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Rússia rejeita mudanças propostas no plano de Trump para a Ucrânia

Rússia critica versão revisada do acordo apoiado por Ucrânia, EUA e europeus; avanços diplomáticos ocorrem em meio à pressão de Trump e a novos movimentos militares no front

Redação Jornal de Brasília

24/11/2025 13h20

Foto: AFP/Divulgação

IGOR GIELOW
FOLHAPRESS

O governo de Vladimir Putin rejeitou nesta segunda-feira (24) a contraproposta ao plano de Donald Trump feita pela Ucrânia e parceiros europeus, discutida com autoridades americanas no domingo (23) em Genebra.

“O plano europeu, à primeira vista, é completamente não construtivo e não funciona para nós”, disse a repórteres o assessor presidencial para assuntos internacionais do Kremlin, Iuri Uchakov. Ele deixou a porta aberta, contudo, ao afirmar que alguns pontos são aceitáveis e devem ser discutidos.

Mais cedo, o porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, havia dito que não iria comentar o que foi discutido na Suíça porque não havia ainda uma comunicação formal deles. “Nós lemos a declaração de que alguns adendos foram feitos no texto que vimos antes. Vamos esperar. É algo muito importante para se guiar só por reportagens”, disse.

Participaram das conversas em Genebra americanos e ucranianos, que anunciaram, sem detalhar, haver “uma versão refinada” do acordo. Líderes europeus, como o alemão Friedrich Merz, elogiaram avanços no encontro, mas dizem que ainda falta muito. “A paz não vai acontecer da noite para o dia”, disse o premiê.

O texo original tinha 28 pontos, sendo amplamente favorável às demandas russas. Segundo diversos relatos na imprensa ocidental e ucraniana, agora são 19 itens, mais equilibrados.

Uma das mudanças ventiladas prevê um limite maior para as forças de Kiev, subindo o teto de 600 mil para 800 mil. O país invadido em 2022 também poderia, no futuro, juntar-se à aliança militar Otan, o que era vetado.

Além disso, teria sido retirado o reconhecimento das áreas ocupadas pelos russos e haveria negociação a partir da frente de batalha atual. O texto inicial falava em entrega de Donetsk e congelamento de linhas em Zaporíjia e Kherson. Nada disso está certo, contudo, como disse nesta segunda (24) o premiê polonês, Donald Tusk.

“Nós continuamos a trabalhar com nossos parceiros, em especial os Estados Unidos, para buscar soluções de compromisso que nos fortaleçam, mas que não nos enfraqueçam”, afirmou o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, em uma videoconferência com representantes europeus reunidos na Suécia.

Nesta terça (25) haverá uma reunião entre os principais apoiadores de Kiev na Europa, liderados por Alemanha, Reino Unido e França. O premiê britânico, Keir Starmer, disse haver avanços importantes na mesa.

O governo Trump havia adotado o texto, elaborado pelo negociador ameicano Steve Witkoff e o enviado russo Kirill Dmitriev, após sua existência emergir em relatos anônimos na mídia na quinta passada (20).

O presidente americano deu até a próxima quinta (27), Dia de Ação de Graças nos EUA e Canadá, para que Zelenski topasse os termos pró-Rússia do acordo. Depois, sugeriu que o prazo poderia ser dilatado, mas também criticou o que chamou de “ingratidão” do ucraniano e seus parceiros europeus.

Nesta manhã, ele voltou à rede Truth Social para comentar o assunto de forma críptica. “É realmente possível que um grande progresso esteja ocorrendo nas conversas de paz entre Rússia e Ucrânia??? Não acredite até ver, mas algo bom pode estar ocorrendo”, disse.

Observadores alemães, britânicos e franceses estiveram em Genebra. Os líderes de países aliados da Ucrânia afinaram o discurso ao longo do fim de semana, repetindo que a soberania de Kiev não poderia ser rifada e que Zelenski tinha de negociar pessoalmente os termos do acordo com Trump.

O encontro entre eles, segundo a mídia americana, pode ocorrer nesta semana ou na próxima, a depender do ritmo das conversas e da reação de Moscou.

O Kremlin está numa posição mais cômoda. Como a Folha de S.Paulo mostrou no domingo, a linha-dura em torno de Putin trabalha para bombardear o documento, apesar de ele ser favorável aos russos na sua versão inicial com exceção do ponto em que prevê o uso de US$ 100 bilhões de reservas de Moscou congeladas no exterior pelas sanções para reconstruir a Ucrânia.

Como há uma disputa de poder interna, e Dmitriev fez adversários no governo com sua proximidade de Witkoff e voluntarismo, Putin ao mesmo tempo reconheceu ter sido informado pelos EUA do texto, mas afastou-se de sua paternidade.

Assim, se o esforço de Trump novamente fracassar, como já ocorreu antes, o russo poderá dizer ao público doméstico que apenas rejeitou uma proposta que não atendia suas demandas maximalistas. A linha-dura seria recompensada, pois trabalha com a ideia de que a Ucrânia ainda pode colapsar.

Isso ocorreria, na visão dessa ala ligada aos militares e aos serviços de segurança, com a confirmação dos avanços no campo de batalha enquanto Zelenski enfrenta um grave escândalo de corrupção no governo.

Nesta segunda, o Ministério da Defesa russo anunciou a tomada de mais uma vila na região de Zaporíjia (sul) e o controle de dois outros setores de Pokrovsk, vital centro logístico ucraniano em Donetsk (leste), que está sendo defendido prédio a prédio por Kiev. Em Kharkiv (norte), quatro pessoas morreram atingidas por drones.

Na mão contrária, um ataque com drones mirando Moscou forçou o fechamento de dois aeroportos da capital, que já foram reabertos e estão com atrasos nos voos. Eles foram derrubados, segundo o governo regional.

Central na equação é Trump. A Europa dá apoio diplomático a Zelenski, mas se os EUA fecharem a torneira no fornecimento de inteligência como imagem de satélites e cortarem o fornecimento de armas, mesmo via Otan, Kiev estará em apuros.

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