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Motivação de Trump para guardar documentos secretos permanece um mistério

Trump foi acusado na semana passada de levar consigo documentos secretos da Casa Branca e se recusar a devolvê-los

Redação Jornal de Brasília

13/06/2023 17h32

Foto: AFP

O indiciamento do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump está repleto de evidências de um suposto crime, mas falta um elemento-chave: a motivação.

Trump foi acusado na semana passada de levar consigo documentos secretos da Casa Branca e se recusar a devolvê-los.

O bilionário poderia ter evitado as acusações – que podem render até 20 anos de prisão – se tivesse permitido aos funcionários do Arquivo Nacional recuperar todos os documentos oficiais do governo no ano passado.

Em janeiro de 2022, sob pressão, Trump devolveu 15 caixas com documentos que ele mantinha em sua mansão em Mar-a-Lago, na Flórida, incluindo cartas pessoais que trocou com o líder norte-coreano, Kim Jong Un.

Estas caixas continham 197 documentos sigilosos de defesa e inteligência, o que levou a uma intimação do FBI, a polícia federal americana, para obter qualquer outro arquivo secreto que Trump pudesse manter em sua residência.

O advogado de Trump encontrou outros 38 documentos sigilosos em 30 caixas guardadas em um depósito e as entregou ao FBI em 3 de junho de 2022, alegando que se tratava de tudo.

No entanto, outras 34 caixas continuavam escondidas. Em 8 de agosto de 2022, o FBI fez uma batida na mansão e encontrou outros 102 arquivos sigilosos, inclusive 27 no escritório do ex-presidente.

O indiciamento contra Trump corresponde apenas aos documentos que ele manteve em seu poder depois que as primeiras 15 caixas foram devolvidas, reforçando a avaliação do Departamento de Justiça de que um julgamento poderia ter sido evitado.

Moeda de troca?

Não está claro por que não o fez. “Tudo isto aconteceu pela conduta imprudente do presidente”, disse à Fox News Bill Barr, procurador-geral durante o mandato de Trump.

“Qualquer pessoa no país” teria devolvido os arquivos, acrescentou.

Michael Cohen, ex-advogado pessoal de Trump, argumenta que o empresário viu nos documentos uma moeda de troca comercial e política. “Não há dúvida de que ele (Trump) acredita que isto poderia de alguma forma beneficiá-lo”, disse Cohen à MSNBC.

Cohen afirmou, ainda, que os documentos poderiam ajudar Trump a fazer negócios com a Arábia Saudita, arqui-inimiga do Irã, apontando para o acordo de gestão de fundos de 2 bilhões de dólares (cerca de 9,7 bilhões de reais, na cotação atual) de Jared Kushner, genro de Trump, com os sauditas.

O próprio Trump acreditava que estes arquivos deveriam ser de sua propriedade por ter sido presidente, segundo a acusação.

“Não quero ninguém examinando as minhas caixas, realmente não quero”, teria dito o ex-presidente ao seu advogado em maio de 2022, depois da intimação do FBI.

Seu fraco por recordações também pode explicar seu comportamento.

Os arquivos secretos foram recuperados de caixas que continham fotos, recortes de jornal, roupas e até mesmo bolas de golfe, o que dá a ideia de que tudo foi posto ali nos conturbados últimos dias de seu mandato, em janeiro de 2021.

Também havia pastas vazias com a inscrição “secreto” às quais Trump chamava de “boas lembranças”.

“Tipo, altamente confidencial”

Não há evidências de que Trump soubesse sequer o volume do que havia nestas caixas, mas claramente considerava o acesso aos segredos do país uma fonte de poder e prestígio.

Enquanto esteve na Casa Branca, Trump fazia alarde dos segredos de inteligência, mostrando-os a funcionários e convidados e inclusive publicando-os em sua conta no Twitter.

Segundo a ata de acusação, depois que deixou a Presidência, Trump mostrou a visitantes em sua casa de Nova Jersey documentos ultrassecretos que continham um plano de guerra do Pentágono, supostamente contra o Irã.

O ex-presidente disse-lhes que estes documentos apoiavam sua posição contra seu antagonista, o chefe de estado-maior, general Mark Milley.

“Isto sustenta meus argumentos”, disse-lhes Trump. “Exceto por ser, tipo, altamente confidencial.”

Em outra ocasião, ele mostrou a um consultor político o mapa de um país não identificado, dizendo a seu interlocutor que se afastasse porque o documento em questão era altamente sigiloso.

© Agence France-Presse

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