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Hamas acusa Israel de invadir hospital em Gaza, e OMS pede preservação de instalações

“As forças de ocupação israelenses estão atacando o hospital Kamal Adwan depois de cercar e bombardear o local durante vários dias”

Redação Jornal de Brasília

12/12/2023 18h01

Palestinos que fogem da Cidade de Gaza e de outras partes do norte de Gaza em direção às áreas do sul caminham ao longo de uma rodovia em 9 de novembro de 2023, em meio às batalhas em curso entre Israel e o grupo islâmico palestino Hamas. Foto: MAHMUD HAMS / AFP

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, sob controle do Hamas desde 2007, acusou o Exército de Israel nesta terça-feira (12) de atacar um hospital no norte do território palestino, sob bombardeio desde os ataques da facção terrorista no sul israelense, há pouco mais de dois meses.

“As forças de ocupação israelenses estão atacando o hospital Kamal Adwan depois de cercar e bombardear o local durante vários dias”, afirmou o porta-voz da pasta, Ashraf al-Qudra. Os soldados, segundo ele, “estão reagrupando os homens, incluindo os profissionais de saúde, no pátio do hospital”. “Tememos que os prendam ou os matem os profissionais.”

A agência de assuntos humanitários da ONU (Ocha, na sigla em inglês) afirma que o hospital “continua cercado por tropas e tanques israelenses”. “Há relatos de combates com grupos armados nas suas imediações por três dias consecutivos”, disse a entidade. Atualmente, o centro de saúde atende a 65 pessoas, incluindo 12 crianças na UTI e seis recém-nascidos em incubadoras.

Além dos pacientes, o local abriga quase 3.000 palestinos que se deslocaram por causa da guerra e aguardam uma operação de resgate sob “escassez extrema de água, comida e energia elétrica”, relatou a Ocha, citando relatos vindos do local.

Civis costumam procurar hospitais para se abrigarem durante um conflito armado, uma vez que esses espaços, em tese, estão protegidos pelas regras do direito internacional que regem situações de guerra.

Os atuais combates que se desenrolam na Faixa de Gaza, porém, não têm poupado profissionais de saúde e hospitais. As tropas israelenses já entraram em outros centros médicos de Gaza nas últimas semanas, como o hospital Al-Shifa, o maior do território.

O próprio hospital tomado nesta terça por Tel Aviv já estava em risco, segundo relatos na segunda, o prédio foi atingido após combates na área, de acordo com a Ocha. A informação que se tem até agora é que duas mães teriam sido mortas e várias pessoas teriam ficado feridas.

O Kamal Adwan é um dos últimos hospitais em funcionamento no norte de Gaza após o cerco ao território diminuir drasticamente a chegada de água, combustível e alimentos aos palestinos. Tel Aviv também deu seguidos ultimatos para esvaziar toda a área, incluindo os centros de saúde.

Israel diz ter evidências de que o Hamas utiliza a população civil e os hospitais como escudos para túneis, o que o grupo terrorista nega. Casos em que um dos lados da guerra faz uso da proteção dada a hospitais para cometer um “ato prejudicial ao inimigo” suspendem a salvaguarda a esses espaços, embora eventuais ofensivas ainda tenham que fazer distinção entre civis e combatentes.

Procurado pela agência de notícias AFP, o Exército israelense não respondeu até o momento.
O diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Adhanom, disse nesta terça (12) no X, antigo Twitter, que um comboio de resgate liderado pela entidade ao hospital Al-Ahli foi parado duas vezes em postos de controle no sábado, causando um atraso que levou à morte de um dos 19 pacientes gravemente feridos que eram transportados.

Além disso, um membro da equipe do Crescente Vermelho Palestino, a Cruz Vermelha local, teria sido retirado do comboio, agredido e assediado antes de retornar horas depois a pé, sem roupas e descalço, com as mãos ainda amarradas atrás das costas.

“Estamos profundamente preocupados com as revistas prolongadas e a detenção de trabalhadores da saúde que colocam em risco a vida de pacientes já frágeis”, afirmou Adhanom.

Nenhum representante do governo ou do Exército israelense havia se manifestado sobre as acusações do chefe da OMS.
Também nesta terça (12), o representante da OMS para a Palestina, Richard Peeperkorn, disse que só 11 hospitais de Gaza permanecem parcialmente funcionais menos de um terço do total.

“Em apenas 66 dias, o sistema de saúde passou de 36 hospitais funcionais para 11 parcialmente funcionais ?um no norte e 10 no sul”, afirmou, em entrevista coletiva. “Não podemos nos dar o luxo de perder qualquer instalação de saúde ou hospital”, disse.

“Esperamos, imploramos para que isso não aconteça.”
O sul de Gaza não convivia com bombardeios tão intensos até a semana passada, quando Tel Aviv expandiu suas operações após deixar um cenário de terra arrasada no norte.

Nesta terça (12), após tanques e aviões de guerra israelenses bombardearem a região, a ONU disse que a distribuição de ajuda aos moradores foi interrompida devido à intensidade dos combates. Em Khan Yunis, principal cidade do sul, palestinos disseram que os ataques estão concentrados no centro. Um deles disse que parte dos tanques operava na rua onde fica a casa de Yahya al-Sinwar, líder do Hamas em Gaza.

Tawfik Abu Breika, um palestino idoso, disse que seu prédio residencial na mesma cidade foi atingido sem aviso prévio por um ataque aéreo. “A consciência do mundo está morta. Não há humanidade ou qualquer tipo de moral”, disse Breika à agência de notícias Reuters enquanto seus vizinhos vasculhavam os escombros do prédio. “Este é o terceiro mês que estamos enfrentando morte e destruição. Isso é limpeza étnica, destruição completa da Faixa de Gaza para deslocar toda a população.”

Mais ao sul, em Rafah, cidade que faz fronteira com o Egito, autoridades de saúde locais disseram que 22 pessoas, incluindo crianças, foram mortas em um ataque aéreo israelense a casas durante a noite. Trabalhadores de emergência civil estavam procurando mais vítimas sob os escombros.

“À noite não conseguimos dormir por causa dos bombardeios e de manhã percorremos as ruas em busca de comida para as crianças”, disse Abu Khalil, 40, pai de seis filhos. “Não consegui encontrar pão e os preços de arroz, sal ou feijão dobraram várias vezes. Isso é fome”, disse ele. “Israel nos mata duas vezes, uma com bombas e outra com fome.”

O Hamas afirma que 18.412 já morreram desde o início da ofensiva israelense, e quase 50 mil ficaram feridos. O número não inclui desaparecidos.

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