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Milei enfrenta primeira greve geral na Argentina, 45 dias após assumir

Essa é a primeira manifestação nacional contra o governo e suas drásticas medidas para conter uma inflação anual de 211%, um recorde em 30 anos

Redação Jornal de Brasília

24/01/2024 12h31

Foto: Emiliano LASALVIA / AFP

O presidente argentino, Javier Milei, enfrenta nesta quarta-feira (24) a primeira greve geral em apenas 45 dias de governo, contra seu rígido ajuste fiscal e um gigantesco plano de reformas de leis e normas há décadas em vigor.

No início da manhã, manifestantes começaram a se reunir, vindos de todos os lados da cidade de Buenos Aires, com faixas que carregavam slogans como “O país não está à venda” para participar da manifestação principal, que acontecerá em frente ao Congresso nacional, observou a AFP.

O protesto sindical ocorrerá em todo o país a partir do meio-dia, particularmente em rejeição às alterações por decreto do regime trabalhista promovidas pelo ultradireitista Milei, que limitam o direito à greve e afetam o financiamento dos sindicatos.

A greve geral é convocada pela maior central sindical da Argentina, a Confederação Geral do Trabalho (CGT), de orientação peronista, com o apoio da Confederação dos Trabalhadores Argentinos (CTA), a segunda maior, que esperam reunir dezenas de milhares de manifestantes.

A ministra da Segurança, Patrícia Bullrich, descreveu os organizadores do protesto como “sindicalistas mafiosos, gestores da pobreza” e incluiu no seu ataque contra parte da oposição “juízes cúmplices e políticos corruptos, todos defendendo os seus privilégios” contra as reformas promovidas por Milei, em publicação na rede social X.

A medida contou com o apoio de outros sindicatos, organizações de direitos humanos e organizações de trabalhadores de todo o mundo, que convocaram manifestações, com eventos de apoio em Madri, Londres, Berlim e Paris, entre outras cidades.

No Uruguai, o PIT-CNT, único sindicato de trabalhadores, convocou uma manifestação de repúdio às “medidas antipopulares” de Milei, “que ameaçam a vida, os direitos e a liberdade dos trabalhadores e do povo argentino”.

O transporte aéreo foi um dos primeiros setores a sentir os efeitos sobre sua atividade, já que a estatal Aerolíneas Argentina, a maior companhia aérea do país, cancelou todos os seus voos do dia várias horas antes do protesto.

“Estou indignado, já perdi dinheiro vindo para cá e a noite no hotel. Não sei se me devolverão”, disse Sergio González à AFP no aeroporto local Jorge Newbery, ao saber que havia perdido seu voo reservado para Mendoza (oeste).

Primeiro desafio

Essa é a primeira manifestação nacional contra o governo e suas drásticas medidas para conter uma inflação anual de 211%, um recorde em 30 anos.

Em dezembro, em termos interanuais, o consumo caiu 13,7%, e a produção nas pequenas indústrias, 26,9%, segundo a câmara empresarial CAME.

Além disso, a desvalorização de 50% e a liberação dos preços dos combustíveis, entre outras decisões de Milei, reduziram drasticamente o poder de compra dos trabalhadores e aposentados, e a insatisfação foi parar nas ruas.

Diversas pesquisas mostram, no entanto, que o presidente mantém uma imagem positiva entre 47% e 55%.

A greve durará 12 horas a partir do meio-dia (mesmo horário em Brasília) e começará com uma marcha da sede da CGT, a poucos quarteirões da Praça de Maio, até o Congresso.

“O que a greve de quarta-feira vai mostrar é que há duas Argentinas. Há uma Argentina que quer ficar para trás, no passado, na decadência”, disse Milei esta semana.

Serviços essenciais

O mega Decreto de Necessidade e Urgência (DNU), com 366 artigos, introduz várias mudanças na antiga e consolidada legislação trabalhista argentina, em especial sobre o direito à greve.

Milei exige coberturas mínimas de 75% em serviços essenciais como educação, transporte e alimentação, entre outros, e incentiva demissões de grevistas por justa causa.

O DNU também regulamenta assembleias trabalhistas, condiciona a arrecadação de fundos sindicais e reduz indenizações por demissão.

A CGT questionou a constitucionalidade do capítulo trabalhista do megadecreto na Justiça, que suspendeu seus efeitos provisoriamente. O governo recorreu da decisão, e o caso foi elevado à Suprema Corte, atualmente em recesso.

 

© Agence France-Presse

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