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Líder supremo iraniano considera Biden e Trump iguais

“A atual administração dos Estados Unidos não é diferente da anterior porque, embora utilize outras palavras sobre a questão nuclear, exige do Irã o mesmo que Trump”, afirmou Ali Khamenei

Marcus Eduardo Pereira

28/08/2021 13h36

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e seu antecessor Donald Trump são iguais, afirmou neste sábado (28) o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, em um discurso no qual apresentou dúvidas sobre a possibilidade de uma rápida retomada das negociações sobre o programa nuclear iraniano.

“A atual administração dos Estados Unidos não é diferente da anterior porque, embora utilize outras palavras sobre a questão nuclear, exige do Irã o mesmo que Trump”, afirmou Khamenei.

O aiatolá Khamenei fez a declaração enquanto os países ocidentais, assim como Rússia e China, esperam desde o fim de junho um sinal de vontade do Irã de retomar as negociações iniciadas em Viena em abril para tentar salvar o acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano, que foi abandonado de maneira unilateral há três anos pela administração Trump.

“Sobre a questão nuclear, os americanos não têm vergonha: enquanto eles se retiraram (do acordo de Viena) diante dos olhos do mundo inteiro, eles falam agora e fazem exigências como se a República Islâmica fosse o país que se retirou”, afirmou Khamenei.

“Nos bastidores da política externa dos Estados Unidos há um lobo cruel que às vezes se transforma em uma raposa astuta”, disse o líder iraniano, durante reunião com o novo Executivo do presidente Ebrahim Raisi.

O novo governo do Irã assumiu o poder na quarta-feira, depois de obter o voto de confiança do Parlamento. 

Raisi sucedeu no início de agosto o moderado Hassan Rohani – principal arquiteto, do lado iraniano, do acordo de 2015 -, depois de vencer as eleições de 18 de junho, marcadas por uma taxa de abstenção recorde e pela ausência de adversários com chances. 

Após o acordo de 2015 assinado em Viena, o Irã se viu aliviado das sanções ocidentais, em troca do compromisso de não desenvolver armas atômicas e de uma drástica redução de seu programa nuclear, que está sob estrito controle da ONU. 

Um ano depois da decisão de Trump de abandonar o acordo e voltar a impor sanções ao Irã, o governo de Teerã adotou represálias e renunciou gradualmente à maioria dos compromissos nucleares que havia aceitado com base no pacto. 

Biden afirma desejar que Washington retorne ao acordo de Viena. Entre abril e junho, a capital austríaca foi cenário de seis rodadas de negociações nucleares entre o Irã e as potências mundiais, com a participação indireta dos Estados Unidos. 

A última terminou em 20 de junho, sem o anúncio de uma data para outro encontro, com a participação dos representantes do governo iraniano de Rohani, dois dias após as eleições presidenciais vencidas por Raisi. 

Khamenei, que tem controle sobre a questão nuclear iraniano, advertiu em abril que as negociações em Viena “não deveriam ser prolongadas” porque isto seria “prejudicial” aos interesses do Irã. 

Confiança “abalada”

Após a eleição, Raisi disse que não autorizaria “negociações apenas pela vontade de negociar” sobre a questão nuclear. 

“Mas todas as negociações que garantam os interesses nacionais do Irã certamente serão apoiadas”, completou. 

Em duas mensagens divulgadas depois de assumir o cargo, Hosein Amir-Abdolahian, o novo ministro iraniano das Relações Exteriores, não fez qualquer menção ao acordo de 2015 e disse que “os países vizinhos e a Ásia representam a prioridade número um”. 

Na política interna, Khamenei disse a Raisi e seus ministros que a confiança do povo é o “maior capital” que um governo tem, mas “infelizmente ficou um pouco danificada e você deve restaurá-la”.

Ele disse que a forma de fazer isto é “que as palavras e ações dos funcionários se tornem apenas uma” e que as promessas feitas sejam cumpridas.

A violenta crise econômica que abala o Irã desde o restabelecimento das sanções foi ampliada pela pandemia do coronavírus, que afeta o país com força, apesar das medidas das autoridades para conter a doença.

A repressão violenta de várias ondas de protestos desde o final de 2017 e como a tragédia do Boeing ucraniano (176 mortos) derrubado em janeiro de 2020 depois de decolar de Teerã (e pelo qual as forças iranianas reconheceram sua responsabilidade depois que as autoridades negaram por três dias) contribuíram para o que o ex-presidente Rohani chamou de crise de confiança da população.

© Agence France-Presse

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