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Opinião

O desafiador mercado de trabalho para as mulheres

De acordo com pesquisa realizada com mulheres em cargos de alta liderança, o sucesso profissional para elas vem acompanhado de sofrimento

Redação Jornal de Brasília

12/11/2022 8h19

Por Silvina Ramal*

Sucesso profissional é sinônimo de felicidade? Não para as mulheres. Segundo pesquisa realizada com mulheres em cargos de alta liderança, publicada na revista Harvard Business Review, o sucesso profissional para elas vem acompanhado de sofrimento. “Quanto mais alto eu subo, mais sofro”, declara uma das entrevistadas na pesquisa. Por que mulheres que são consideradas modelos e inspiração estão infelizes? Detalho abaixo quatro fatores que contribuem para isso.

Em primeiro lugar, as mulheres se exigem perfeição. O motivo é que existe ainda um viés inconsciente que as classifica como menos competentes em comparação com homens que têm formação semelhante. Então elas precisam provar o tempo todo que merecem o cargo onde estão. Que mulher nunca passou horas revisando notas para uma reunião ou treinando cinquenta vezes uma apresentação, para ver em seguida que seus pares apenas improvisaram? Além de se preparar em dobro, a mulher nunca relaxa a guarda. Mesmo em tempos tranquilos, mantém-se em prontidão para assegurar que nada, absolutamente nada, dê errado. Homens são mais tolerantes com os próprios erros.

Em segundo lugar, o ambiente de trabalho ainda é muito masculino. Não poderia ser diferente, ele foi construído ao longo de muitos anos por homens, de modo que eles se sentissem confortáveis e adaptados para trabalhar. Para vencer na cultura corporativa, ainda predominantemente masculina, as mulheres precisam adaptar-se, vestindo um personagem que possa ser aceito e respeitado. É claro que todos nós temos personagens para diferentes situações, isso é da natureza das pessoas. Temos um personagem como familiares, outro como amigos, e outro ainda quando somos por exemplo profissionais, professores ou figuras públicas. No entanto, quando o personagem do profissionalismo exige eliminar parte importante de nossa personalidade e espontaneidade, ele se torna muito cansativo e pesado de carregar.

Outro ponto importante é o sacrifício exigido das mulheres para ascender na carreira. Mulheres têm tendência a assumir mais responsabilidades do que aquelas definidas em seu cargo. Talvez isso venha de sua própria natureza, acostumada no ambiente doméstico a fazer com destreza tarefas diversas ao mesmo tempo. É provável que, inconscientemente, se espere o mesmo desempenho nos ambientes profissionais.

O último ponto que merece destaque é o fato de que, para uma mulher sentir-se realizada, precisa constituir uma família estruturada paralelamente à carreira profissional. Mas isso implica em gerenciar uma casa, visto que nossa sociedade ainda vê a mulher como principal responsável por tarefas domésticas.

Nos Estados Unidos, 70% dos homens bem-sucedidos têm esposas que cuidam da casa, mas só 22% das mulheres têm maridos dedicados ao lar. Acredito que no Brasil o número de maridos dedicados às tarefas domésticas seja ainda menor. Acumular os papéis de “profissional perfeita”, “esposa perfeita” e “mãe perfeita” talvez seja inviável, e olhe que nem incluímos “filha perfeita” e “amiga perfeita”, presente em muitos casos. Tenho consciência de que mulheres que leem este artigo acumulem ainda outros papéis de “perfeita” em suas vidas. Mas com certeza o acúmulo de tantos papéis onde se exige perfeição é esgotante, receita certa para o alto estresse e enfraquecimento da saúde.

Como ser feliz no topo? Conhecer esses desafios já é importante, pois o primeiro passo para gerenciar um problema é tomar consciência dele. Por outro lado, devemos honrar o que existe de heroico na situação vivida atualmente. As mulheres estão desbravando um terreno nunca trilhado. Assim como minha geração encontrou o terreno preparado por antecessoras, sei que estamos deixando um caminho bem mais amigável para as novas gerações, que por sua vez pavimentarão caminhos adicionais para as mulheres do futuro.

É provável que nossas gerações sejam vistas com muito respeito por gerações vindouras, por seu trabalho de conquista de espaço no mercado de trabalho. Mas no momento presente, temos que destacar que é extenuante e bem desafiador.

SILVINA RAMAL – Mestre em Administração de Empresas pela PUC RJ – Empreendedora – Pós graduada em comércio internacional pela UFRJ. – Autora de 11 livros sobre empreendedorismo e gestão – “Como Transformar seu Talento em um Negócio de Sucesso” “Mulheres Líderes e Empreendedorss” .

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