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Opinião

Inovação social como recurso para a resiliência na pandemia

O momento nos pede resiliência, que é a capacidade de resistir a adversidades e de se recuperar, voltando ao estado normal: o próximo normal

Redação Jornal de Brasília

17/03/2021 10h25

Gabriel Cardoso*

O momento nos pede resiliência, que é a capacidade de resistir a adversidades e de se recuperar, voltando ao estado normal: o próximo normal.

As mudanças repentinas e profundas em questões sanitárias, comportamentais, econômicas e sociais — só para ficar em alguns campos — criou e aprofundou os problemas públicos brasileiros, exigindo de nós, pessoas e organizações, resiliência. Mas não só isso: tais adversidades também incentivaram, multiplicaram e favoreceram o surgimento de um esforço coletivo na busca de novos caminhos e meios para enfrentar tais problemas. A isso damos o nome de inovação social.

A inovação social acontece no surgimento de novos serviços, processos, produtos e atividades que buscam atender a uma necessidade social. Quando falamos que existe uma necessidade social, significa que há um grupo de pessoas que enfrenta uma situação cotidiana que gera dor, sofrimento e/ou injustiça, o que caracteriza um problema social. Tais problemas sociais podem ser, por exemplo, nas áreas da educação, habitação, segurança, empregabilidade e saúde.

A pandemia aprofundou os problemas sociais, mas também acelerou a inovação social no Brasil e no mundo. De forma coordenada ou descentralizada, local ou nacional, incremental ou radical, disruptiva ou regenerativa: assistimos, junto aos estragos da pandemia, a energia e o movimento de empreendedores, empresas, organizações, universidades e governos para desenvolver e implementar serviços, processos e produtos que enfrentassem as consequências sociais da pandemia.

Por exemplo: empreendedores sociais e negócios de impacto desenvolveram uma máquina para desinfeção de ambientes (Bioguard); um catálogo digital de livros para alunos da rede pública (Árvore de Livros); e um bazar social que gera renda e sustentabilidade para as comunidades (Gerando Falcões).

“E o governo?”, você talvez se pergunte. A administração pública também propôs novas soluções para problemas sociais, como uma plataforma em que organizações oferecem serviços e produtos gratuitos ou em caráter de emergência (Todos para Todos); um sistema de telemonitoramento de sintomas da Covid (prefeitura de Niterói); ou uma rede que recuperou respiradores parados em 330 municípios (Senai).

Grandes empresas também inovaram socialmente. A Ambev transformou caixas térmicas para cerveja em transportadoras de vacina; a Magalu desenvolveu em cinco dias uma plataforma digital de vendas para ajudar autônomos e micro varejistas; e o Instituto Sabin ofereceu um programa de aceleração remoto para empreendedores sociais, de organizações da sociedade civil, voltado também ao enfrentamento dos impactos negativos da pandemia.

Nas universidades, o cenário não foi diferente e assistimos os primeiros faceshields feitos em impressoras 3D, entregues aos médicos e enfermeiros; vimos máscaras com material transparente para garantir a acessibilidade na comunicação; conhecemos diferentes tipos de protótipos de respiradores artificiais; e tivemos acesso a um corpo relevante de conhecimento sobre os sintomas, características e perfil da doença, contribuindo para o seu enfrentamento.

Apesar dos exemplos mostrarem a inovação social, ocorrendo em recortes de setores da sociedade e da economia, é na inter-relação desses atores que ela tem mais chances de prosperar. É por meio de um trabalho em rede, colaborativo, sistêmico, polifônico, multi e interdisciplinar que a inovação social é mais provável, podendo oferecer às pessoas, comunidades, organizações e aos territórios a capacidade de resistir a adversidades e de se recuperar.

Se em tempos de pandemia e incerteza, a inovação social é uma ferramenta que contribui para resiliência de nossa sociedade, como podemos incentivá-la e criar outras condições para que floresça, ainda mais, em nosso país?

*Gabriel Cardoso é gerente executivo do Instituto Sabin, é mestre em Educação; 21st century educator (TAMK – Finlândia); especialista em Economia Brasileira para Negócios (USP); especialista-docente em Gestão de Projetos; e Administrador.

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