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Mundo

Protestos contra Milei na Argentina deixam ao menos 32 jornalistas feridos

Segundo o governo, houve ainda sete policiais lesionados e oito pessoas detidas desde quarta (31), quando as manifestações começaram

Redação Jornal de Brasília

02/02/2024 17h42

Javier Milei, novo presidente da Argentina, faz seu primeiro discurso após tomar posse na escadaria do Congresso Nacional, em Buenos Aires – Luis Robayo – 10.dez.2023/AFP

JÚLIA BARBON

BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS)

Os protestos contra as reformas liberais que Javier Milei tenta fazer na Argentina deixaram 32 jornalistas feridos até esta quinta-feira (1º). Um advogado de direitos humanos e assessor legislativo do partido de esquerda também teve o olho operado após ser atingido por uma bala de borracha.

Segundo o governo, houve ainda sete policiais lesionados e oito pessoas detidas desde quarta (31), quando as manifestações começaram em frente ao Congresso Nacional, onde deputados discutem o pacote de leis apelidado de “lei ônibus”. A expectativa é que o texto seja votado em geral na tarde desta sexta (2).

A lista com os nomes dos repórteres, repórteres gráficos e fotógrafos feridos foi divulgada pelo Sindicato de Imprensa de Buenos Aires (SiPreBA). Ela inclui profissionais freelancers e de diversos meios do país, como a agência pública de notícias Télam e os jornais Página 12 e Ámbito Financiero.

“Pedimos que cessem as ações repressivas nos próximos dias e exigimos que nossos colegas possam realizar seu trabalho jornalístico em paz, sem agressões ou impedimentos. A liberdade de imprensa é um pilar fundamental da democracia que deve ser defendido, garantido e respeitado por todos os poderes do Estado”, escreveu em nota a organização.

Nos primeiros dias de seu mandato, em dezembro, Milei instituiu um novo protocolo com tolerância zero contra o fechamento de vias por manifestantes, os chamados piquetes, criticados por parte da população. Desde então, forças federais estão sendo empregadas para romper o método de protesto.

Nos últimos dois dias também houve registros de agressões por parte de manifestantes. Um apoiador de Milei levou um soco, e um jornalista do canal LN+, ligado ao jornal La Nacion, levou uma cuspida, ambos registrados em vídeos. Os deputados Lilia Limoine e Ramiro Marra tiveram que sair escoltados, após fortes xingamentos.

Não há uma contagem oficial de feridos em geral, já que as pessoas foram sendo atendidas no momento por profissionais de saúde voluntários, ou nem chegaram a ser socorridas.

Entre os jornalistas, 21 foram atingidos por balas de borracha, disparadas por policiais federais que passavam de moto fazendo movimentos circulares para impedir que os manifestantes bloqueassem as ruas, mas também subiram e dispararam nas calçadas. A Folha de S.Paulo presenciou o momento em que um fotógrafo caminhava ensanguentado, com ferimentos na canela.

A maioria das lesões relatadas foram nas pernas, mas também houve jornalistas atingidos na cintura, nas costas, nas mãos e até no rosto. Foi o caso do repórter Kresta Pepe, repórter gráfico do jornal La Izquierda Diario, que publicou uma foto com um ferimento a poucos centímetros do olho.

O advogado Matías Aufieri, por sua vez, teve que ser internado. “Matías, advogado e assessor da nossa bancada, aproximou-se da praça para fazer um levantamento do que ocorria. Ele foi baleado no olho”, disse a deputada e ex-candidata à Presidência Miriam Bregman, do partido Frente de Esquerda. Ele também advoga para o Centro de Profissionais pelos Derechos Humanos (CeProDH).

Já Hernán Nucera, cronista, do canal C5N, e Pablo Guillermo Bovet afirmaram ter tido alvejados por quatro projéteis cada um. Ao menos outros sete profissionais da imprensa sofreram complicações ou quiemaduras pelo gás de pimenta, usado por agentes que faziam a contenção com escudos.

A fotógrafa freelancer Paula Acunzo foi uma delas. Ela conta ter sido agredida em duas ocasiões: de manhã, quando foi cobrir mulheres de organizações sociais que se dirigiram ao Ministério de Capital Humano para reclamar pela paralisação de repasses a cozinhas comunitárias; e no fim da tarde, em frente ao Congresso.

“Na primeira situação, começaram a bater com cassetetes e atiraram um gás que não parece um gás de pimenta comum, porque tenho queimaduras no braço direito como se tivesse colocado ele no forno. Algumas mulheres terminaram com queimaduras graves na cara, asfixiadas, com cassetete nas costas, chutes”, diz.

“No fim da tarde, as pessoas já estavam em cima da praça, e mesmo assim começaram a disparar das motos. Fizeram duas filas, na direita e na esquerda, então não tinha como se proteger, porque chegavam balas dos dois lados. Dispararam em pessoas idosas que estavam a cinco metros, desarmadas, sem provocar, nada”, critica.

O porta-voz do governo, Manuel Adorni, exaltou o trabalho dos policiais nesta sexta. “Não estamos dispostos a deixar que um grupo de violentos freie o debate legislativo”, disse em sua entrevista coletiva diária. Questionado sobre a lista de jornalistas feridos e se a gestão Milei vai defender a liberdade de imprensa, ele ignorou e respondeu apenas “sim”, convocando a próxima pergunta.

“Parece infantil a essa altura esclarecer que quem bloqueia ruas e quem agride um cidadão ou um agente policial está cometendo um delito. E cometer um delito, pelo menos [a partir de] agora, tem consequências. Imaginem o que aconteceria se nos deixássemos ser extorquidos por essas minorias violentas que não representam os trabalhadores”, declarou antes.

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