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Novo conflito na Etiópia põe fim a meses de cessar-fogo no Tigré

Para os líderes da região do Tigré, os projetos visavam à centralização do poder na Etiópia e, portanto, à perda de autonomia

FolhaPress

24/08/2022 18h47

Foto: AFP

Colocando fim a um cessar-fogo de cinco meses, combates entre rebeldes da região de Tigré, no norte da Etiópia, e forças do governo central eclodiram nos arredores da cidade de Kobo nesta quarta-feira (24). Cada lado culpou o outro pela eclosão dos conflitos.

A luta é um golpe nas esperanças de negociações de paz entre o governo do primeiro-ministro Abiy Ahmed e a Frente de Libertação Popular Tigré (TPLF), o partido que controla a região separatista de mesmo nome.

Os combates na segunda nação mais populosa da África começaram em novembro de 2020 e deslocaram milhões de pessoas, empurrando partes consideráveis de Tigré para a fome e deixando um saldo de milhares de civis mortos.

A disputa opõe o governo sediado em Adis Abeba, chefiado pelo primeiro-ministro Abiy Ahmed há quatro anos, e os insurgentes da TPLF -grupo que liderou a coalizão que governou a Etiópia de 1991 a 2018, numa fase marcada por autoritarismo e denúncias de corrupção.

Na terça (23), os militares acusaram os rebeldes de Tigré de se prepararem para atacar e cobrir seus rastros espalhando notícias falsas nas redes sociais. “Tornou-se um segredo aberto que eles (o TPLF) estão fazendo campanha para incriminar nosso Exército”, disse o comunicado do governo, acusando os rebeldes de divulgarem “propaganda pré-conflito”.

Por sua vez, o comando militar das forças de Tigré acusou o governo de violar o cessar-fogo, afirmando em comunicado que acredita que o ataque perto de Kobo foi uma distração e suas forças esperam uma nova grande ofensiva.

“O processo de paz está sendo preparado para fracassar”, afirmou Debretsion Gebremichael, líder do TPFL. Ele também acusa o governo de reter serviços-chave e bloquear a região. O governo nega.

Redwan Hussein, conselheiro de segurança nacional do primeiro-ministro, afirmou que o Exército etíope derrubou um avião que transportava armas para Tigré. Mas Getachew Reda, porta-voz do TPLF, afirmou que a declaração era “uma mentira descarada”.

A guerra em Tigré eclodiu há quase dois anos e se espalhou para as regiões vizinhas de Afar e Amhara em meados de 2021. Em novembro passado, as forças de Tigré marcharam em direção a Adis Abeba, a capital, mas foram repelidas por uma ofensiva do governo.

Um cessar-fogo foi anunciado em março, depois que o governo declarou uma trégua humanitária para que alimentos pudessem chegar na região. De acordo com a ONU, quase 90% das pessoas no Tigré precisam de ajuda, as taxas de desnutrição “dispararam” e a situação vai piorar até a colheita de outubro.

Nesta quarta, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu um cessar-fogo, negociações de paz, acesso humanitário total e o restabelecimento dos serviços públicos em Tigré. A região está sem serviços bancários e de comunicação desde o final de junho, e as importações de combustível estão restritas, limitando a distribuição da ajuda.

Em junho, o governo de Ahmed formou um comitê para negociar com o TPLF, e no início deste mês disse querer conversas “sem pré-condições”. O governo de Tigré pediu a restauração dos serviços aos civis antes do início dos diálogos, num apelo ecoado por diplomatas.

O primeiro-ministro, vencedor do prêmio Nobel da Paz, chegou ao cargo em meio a protestos populares e, de forma vista como promissora, passou a implementar reformas liberais no país. Rapidamente, porém, entrou em atrito com a TPLF.

Para os líderes da região do Tigré, os projetos visavam à centralização do poder na Etiópia e, portanto, à perda de autonomia regional -um dos pilares políticos das últimas décadas no país.

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