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Washington registra novo envio de tropas russas à fronteira com Ucrânia

Segundo fonte, Moscou pode “a qualquer momento” lançar uma operação que lhe serviria de “pretexto falso” para invadir a Ucrânia

Redação Jornal de Brasília

17/02/2022 5h34

Apesar da promessa russa de desescalada, Washington acusou nesta quarta-feira (16) o Kremlin de enviar pelo menos 7.000 militares a mais à fronteira com a Ucrânia, no momento em que o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, prometeu que seu país resistirá a qualquer invasão.

“De fato, confirmamos que nos últimos dias a Rússia aumentou sua presença ao longo da fronteira ucraniana em até 7.000 soldados, alguns dos quais chegaram hoje”, afirmou um alto funcionário a repórteres, pedindo anonimato.

Segundo esta fonte, Moscou pode “a qualquer momento” lançar uma operação que lhe serviria de “pretexto falso” para invadir a Ucrânia, como uma falsa “incursão” em território russo.

“Esperamos que o mundo esteja pronto”, alertou.

Nesta quarta-feira, Zelenski assistiu a algumas manobras militares perto de Rivné, no oeste, onde uma fileira de veículos foi destruída por mísseis e vários blindados dispararam em meio a um deserto amarelado.

Depois, viajou para a cidade de Mariupol, a última cidade do leste controlada pelo governo. É considerada um dos territórios sob ameaça em caso de invasão, já que está a quase 20 quilômetros dos separatistas pró-russos que mantêm um conflito armado.

“Não temos medo de nenhuma eventualidade, não temos medo de ninguém, de nenhum inimigo”, disse Zelenski, que vestia um casaco verde de estilo militar. “Nós nos defenderemos”. “Protejam seu país”, insistiu.

Em solidariedade a Zelenski, o embaixador da União Europeia na Ucrânia, Matti Maasikas, e os embaixadores da Espanha, Estônia, Polônia e Alemanha também se deslocaram para Mariupol.

Mas o presidente ucraniano negou ter observado qualquer indício de que as tropas russas estejam se retirando.

“Estamos vendo pequenas rotações. Não chamaria essas rotações de uma retirada das forças por parte da Rússia”, comentou na televisão. “Não vemos nenhuma mudança”, acrescentou.

Devido ao “Dia da Unidade”, muitas ruas de Kiev estão cheias de bandeiras. Em algumas escolas da capital, foram organizados exercícios de retirada.

Essas manifestações patrióticas coincidiram com o apelo do Kremlin por “negociações sérias” com os Estados Unidos, enquanto líderes europeus continuam pedindo uma solução negociada para a crise.

‘Nova normalidade’

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, que presidiu uma reunião dos ministros da Defesa da Aliança em Bruxelas, descartou que a ameaça na fronteira tenha diminuído, depois que a Rússia afirmou que começou a retirar seus soldados.

O responsável anunciou que a Otan reforçará suas defesas no leste da Europa com mais mobilizações em seus países-membros fronteiriços com a Ucrânia.

Nesta quarta-feira, centenas de paraquedistas dos Estados Unidos chegaram ao aeroporto de Rsezsow, na Polônia, um país-membro da Otan.

Stoltenberg denunciou a “nova normalidade para a segurança” na Europa imposta pela Rússia, que consiste em “contestar os princípios fundamentais com o uso da força”.

Sobre as supostas retiradas dos soldados russos, declarou: “Não verificamos nenhuma desescalada no terreno até agora. Pelo contrário, parece que a Rússia continua reforçando sua presença militar”.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse à rede ABC News que Washington não viu “uma retirada significativa” das tropas russas.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse que há “poucas provas” de uma retirada russa. Após uma conversa por telefone com o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, os dois líderes concordaram que uma invasão russa teria “consequências catastróficas”.

O ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, afirmou que a Rússia mantêm “tantas forças” como antes na fronteira com a Ucrânia e que os anúncios de Moscou devem “ser verificados”.

Os líderes da União Europeia planejam participar de uma reunião nesta quinta-feira na qual discutirão a situação na Ucrânia.

Aposta diplomática

A mobilização de mais de 100.000 soldados russos na fronteira com a Ucrânia foi classificada pelos Estados Unidos como um risco de uma invasão iminente e é considerada a pior crise de segurança na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Os ocidentais alertaram que aplicariam novas sanções econômicas em massa contra a Rússia em caso de ofensiva, o que o Kremlin nega querer fazer.

O Exército russo anunciou que concluiu seus exercícios e que seus soldados estavam se retirando da península anexada da Crimeia, no sul da Ucrânia, publicando um vídeo que mostra uma retirada das tropas e do arsenal militar em um trem.

Belarus também afirmou que todos os soldados russos mobilizados em seu território no marco de manobras abandonarão o país em 20 de fevereiro, enquanto os exercícios terminam.

Os Estados Unidos pediram mais provas dessa desescalada, embora o presidente Joe Biden tenha estendido a mão e se declarado aberto a encontrar uma solução pela via diplomática, um anúncio aplaudido pelo porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

“O presidente dos Estados Unidos também ter expressado sua disposição a negociações sérias é algo positivo”, afirmou.

O governo russo lamenta que os ocidentais tenham rejeitado suas principais exigências, como pedir que a Otan acabe com sua política de expansão e que proíba uma eventual adesão da Ucrânia à Aliança Atlântica, além da retirada da infraestrutura militar da Otan do leste da Europa.

Os ocidentais propuseram iniciar um diálogo sobre questões como o controle do armamento.

© Agence France-Presse

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