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Onda de refugiados ucranianos deve superar crise dos Bálcãs, diz ONG

Segundo os primeiros cálculos da ONU e da Comissão Europeia, entre 100 mil e 120 mil pessoas se deslocaram somente no primeiro dia da guerra

FolhaPress

25/02/2022 13h15

Foto: AFP

Michele Oliveira

Filas em postos de gasolinas e caixas eletrônicos, estações de trem e rodoviárias com plataformas lotadas, avenidas completamente tomadas por carros em uma única direção – a de saída. A movimentação dentro e nas fronteiras da Ucrânia se intensificou assim que ficou claro que os ataques russos haviam, de fato, começado, na madrugada da quinta-feira (24).

Segundo os primeiros cálculos da ONU e da Comissão Europeia, entre 100 mil e 120 mil pessoas se deslocaram somente no primeiro dia da guerra. São dois movimentos principais. Muitos deixam os grandes centros ou aqueles já alcançados pelos russos em direção a cidades menores, dentro da própria Ucrânia, procurando se aproximar das áreas a sudoeste, a mais distante da linha com a Rússia. Outros já cruzam a fronteira de países vizinhos, especialmente os que fazem parte tanto da União Europeia quanto da Otan, a aliança militar do Atlântico norte, caso da Romênia e da Polônia.

Os deslocamentos devem se manter nos próximos dias e, a depender do agravamento do conflito, envolver até 5 milhões de moradores –a população total da Ucrânia é de cerca de 44 milhões. “Se a Rússia continuar nesse caminho, pode, de acordo com nossas estimativas, criar uma nova crise de refugiados, uma das maiores que o mundo enfrenta hoje, com até 5 milhões de pessoas deslocadas”, afirmou Linda Thomas-Greenfield, embaixadora americana na ONU, na quarta-feira (23), um dia antes do ataque russo. A organização anunciou um pacote de ajuda humanitária para a Ucrânia de US$ 20 milhões.

Segundo o inglês David Miliband, presidente do International Rescue Committee, a Europa deve enfrentar uma onda de refugiados muito maior do que a ocorrida nos anos 1990, no contexto do conflito na península balcânica. Os conflitos relacionados à dissolução da antiga Iugoslávia, como na Croácia, Bósnia e Kosovo, provocaram o deslocamento dentro e fora das fronteiras de cerca de 4,4 milhões de pessoas.

“Quem mora nas grandes cidades está tentando escapar porque são nelas que estão os alvos militares e político-administrativos na mira dos russos, e isso acaba atingindo também casas. Nas fronteiras, os relatos são de que os países vizinhos estão deixando a passagem livre, sem a exigência de documentos especiais, apenas os que comprovam a identidade da pessoa”, conta Fabio Prevedello, presidente da Associação Itália-Ucrânia Maidan, na província de Milão, que está em contato com algumas famílias ucranianas.

Segundo ele, o perfil de quem cruza a fronteira é de mulheres, idosos e crianças, com muitos homens restando no país, para o combate. Os países da União Europeia, tanto em bloco quanto individualmente, manifestaram nas últimas horas prontidão no acolhimento dos refugiados. “Temos, com os países da linha de frente, planos de contingência para acolher imediatamente os refugiados da Ucrânia. Esperamos que haja o mínimo possível de refugiados, mas estamos preparados e eles são bem-vindos”, disse a presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen.

Na Polônia, com 500 km de fronteira com a Ucrânia, o governo anunciou a disposição de oito pontos de acolhimento, com estrutura para que os refugiados possam dormir, comer e receber assistência médica. “Quem estiver fugindo de bombas, das armas russas, pode contar com o apoio do governo polonês”, declarou Mariusz Kaminski, ministro do Interior. Segundo uma rádio local, outra autoridade do ministério afirmou que a Polônia estava se preparando para uma onda de 1 milhão de ucranianos.

“Os eventos que começaram na manhã de quinta irão, inevitavelmente, levar a uma catástrofe humanitária colossal”, afirma Tetiana Stawnychy, presidente da Cáritas Ucrânia. “É impossível acreditar que no século 21, no centro da Europa, pessoas tenham que acordar às 5 da manhã com explosões e o barulho de sirenes.”

Segundo a organização, ligada à Igreja Católica, a crise gerada pela anexação russa da Crimeia, em 2014, provocou o deslocamento de 1,5 milhão de pessoas. A situação na fronteira entre Rússia e Ucrânia, que já vinha sendo monitorada nos últimos seis meses, já havia deixado quase 3 milhões de pessoas precisando de ajuda humanitária. “Esse número hoje está crescendo exponencialmente.”

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