IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Em uma demonstração da fragilidade do cessar-fogo de dois meses entre Israel e o Hezbollah, ambos os rivais se acusaram de violar o arranjo nesta quinta (28) -o segundo dia de validade do arranjo.
Segundo nota das Forças de Defesa de Israel, veículos com suspeitos de integrar a organização rival foram avistados entrando na região ao sul do rio Litani, que fica a 30 km da fronteira israelense e marca o início da zona tampão do sul do Líbano.
Invadida por Israel no mês passado, pelo acordo a área será ocupada pelo Exército libanês e proibida para milicianos do Hezbollah, que lá fizeram suas bases para ataques contra Israel desde o fim da mais recente guerra até então entre os rivais, de 2006.
Naquele ano, uma resolução do Conselho de Segurança da ONU determinou um arranjo semelhante ao mediado agora pelos Estados Unidos, com participação francesa. Ele, assim como acordo informal quando Israel encerrou 18 anos de ocupação da região em 2000, fracassou.
Um deputado do Hezbollah, que também é partido político, disse que Israel atirou contra civis voltando para suas casas no sul libanês. “Há violações hoje por Israel, mesmo desse jeito”, afirmou Hassan Fadlallah no Parlamento.
O Exército libanês, por sua vez exortou moradores a não voltarem a áreas em que os israelenses ainda estão operando.
Não está claro ainda se a troca de acusações coloca todo o cessar-fogo todo em risco, o que ainda não parece ser o caso. Um drone atingiu ao menos três dos suspeitos, segundo a mídia libanesa, e o Exército de Tel Aviv prometeu usar a força para manter a trégua, uma contradição em termos.
Mais cedo, tanques do país haviam disparado contra posições atribuídas ao Hezbollah em seis cidades fronteiriças, num incidente por ora considerado isolado. As localidades ficam dentro da chamada Linha Azul, uma faixa de 2 km de largura que deveria marcar militarmente a separação de forças na fronteira.
Seja como for, a hostilidade demonstra a volatilidade do arranjo. Na véspera, o Hezbollah havia tentado pintar o cessar-fogo como uma vitória, prometeu manter o apoio ao Hamas palestino, a razão nominal de sua guerra atual com Israel, e disse “manter o dedo no gatilho”.
Não é tão simples. As escaramuças fronteiriças iniciadas após os terroristas da Faixa de Gaza lançarem o mortífero ataque de 7 de outubro de 2023, uma forma algo tímida de apoio, acabaram virando uma guerra pesada no fim de setembro.
Israel matou quase toda a liderança do Hezbollah, inclusive seu comandante supremo, Hassan Nasrallah.
Destruiu o que chamou de 80% do arsenal de mísseis e foguetes do grupo, estimado em quase 200 mil armas, o mais poderoso do mundo em mãos de um ator não estatal.
O grupo, apoiado assim como o Hamas pelo Irã, de toda forma manteve sua rotina de lançar projeteis contra Israel, mesmo combalido. Todo o bolsão do sul do país é considerado por especialistas uma complexa rede de bunkers e túneis com depósitos de armas, que Israel visou degradar após invadir novamente o país vizinho.
O cessar-fogo foi celebrado tanto em Gaza quanto em Teerã como uma possibilidade para uma paz regional maior, sem que os beligerantes abandonassem sua retórica anti-Israel.