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Putin demite ‘general Armagedom’ por suspeita de apoiar motim

O Ministério da Defesa e o Kremlin nunca comentaram o sumiço do general desde que mercenários do Grupo Wagner lideraram um motim frustrado contra a cúpula militar russa em 24 de junho

Redação Jornal de Brasília

23/08/2023 13h13

Foto: Gavriil Grigorov / SPUTNIK / AFP

IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O presidente Vladimir Putin afastou do comando das Forças Aeroespaciais da Rússia Serguei Surovikin, conhecido como “general Armagedom”, um dos militares mais respeitados no país. Em seu lugar, segundo a agência RIA, está interinamente o general Viktor Azfalov.

O motivo da queda de Surovikin é um segredo de polichinelo. O Ministério da Defesa e o Kremlin nunca comentaram o sumiço do general desde que mercenários do Grupo Wagner lideraram um motim frustrado contra a cúpula militar russa em 24 de junho.

Surovikin desapareceu. Segundo pessoas do círculo militar russo disseram a diversos meios de comunicação, ele foi preso para interrogatório acerca da sua suposta ligação com o movimento rebelde.

Uma de suas filhas chegou a negar que ele estivesse detido, mas o fato é que ele não foi mais visto.

Relatos de blogueiros militares russos indicam que ele segue em prisão domiciliar, e que provavelmente perderá também sua posição como o número 2 no comando das forças de invasão da Rússia na Ucrânia.

Até aqui, não houve nenhum comentário oficial sobre o motivo da demissão de Surovikin ou seu eventual futuro. Segundo observadores, o Kremlin não quer fazer marola, mas também não é sabido se foi encontrada alguma ligação entre o general e os mercenários liderados por Ievguêni Prigojin.

Conhecido como o “chef de Putin”, por seus contratos de alimentação com o governo e por ter servido pessoalmente o presidente e seus convidados, Prigojin comandou o mais opaco episódio da Guerra da Ucrânia até aqui quando ocupou o quartel-general russo em Rostov-do-Don, perto da fronteira ucraniana, em 23 de junho.

Na madrugada seguinte, seus homens avançaram em coluna para Moscou, com pouca resistência –talvez uma dúzia de soldados russos morreram ao terem suas aeronaves abatidas no caminho. Quando se aproximaram da capital, um acordo mediado pelo ditador de Belarus, Aleksandr Lukachenko, fez Prigojin recuar.

Um novelo de estranhezas foi desfiado a seguir: os mercenários foram destituídos, mas não punidos, e cinco dias depois do motim se explicaram pessoalmente a Putin. Parte deles está em Belarus, onde são vistos como instrumento para atazanar a inteligência dos países da Otan [aliança militar ocidental] do outro lado da fronteira.

Já Prigojin parece ter perdido seus US$ 2 bilhões (quase R$ 10 bilhões) anuais em contratos, mas foi visto esta semana em um vídeo supostamente gravado na África –onde o Wagner tem participação ativa em vários países, apoiando por exemplo o recente golpe no Níger. Foi alvo de uma campanha negativa na mídia estatal, mas de curta duração.

Surovikin era próximo de Prigojin, o maior crítico da cúpula militar russa, que de todo modo negou ter tentado derrubar Putin. Desde 2017, ele fazia parte do Wagner como membro honorário, segundo blogueiros militares russos como o canal Rybar.

No sábado do motim, Surovikin gravou um vídeo instando os rebeldes a depor armas, mas seu desconforto em tela era visível, levando à suspeita de que fez a peça sob coação. Não mais foi visto desde então, alimentando mais um capítulo das histórias mal contadas do conflito.

O general liderou a operação no país vizinho de outubro de 2022 a janeiro deste ano, quando foi substituído pelo número 2 do Ministério da Defesa, Valeri Gerasimov, um dos mais criticados líderes militares da Rússia –a linha dura que defende ações mais contundentes na guerra e rivais como Prigojin o consideram incapaz.

Surovikin, 56, ganhou o nada discreto apelido apocalíptico por suas ações ao liderar de forma brutal forças russas na guerra civil da Síria, ditadura aliada que Putin salvou da derrocada ao intervir militarmente no país árabe a partir de 2015.

A experiência o tornou objeto de admiração nos círculos militares russos, mas a suposta eficiência não se traduziu em ganhos consistentes na Ucrânia. Sob sua batuta, a Rússia inclusive foi obrigada a ceder Kherson, a capital homônima da província que anexou ilegalmente no ano passado, para estabelecer linhas defensivas ao sul do rio Dnipro.

Por outro lado, a grande fortificação da frente de batalha do lado russo é vista como um de seus legados em campo. A contraofensiva de Kiev, iniciada há quase três meses, até agora não conseguiu resultados tangíveis, e a Rússia conseguiu alguns avanços significativos no nordeste ucraniano.

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