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Porão de hospital infantil abriga mães e bebês em Kiev, na Ucrânia

A surpresa de serem pegos em um conflito que parecia inimaginável é compartilhado por pacientes, familiares e funcionários

Redação Jornal de Brasília

28/02/2022 14h36

Foto: REUTERS/Umit Bektas

Com camas improvisadas no corredor de concreto, o porão do Hospital Infantil Ohmadyt, em Kiev, na Ucrânia, tornou-se um refugio para mães e bebês que procuravam conforto em meio aos conflitos no país.

Crianças fragilizadas demais para ir para suas casas ou fugir da capital com suas famílias depois da invasão russa tentam se adpatar a nova realidade, sitiadas em um abiente sombrio, longe de janelas e deitadas em corredores com soro intravenoso.

A surpresa de serem pegos em um conflito que parecia inimaginável é compartilhado por pacientes, familiares e funcionários. De imediato, o foco é a sobrevivência.

“São pacientes que não podem receber tratamento médico em casa, não podem sobreviver sem medicação, sem assistência de profissionais de saúde”, disse o cirurgião-chefe Volodymyr Zhovnir nesta segunda-feira.

O Ohmadyt, maior hospital desse tipo no país, em tempos normais tem até 600 pacientes, um número que reduziu mais da metade. Agora, apenas cerca de 200 pessoas são atendidas, disse durante uma visita da imprensa à clínica estatal no centro de Kiev, organizada pelo governo.

Cirurgiões e enfermeiras operavam um garoto de 13 anos em uma ala cirurgica. O menino foi levado por uma ambulância após ser atingido nos confrontos armados.

Em uma ala cirúrgica, cirurgiões e enfermeiras operavam um menino de 13 anos trazido por uma ambulância depois de ser ferido nos confrontos armados.

Até o momento, quatro crianças receberam atendimentos depois de serem atingidas por estilhaços e ferimentos de bala, vítimas de bombardeiros dentro e ao redor de Kiev. Uma permanece em estado grave.

Entre as mães que estão com seus filhos no hospital, há Maryna. Seu filho de nove anos sofre de um câncer no sangue que necessita de tratamento continuo.

Nesta segunda-feira, mais sirenes de ataque aéreo puderam ser ouvidas nas ruas de Kiev, praticamente vazias. As sirenes alertavam sobre mais um possível ataque de mísseis da Rússia, que justifica suas ações no país como uma “operação especial”.

“Quando há bombardeios, sirenes, temos que descer as escadas”, disse Maryna, que segurava as lágrimas. “Também recebemos tratamento aqui, temos medicamentos, mas precisamos de mais comida, coisas básicas”.

Fotos: Aris Messinis/AFP

Depois que a unidade de pediatria foi transferida para o porão do hospital, mulheres cuidam de seus filhos da maneira que lhes são possíveis.

‘Precisamos de paz’

O hospital, até o momento, foi poupado do bombardeio que atingiu os arredores da cidade. No entanto, funcionários afirmam que ouviram tiros nos últimos dias.

A capital está se preparando para batalhas piores à medida que as forças russas se aproximam, e a entrada do hospital está sendo guardada por policiais fortemente armados durante a visita da imprensa.

No porão, diversas crianças e seus pais estavam deitados em esteiras. Algumas precisando de oxigênio adicional e outras conectadas a soro intravenoso.

Alguns pacientes em terapia intensiva e incapacitados de serem movidos para o subterrâneo, foram colocados em áreas relativamente seguras do edifício. As cadeiras da recepção servem como camas para as crianças.

A segurança da equipe médica também é uma preocupação.

“Também devemos cuidar do pessoal, porque, se morrerem ou se machucarem, o que fazemos, quem vai tratar os pacientes?”, perguntou Valery Bovkun, microcirurgião do Ohmadyt.

Zhovnir, o cirurgião-chefe, relata que o hospital havia estocado medicamentos suficientes para um mês, porém acrescentou que precisava de comida para bebês recém-nascidos.

“De todas as coisas, o que mais precisamos é de paz. Tudo isso é a ponta de um iceberg. As pessoas estão, por exemplo, me perguntando onde comprar insulina para crianças, as farmácias não estão abertas”

O cirurgião se preocupa tanto com as crianças que estão no hospital quanto com as que não conseguiram chegar até lá.

Normalmente, o hospital normalmente atende de seis a sete crianças por dia com queixas comuns, mas esse número despencou desde o inicio dos conflitos.

“Elas não desapareceram, elas simplesmente não conseguem chegar aqui”, acrescenta o médico.

Veja também uma maternidade no porão do hospital regional de Kherson, o vídeo foi feito pelo obstetra-ginecologista do hospital Yuri Herman.

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