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Reeleição de Trump ameaçaria ajuda à Ucrânia e à Otan, alertam especialistas

Washington é o principal apoio militar de Kiev, com mais de 110 bilhões de dólares (R$ 548,9 bilhões na cotação atual) já desbloqueados pelo Congresso

Redação Jornal de Brasília

08/02/2024 13h52

Foto: Ed JONES / AFP

O retorno de Donald Trump à Casa Branca implicaria o fim da ajuda americana à Ucrânia, o “desmoronamento” da Otan e o enfraquecimento da liderança dos Estados Unidos, alertam especialistas e diplomatas, como a ex-secretária de Estado Hillary Clinton.

A Universidade de Columbia em Nova York, onde Hillary agora é professora de Relações Internacionais, realizou na quarta-feira um simpósio sobre “o futuro da Ucrânia” depois de quase dois anos da invasão russa.

“Estamos em um momento crucial, não só para a Ucrânia, mas também para o Ocidente e para Otan”, advertiu a ex-chefe da diplomacia americana (2009-2013), cujo final de mandato coincidiu com o início da deterioração das relações entre Estados Unidos e Rússia após a reeleição do presidente Vladimir Putin em 2012.

Para a ex-senadora por Nova York e candidata presidencial derrotada em 2016, “a forma como nós, Estados Unidos, reagiremos ou deixemos de reagir terá um impacto incomensurável na ordem mundial do século XXI”.

Washington é o principal apoio militar de Kiev, com mais de 110 bilhões de dólares (R$ 548,9 bilhões na cotação atual) já desbloqueados pelo Congresso, mas a maior potência mundial está há meses sem aprovar novos fundos para a Ucrânia.

O poder de Donald Trump

A influência que Trump exerce em um setor dos representantes republicanos e o cabo de guerra com os democratas liderados pelo presidente Joe Biden fizeram o Congresso adiar até esta quinta-feira (8) uma votação sobre a ajuda a Kiev e a seu aliado israelense.

Hillary, que foi chefe da diplomacia na administração de Barack Obama (2009-2017) e era a favor do intervencionismo americano no exterior, considerou “vergonhoso que a ajuda à Ucrânia seja retida no Congresso por uma política mesquinha”.

“A agressão russa e o sofrimento dos ucranianos não devem ficar sem resposta”, disse a democrata de 76 anos, porque, do contrário, seria “um presente para Vladimir Putin e um golpe na liderança mundial dos Estados Unidos a favor da liberdade e da democracia”.

Para Kimberly Marten, professora de Ciência Política da Barnard College, de Columbia, o cenário é ainda pior: o presidente Putin “acredita que é provável que Donald Trump vença as próximas eleições e, quando isso ocorrer, a Otan desmoronará”.

O ex-presidente republicano (2017-2021) e empresário, que provavelmente será o rival de Biden em novembro, tem-se mostrado cético, muitas vezes hostil, sobre a ajuda contínua dos Estados Unidos à Ucrânia. Ameaça, inclusive, abandonar a Otan, se voltar à Casa Branca.

Ucrânia “perderá”

Para a ex-embaixadora americana na Ucrânia Marie Yovanovitch, “se não os ajudarmos, (os ucraninos) perderão (apoio) em Washington e perderão no campo de batalha”.

A diplomata americana também acredita que “os russos contam com uma vitória do ex-presidente Trump” que “nos tiraria da Otan”.

“Um panorama muito, muito sombrio para a Ucrânia, no qual estaríamos abandonando os nossos aliados para, na verdade, ajudar nossos adversários”.

Ian Bremmer, do grupo de estudos Eurasia e professor de Relações Internacionais na Universidade de Columbia, foi mais moderado: não vê seu país “abandonando a Otan”, se Trump voltar à Casa Branca em 20 de janeiro de 2025.

“Será mais uma questão do nível de envolvimento dos Estados Unidos” com a Aliança Atlântica e com a União Europeia, explicou o especialista.

Sobretudo, porque “os movimentos populistas e eurocéticos estão em alta, terão mais apoio nas eleições europeias em países como França e Alemanha e provavelmente se alinharão com Trump”, previu Bremmer, para quem “as relações no seio da Otan e do sistema transatlântico alcançaram seu pico no ano passado”. E isso “evoluirá, se Trump se tornar presidente”, concluiu.

Já a embaixadora da Ucrânia nos Estados Unidos, Oksana Markarova, reafirmou que seu país, candidato a entrar na Otan e na UE, quer “ser europeu” e se vê “na família transatlântica”.

 

© Agence France-Presse

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