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Marcha de mulheres ocupa as ruas em 4º dia de protesto contra líder da Belarus

A maioria delas veste branco, e alguns grupos fazem protestos silenciosos, enquanto outras marcham pelas ruas da cidade pedindo liberdade

Redação Jornal de Brasília

12/08/2020 14h26

Women dressed in white clothes protest against police violence during recent rallies of opposition supporters, who accuse strongman Alexander Lukashenko of falsifying the polls in the presidential election, in Minsk on August 12, 2020. (Photo by Sergei GAPON / AFP)

Ana Estela de Sousa Pinto
Bruxelas, Bélgica

Após três noites de repressão violenta a protestos contra a reeleição do líder autocrata Alexandr Lukachenko, na Belarus, desde a manhã desta quarta (12) milhares de mulheres tomaram as ruas da capital do país, Minsk.

A maioria delas veste branco, e alguns grupos fazem protestos silenciosos, enquanto outras marcham pelas ruas da cidade pedindo liberdade. A presença feminina começou a ser vista logo cedo no centro de Minsk, com centenas de garotas perfiladas com rosas nas mãos. Algumas gritavam “Nós podemos!”, mas a maioria pedia silêncio, para evitar repressão.

Segundo veículos de informação bielorrussos, o protesto ganhou a adesão de alguns pedestres, mas também rejeição: motoristas gritam “vá trabalhar” ao passar em frente ao local da manifestação. Dispersado pela polícia, deixou uma fileira de flores no chão e se desdobrou em várias outras aglomerações de mulheres.

Não há informação de violência contra a “revolta feminina”, mas espera-se uma quarta noite de protestos e repressão. Manifestantes prometeram bloquear as principais vias de acesso de Minsk, e às 19h (horário local, 13h no Brasil) já havia notícias de que grupos que começavam a se formar estavam sendo presos.

Desde a noite de domingo (9), quando começaram as manifestações, mais de 6.000 pessoas foram detidas, segundo o Ministério do Interior. Sem notícias, familiares se aglomeram desde cedo em frente ao centro de detenção de Akrescina, nos arredores de Minsk.

Segundo o ministério, na noite desta terça (11), manifestações contra a reeleição ocorreram em 25 cidades do país e deixaram 51 feridos. Desde o começo dos protestos, na noite de domingo, já são 250 hospitalizados segundo dados oficiais, incluindo ao menos uma criança.

Julia Chereukho, 5, levou quatro pontos depois que policiais estouraram o vidro do carro em que estava, provocando um corte de 2,5 cm em sua testa.

Nas redes sociais, vídeos mostravam tropas de choque retirando motoristas de dentro dos veículos e os espancando. O objetivo era impedir buzinaços contra o governo, mas a agressão foi indiscriminada, segundo Inna, mãe de Julia.

Ao site jornalístico independente Tut.by ela disse que estava parada em um congestionamento na cidade de Grodno quando a família foi cercada por policiais.

“Mãe, fomos atacados por bandidos?”, perguntou, segundo Inna, a criança com sangue escorrendo pelo rosto, como mostra foto que ela divulgou na internet.

Inna acompanhou a menina no hospital, mas o pai de Julia foi detido pela tropa de choque e libertado apenas na manhã seguinte. O carro da família foi apreendido.

Moradores da cidade que falaram com a reportagem sob condição de anonimato disseram que o governo bielorrusso tem lançado ações de intimidação, com policiais não fardados atacando pedestres e veículos a esmo pela cidade.

Um deles relatou ter visto uma van, sem logotipos, perseguir um veículo até bater nele para que parasse. Os ocupantes foram depois espancados.

Independente desde 1990, após o fim da União Soviética, a Belarus é governada há 26 anos por Lukachenko, que venceu a única eleição presidencial considerada livre e justa no país, em 1994.

O crescimento da campanha da candidata oposicionista independente Svetlana Tikhanovskaia, que reuniu vários grupos e se espalhou por várias cidades do país, deixou mais evidente a manipulação dos resultados eleitorais -o governo anunciou que Lukachenko vencera com mais de 80% dos votos- desencadeando os protestos.

Tikhanovskaia, 37, uma dona de casa e mãe de dois filhos que assumiu a candidatura após a prisão de seu marido, o blogueiro Siarhei Tikhanovski, fugiu para a Lituânia na terça.

Na terça, a União Europeia divulgou um comunicado em nome dos 27 países-membros afirmando que não considera a eleição deste ano livre nem justa e que “as autoridades aplicaram violência desproporcional e inaceitável”.

O bloco afirma que pode “tomar medidas contra os responsáveis ??pela violência observada, prisões injustificadas e falsificação de resultados eleitorais”, mas decisões sobre sanções precisam ser aprovadas por unanimidade e medidas práticas não devem aparecer tão rapidamente.

Com um afastamento dos europeus, o governo bielorrusso, já preso à órbita geopolítica e econômica russa, pode ficar ainda mais sujeito às pressões do presidente Vladimir Putin, que pressiona por mais concessões na associação chamada de Estado Único (por meio da qual a Rússia tenta reabsorver a Belarus numa única nação).

Embora líderes da oposição tenham pedido que manifestações sejam pacíficas, o governo diz que cinco motoristas jogaram seus carros contra policiais e coquetéis molotovs foram lançados.

Em Brest, um manifestante levou um tiro de munição letal, depois de não obedecer a ordem para parar de atacar a tropa, segundo o Ministério do Interior. O governo afirmou que há 14 policiais feridos.

Vídeos nas redes sociais mostravam repórteres sendo espancados, embora usassem coletes e crachá de identificação. São ao menos 50 jornalistas presos desde domingo.

As informações são da FolhaPress

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