ANDRÉ FONTENELLE
PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS)
Enfraquecido na política interna, o presidente da França, Emmanuel Macron, assumiu mais do que nunca o papel de garoto-propaganda do país no exterior. Em um almoço com empresários brasileiros, nesta quinta-feira (12), em Paris, colocou uma pulseira pataxó e elogiou os atletas do Brasil que disputaram os recém-encerrados Jogos Olímpicos e Paralímpicos.
O grupo de 35 empresários foi levado a Paris pelo grupo Lide, do ex-governador de São Paulo João Doria, para discutir formas de fortalecer a relação comercial entre os dois países. Hoje o Brasil é apenas o 27º parceiro comercial da França, embora venha aumentando a presença de empresas brasileiras no mercado francês.
“Fiel a seu costume, o presidente pegou seu cajado de peregrino para promover a atratividade de nosso país”, afirmou a assessoria do Eliseu após o encontro. Desde que assumiu a presidência, em 2017, Macron tem feito da busca de investimentos estrangeiros uma prioridade. Há seis anos, criou o evento “Choose France” (“Escolha a França”) com esse objetivo.
A pulseira usada por Macron nesta quinta é obra do artesão e líder indígena Arassari Pataxó. Foi oferecida por Alexandre Allard, empresário francês radicado no Brasil e criador do complexo hoteleiro, gastronômico e cultural Cidade Matarazzo, em São Paulo.
No almoço no Palácio do Eliseu, sede do governo, Macron reiterou o apoio francês à entrada do Brasil na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), fórum intergovernamental de estímulo ao comércio. Em entrevista à Folha de S.Paulo no ano passado, a chanceler francesa, Catherine Colonna, havia expressado suporte a essa antiga reivindicação brasileira, um sinal da melhora na relação entre Brasil e França depois de anos de tensão durante o governo de Jair Bolsonaro.
O presidente francês foi “menos assertivo”, na expressão do empresário e ex-ministro (Desenvolvimento, primeiro governo Lula) Luiz Fernando Furlan, em relação às negociações do acordo comercial entre União Europeia e Mercosul, que se arrastam há vários anos. O acordo aumentaria a presença na França de produtos brasileiros, como a carne. O tema é delicado na França, porque os agricultores, cujo lobby é forte, temem a concorrência do Brasil.
Macron sugeriu uma maior participação brasileira na Fashion Week, a semana de moda de Paris. A Farm Rio, que inaugurou uma loja em Paris durante os Jogos Olímpicos, anunciou novos investimentos na França nos próximos meses.
O presidente recebeu os empresários brasileiros em um momento de fragilidade política interna. Em junho, ele dissolveu a Assembleia Nacional, o equivalente francês da Câmara dos Deputados, e convocou novas eleições, depois do mau resultado de seu grupo político no pleito para o Parlamento Europeu.
Sua coalizão, Ensemble (Juntos), saiu ainda mais enfraquecida da eleição legislativa, com menos de um terço das cadeiras. Após dois meses de impasse, Macron nomeou na semana passada como primeiro-ministro um político de direita, Michel Barnier, que vai tentar formar uma coalizão capaz de governar o país. Segundo Luiz Fernando Furlan, a crise política francesa não foi discutida no almoço, para não politizar o encontro.
João Doria contou ter dito a Macron que “o agro brasileiro não é o vilão, é a solução”, e que o presidente francês “foi muito sincero ao dizer que defende o diálogo e não a imposição” em relação ao cumprimento, pelos produtores brasileiros, das normas ambientais europeias.
“Não é possível colocar o agronegócio [brasileiro] dentro de uma prisão. Eu tenho a impressão que a União Europeia já tem essa questão equacionada, de ter um diálogo positivo, propositivo”, emendou Pedro Antonio Gouvêa Vieira, presidente da Câmara de Comércio França-Brasil.
O empresário Dan Ioschpe, representando o B20, fórum de empresários dos países do G20, entregou a Macron um documento com recomendações de políticas que favoreçam um desenvolvimento sustentável e inclusivo e a transição para energias limpas. O mesmo documento, explicou, foi entregue ao presidente Lula semanas atrás. Macron vai ao Brasil em novembro para a cúpula do G20.