Menu
Mundo

Vitória apertada de historiador sem experiência divide Polônia e preocupa líderes europeus

O resultado foi realmente apertado, 50,89% a 49,11%, confirmando a polarização da sociedade polonesa, vista com preocupação por analistas

Redação Jornal de Brasília

02/06/2025 18h42

poland politics vote

Foto: SERGEI GAPON/ AFP

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS)

“Estamos confiantes de que as reformas iniciadas pelo governo polonês serão levadas adiante e continuarão.” O otimismo demonstrado pela porta-voz da Comissão Europeia, nesta segunda-feira (2), é diplomático. Karol Nawrocki, presidente eleito da Polônia, fará de tudo para impedir a reversão do legado conservador e autocrata que o partido Lei e Justiça, o PiS, deixou no país em oito anos no poder.

O candidato que começou a campanha fazendo flexões nas redes sociais foi escolha pessoal de Jaroslav Kaczinski, líder do PiS, que deu sua explicação para o resultado: “Vencemos porque simplesmente estamos certos”. Metade do país e mais um pouco parece concordar. A outra confiava no prosseguimento das reformas do primeiro-ministro, Donald Tusk, a principal delas regenerar o formato e a independência do Poder Judiciário polonês.

Seu candidato, Rafal Trazkowski, prefeito de Varsóvia, que chegou a comemorar a vitória na noite de domingo (1º), quando pesquisas de boca de urna lhe davam menos de 1 ponto percentual de vantagem, cumprimentou o adversário em postagem no X. “Essa vitória traz junto uma grande responsabilidade, especialmente em tempos tão difíceis. Especialmente com um resultado tão apertado. Por favor, tenham isso em mente.”

O resultado foi realmente apertado, 50,89% a 49,11%, confirmando a polarização da sociedade polonesa, vista com preocupação por analistas.

Também falou em responsabilidade o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, lembrando do “momento muito desafiador da Europa”. Em mais um recado, o mandatário declarou que a Alemanha está pronta para cooperar “nos fundamentos da democracia e do Estado de direito”.

Populistas europeus foram naturalmente mais efusivos nas mensagens. Viktor Orbán, o primeiro-ministro húngaro, falou de “vitória fantástica”, enquanto a líder da ultradireita francesa, Marine Le Pen, festejou a “rejeição da oligarquia de Bruxelas”, que impõe “políticas autoritárias em desafio à vontade democrática”.

“Estou confiante de que a UE continuará a sua excelente cooperação com a Polônia. Juntos, somos mais fortes na nossa comunidade de paz, democracia e valores”, escreveu a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

O presidente francês, Emmanuel Macron, seguiu linha parecida em sua congratulação.

“Vamos juntos fortalecer os laços que unem a Polônia e a França, no espírito do Tratado de Nancy e da amizade entre nossos países. Continuemos a construir uma Europa forte, independente e competitiva que respeite o Estado de direito.”

O tratado, assinado no começo do mês passado, era um esforço de aproximação dos dois países, que prometeram se defender no complicado momento geopolítico europeu. Tusk vinha trabalhando para credenciar a Polônia como grande ator da política europeia, o que parece em jogo agora com a ascensão de Nawrocki.

Políticos da coalizão que sustenta o primeiro-ministro marcaram uma reunião para discutir o futuro do governo. “Esta eleição foi um cartão amarelo, talvez até um vermelho”, declarou Szimon Hołownia, que lidera um dos grupos parlamentares da coalizão.

No começo da noite europeia, tarde no Brasil, Tusk anunciou que submeterá a um voto de confiança no Parlamento, o que, em caso de derrota, levaria a antecipação das eleições parlamentares, previstas por enquanto para 2027. O premiê não precisou quando fará a convocação, apenas que será em data oportuna.

Novato absoluto na política, Nawrocki tem um repertório antissistema, contra políticos e elites em geral, mas navega a cartilha básica do populismo europeu, com discurso anti-imigração e valores conservadores. Defende o papel estratégico da Polônia na guerra da Ucrânia, mas já teceu críticas a Zelenski, em linha com o pensamento de Donald Trump, que o recebeu na Casa Branca no começo de maio e impulsionou sua campanha.

O historiador, ex-boxeador amador e ex-hooligan também desaprova a entrada da Ucrânia na Otan, com a qual a própria Polônia declarou estar a favor em reunião da aliança militar ocidental, realizada em Vilnius, na Lituânia, nesta segunda-feira (2). Como ocorre desde 2023, quando Tusk voltou ao governo, a Polônia permanece dividida.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado