacional como um dos mais violentos no trânsito. De fato, enfrentamos graves entraves para reduzir os dramáticos índices de acidentes. A maioria das cidades não está preparada para fazer a gestão adequada do seu trânsito e, mesmo quando os órgãos gestores trabalham seus esforços no sentido de melhorar esta lamentável situação, muitas vezes o fazem de maneira equivocada ou acanhada.

É importante ter em mente que um acidente de trânsito não ocorre em função de uma única causa. Conhecer seus reais motivos é de extrema valia, pois é a partir deste entendimento pleno que medidas de engenharia, fiscalização ou educativas, conhecidas como o “tripé do trânsito”, podem ser colocadas em prática.

Na vertente da engenharia de tráfego, são os especialistas que definem a velocidade regulamentar de uma rua ou avenida, baseado em estudos, normalmente precedidos de uma ampla e consistente coleta de dados, com posterior análise das condições do tráfego, da via e do ambiente viário. No entanto, em muitas situações, o motorista tem dificuldade em avaliar todas as implicações que a velocidade da via exerce sobre a sua segurança. O excesso de velocidade praticado por alguns motoristas é um dos fatores contribuintes mais comuns da frequência e da gravidade dos acidentes de trânsito. Quanto maior a velocidade do veículo, menor é o tempo que o motorista tem para reagir frente a um fator de perigo, ou mesmo para esperar por uma reação vinda dos outros usuários.

Reduzir a velocidade das vias também é medida de engenharia, e tem se revelado como uma ação de resultado no que tange a soluções que visam reduzir o número de mortos e feridos. Para tanto, várias estratégias podem ser utilizadas. Algumas delas tratam da moderação de tráfego, que são medidas projetadas com vistas a “acalmar o trânsito”. O uso de ondulações transversais (quebra-molas), a adoção de técnicas de estreitamento de vias, a implementação de ruas exclusivas para pedestres e a construção de chicanas, são algumas das ideias que os órgãos gestores podem adotar em uma cidade, principalmente nos bairros residenciais. A moderação de tráfego, pois, tem se mostrado bastante eficiente em várias cidades do mundo, principalmente ao se considerar que ela, por si só, já é efetiva, dispensando investimento com medidas de fiscalização.

Quando o foco é a fiscalização, é sabido que os gestores de trânsito têm a obrigação de assegurar o cumprimento da lei na promoção do trânsito seguro. E, o efeito da aplicação da lei sobre o comportamento dos condutores guarda uma estreita relação entre frequência e aquiescência. Esta afirmação é comprovada pela psicologia social, cujos estudos demonstram que uma ação de fiscalização de trânsito duradoura deflagra um processo de dissonância cognitiva, que vem a ser o desconforto causado no indivíduo pelo fato de praticar um ato que contraria sua autoimagem, obrigando-o a enfrentar a discrepância entre o que ele pensa e como ele age.

No entanto, ouso aqui afirmar que nenhuma medida traz mais retorno ao trânsito seguro que o investimento em educação. A educação para o trânsito é um processo de transmissão, reflexão e construção de novos conhecimentos, visando à formação de cidadãos cientes de sua importância e agentes na realização de um trânsito humano e cooperativo. Educar para o trânsito é a chave do entendimento de que segurança é questão de atitude social, partindo do princípio que somente uma pessoa esclarecida muda de fato seu comportamento e o mundo à sua volta.

Importante lembrar que nosso Código de Trânsito Brasileiro dedica um capítulo exclusivamente voltado à Educação para o Trânsito, e, em seu artigo 74, estabelece que a Educação para o Trânsito é direito de todos e constitui dever prioritário para os componentes do Sistema Nacional de Trânsito. Além do CTB, o documento dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) sugere o trânsito como tema transversal local, reforçando a importância das escolas no sentido de desenvolver atividades que possibilitem a análise e a reflexão sobre o trânsito. Apesar disso, poucas são as ações rotineiras de educação para o trânsito no Brasil, e o que se percebe, é que as medidas educativas perdem sua eficácia, por não serem acompanhadas por um processo de avaliação.

Para finalizar, conclamo a todos que estão envolvidos com o MAIO AMARELO que tenham em mente que Educar para Prevenir é um conceito básico para solucionar a tragédia urbana que vivemos, e que, o processo deve envolver toda a população. Qualquer forma de educar para o trânsito, seja ensinando crianças nas escolas, seja na veiculação de campanhas para o público adulto, é sempre bem-vinda.

De nossa parte, devemos dar o exemplo nas ruas, agindo de forma educada, respeitando as leis de trânsito, disseminando o bom comportamento junto aos nossos filhos, pais e amigos.

Mônica Soares Velloso é Especialista em Segurança no Trânsito e professora do CEUB

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