Menu
Mundo

Tensão aumenta sobre Ucrânia à medida que diálogo entre EUA e Rússia não evolui

As reuniões serão retomadas na semana que vem entre os chefes da diplomacia americana e russa, a não ser que Moscou decida atacar a Ucrânia

Redação Jornal de Brasília

18/02/2022 6h31

As conversas infrutíferas continuaram nesta quinta-feira (17) entre Estados Unidos, que teme um ataque contra a Ucrânia “nos próximos dias”, e a Rússia, que rejeita as acusações, em meio a um aumento dos bombardeios no leste do país.

As reuniões serão retomadas na semana que vem entre os chefes da diplomacia americana e russa, a não ser que Moscou decida atacar a Ucrânia.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, propôs reunir-se com o homólogo russo, Sergei Lavrov, “na Europa na semana que vem”, mas Moscou sugeriu que o encontro aconteça no próximo fim de semana. Washington aceitou, “sempre que não haja uma invasão russa da Ucrânia”, declarou nesta quinta à noite o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price.

Mais cedo, em um discurso dramático e não programado na sede das Nações Unidas, em Nova York, Blinken disse que a Inteligência americana mostrou que Moscou poderia ordenar um ataque a seu vizinho nos “próximos dias”.

“Todos os indícios que temos são de que estão preparados para entrar na Ucrânia”, havia dito anteriormente o presidente americano, Joe Biden.

Moscou anunciou na terça e na quarta-feira a retirada de suas forças, mas sem convencer os ocidentais.

“Não tiraram nenhuma de suas tropas. Mobilizaram mais tropas” na direção da fronteira, afirmou Biden.

O presidente americano voltou a acusar Moscou de preparar uma “operação de bandeira falsa” no conflito entre Kiev e os separatistas pró-russos no leste como pretexto para um ataque.

“Obrigada a agir”

A Rússia concentrou um enorme dispositivo militar, aéreo, terrestre e marítimo ao redor da Ucrânia: 150.000 soldados, segundo a Inteligência americana.

O presidente russo, Vladimir Putin, e altos funcionários de seu governo dizem que não planejam invadir a Ucrânia e que as tropas estão apenas realizando exercícios práticos.

No entanto, Putin deixou claro que o preço para remover qualquer ameaça seria a Ucrânia concordar em nunca se juntar à Otan e a aliança ocidental se retirar de uma faixa do Leste Europeu, efetivamente dividindo o continente em esferas de influência ao estilo da Guerra Fria.

Os Estados Unidos disseram na quinta-feira que receberam uma resposta de Putin às suas ofertas de uma solução diplomática para a crise, mas não comentaram a respeito.

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia indicou que havia pouco a discutir.

“Se não há disposição por parte dos Estados Unidos de nos entender sobre as garantias jurídicas para nossa segurança (…), a Rússia será obrigada a agir, especialmente aplicando medidas de caráter militar e técnico”, afirmou a diplomacia russa em sua resposta.

Por outro lado, Moscou expulsou o número dois da embaixada dos Estados Unidos na Rússia, informou o Departamento de Estado.

A China uniu-se ao debate nesta quinta, ao avaliar na reunião do Conselho de Segurança que “a expansão constante da Otan, no rastro da Guerra Fria, vai contra nossa época”.

Ataque a jardim de infância

A Ucrânia trava desde 2014 uma guerra contra os separatistas pró-russos no leste do país, nas regiões de Donetsk e Lugansk.

O exército ucraniano denunciou nesta quinta-feira um ataque contra Stanystia-Luganska, que deixou sem energia elétrica metade desta localidade do leste do país e deixou um buraco de obus no muro de uma creche. As crianças estavam no local, mas nenhuma ficou ferida.

A Ucrânia acusa os rebeldes de terem violado o cessar-fogo 34 vezes, das quais em 28 teriam usado armas pesadas.

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, tuitou que o ataque “pelas forças pró-russas é uma grande provocação”.

No entanto, as autoridades da região de Lugansk, citadas pelas agências de notícias russas, acusaram Kiev pelos bombardeios.

A conversa de surdos ficou patente na sessão do Conselho de Segurança nesta quinta-feira.

Mencionando as dúvidas dos Estados Unidos e outros países ocidentais sobre a afirmação da Rússia de que tinha retirado tropas da fronteira, Blinken desafiou o Kremlin a “anunciar hoje sem reservas, equívocos ou desvios que a Rússia não vai invadir a Ucrânia”, propondo ao seu colega russo, Serguei Lavrov, uma reunião na próxima semana.

“Digam claramente, digam claramente ao mundo. Demonstrem enviando suas tropas, seus tanques, seus aviões, de volta a seus quartéis e hangares, e enviando seus diplomatas à mesa de negociações”, disse.

Anteriormente, o vice-presidente russo das Relações Exteriores, Serguei Vershinín, tinha recusado se estender sobre o que considerou “especulações supérfluas”.

Enumerou, ao contrário, as reivindicações de Moscou sobre a Ucrânia, acusada de descumprir os acordos de Minsk, destinados a pacificar o conflito entre o governo de Kiev e os separatistas pró-russos.

Um eventual reconhecimento destes territórios separatistas, como pediu a Câmara baixa do Parlamento russo, representaria, segundo a chefe da diplomacia britânica, Liz Truss, um desejo de “confronto” por parte de Moscou.

Escalada “preocupante”

O secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, classificou os relatos desta quinta-feira como “preocupantes”.

Moscou fez vários anúncios de retirada de tropas nesta semana e disse na quinta-feira que unidades dos distritos militares do sul e oeste, incluindo unidades de tanques, começaram a retornar às suas bases.

O porta-voz do Ministério da Defesa, Igor Konashenkov, disse que algumas tropas retornaram às suas bases em várias áreas distantes da fronteira, incluindo a Chechênia e o Daguestão, no norte do Cáucaso, e perto de Nizhny Novgorod, cerca de 300 quilômetros a leste de Moscou.

Mas os Estados Unidos, a Otan e a Ucrânia disseram que não viram evidências de uma retirada, e Washington afirmou que a Rússia de fato moveu 7.000 soldados para mais perto da fronteira.

Zelensky afirmou nesta quinta-feira que seu país não precisa de apoio militar externo.

“Não precisamos de militares de bandeira estrangeira em nosso território”, afirmou em uma entrevista ao portal RBK-Ukraina, acrescentando que não quer “dar mais um motivo” para a Rússia intervir.

© Agence France-Presse

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado