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Milhares de palestinos fogem de Rafah diante da ameaça de ofensiva terrestre israelense

O anúncio coincide com o dia em que os palestinos relembram a “Nakba”, a “Catástrofe”, que a criação do Estado de Israel significou para eles em 1948

Redação Jornal de Brasília

15/05/2024 18h51

Foto: REUTERS/Ibraheem Abu Mustafa

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, garantiu, nesta quarta-feira (15), que uma “catástrofe humanitária” foi evitada em Rafah e afirmou que 500.000 pessoas foram evacuadas desta cidade do sul da Faixa de Gaza, bombardeada por Israel e ameaçada com uma grande ofensiva terrestre.

O anúncio coincide com o dia em que os palestinos relembram a “Nakba”, a “Catástrofe”, que a criação do Estado de Israel significou para eles em 1948.

Durante a “Nakba”, cerca de 760 mil palestinos fugiram ou foram expulsos de suas casas, segundo dados da ONU, para se refugiarem em países vizinhos ou no que viriam a ser a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.

“Setenta e seis anos depois da Nakba, os palestinos seguem sendo deslocados à força. Na Faixa de Gaza, 600.000 pessoas fugiram de Rafah”, indicou a Agência da ONU para os Refugiados Palestinos, UNRWA.

Neste último território, sitiado e devastado pela guerra entre Israel e Hamas, a população civil, várias vezes deslocada desde o início do conflito, voltou às estradas tentando encontrar refúgio, embora a ONU diga que “não há lugar seguro em Gaza”.

Netanyahu prometeu destruir o Hamas após o ataque de 7 de outubro a Israel e está decidido a lançar uma grande operação em Rafah, onde afirma que estão entrincheirados os últimos batalhões do movimento islamista.

Para alcançar o objetivo, Netanyahu está determinado a lançar uma grande operação em Rafah, cidade no extremo sul do território onde vivem centenas de milhares de palestinos em zonas superlotadas, a grande maioria deslocados, onde estariam, segundo o primeiro-ministro israelense, os últimos batalhões do Hamas.

Esta invasão preocupa a comunidade internacional, a começar pelos Estados Unidos, principal aliado de Israel, por suas consequências para a população civil.

“Desacordo” sobre Rafah

Netanyahu acredita que Israel evitou “uma catástrofe humanitária” na cidade. “Por enquanto, quase meio milhão de pessoas evacuaram a zona de combate de Rafah. A catástrofe humanitária de que se fala não ocorreu e não ocorrerá”, disse ele em um comunicado.

O Exército ordenou que os civis abandonassem os setores orientais de Rafah em 6 de maio.

Netanyahu também pressionou o Egito nesta quarta-feira para reabrir a passagem de fronteira de Rafah, sugerindo que o Cairo estava mantendo a população de Gaza “refém” ao não trabalhar com Israel na entrada de ajuda fundamental.

As declarações foram feitas um dia depois de o Egito, o primeiro país árabe a celebrar um acordo de paz com Israel e mediador do cessar-fogo e das conversas sobre reféns, ter acusado Israel de negar a responsabilidade pela crise humanitária em Gaza.

A União Europeia apelou na quarta-feira a Israel para “cessar imediatamente” sua operação em Rafah devido ao risco de “prejudicar gravemente” sua relação bilateral.

Embora o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, tenha ameaçado há poucos dias limitar a ajuda militar americana a Israel para a sua ofensiva em Rafah, o Executivo notificou na terça-feira o Congresso de que irá proceder à entrega de armas a Israel, disseram fontes próximas à AFP.

Em uma entrevista à rede americana CNBC, Netanyahu reconheceu um “desentendimento” com o seu aliado americano “sobre Rafah”. “Mas devemos fazer o que devemos fazer”, acrescentou.

Washington também instou Israel a trabalhar em um plano pós-guerra para Gaza e apoiou uma solução de dois Estados, à qual Netanyahu e seus aliados de extrema direita se opõem fortemente.

O ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, afirmou, nesta quarta-feira que “Israel não deveria ter controle civil sobre a Faixa de Gaza” depois da guerra.

Combates “intensos”

A guerra foi desencadeada pelo ataque de comandos do Hamas ao sul de Israel em 7 de outubro que deixou mais de 1.170 mortos, a maioria civis, segundo um relatório da AFP baseado em dados oficiais israelenses.

Mais de 250 pessoas foram sequestradas durante o ataque e 128 permanecem cativas em Gaza, das quais 36 teriam morrido, segundo o Exército.

Depois de mais de sete meses de guerra, 35.233 pessoas morreram em Gaza devido à ofensiva de Israel, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.

Jornalistas da AFP e várias testemunhas relataram nesta quarta-feira o prosseguimento de ataques aéreos, bombardeios de artilharia e combates durante a noite e a manhã em Rafah, Jabaliya (norte) e no bairro de Zeitun, na Cidade de Gaza.

O movimento libanês Hezbollah reivindicou nesta quarta-feira, pela primeira vez, um ataque a uma base militar próxima a Tiberíades, no norte de Israel, a 30 quilômetros da fronteira com o Líbano.

Além dos bombardeios e dos combates, a população de Gaza sofre com a severa escassez. Segundo o Catar, a ajuda humanitária não chega aos habitantes do território palestino desde 9 de maio.

O Reino Unido anunciou nesta quarta-feira que um primeiro carregamento de cerca de 100 toneladas de ajude humanitária partiu do Chipre em direção à Faixa de Gaza. Os mantimentos vão chegar por via marítima a um pier o temporário construído pelo Exército americano que logo estará em funcionamento.

© Agence France-Presse

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