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Explosão mata ao menos 20 e deixa centenas de feridos em Nagorno-Karabakh

Redação Jornal de Brasília

26/09/2023 21h55

Foto: República de Artsakh/Reprodução via REUTERS

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Autoridades locais de Nagorno-Karabakh -enclave separatista armênio tomado pelo Azerbaijão há uma semana- atualizaram nesta terça-feira (26) para 68 o número de mortes em uma explosão ocorrida em um posto de gasolina na véspera.

O número é menor que o informado pelo ministro da Saúde armênio, que havia divulgou mais cedo o a cifra de 125 óbitos. Há, porém, mais 105 pessoas desaparecidas e quase 300 feridas, de acordo com autoridades do território.

O incidente, em circunstâncias não explicadas, ocorreu na capital regional, Stepanakert, em meio à fuga em massa de armênios que temem ser alvo de uma limpeza étnica por parte dos azeris. Lideranças separatistas de Karabakh pediram ajuda externa urgente para socorrer as vítimas e lidar com o que descreveram como uma catástrofe.

“A maior parte [dos feridos] está em estado grave ou muito grave”, disse o encarregado de direitos humanos da região, Gegham Stepanyan. Segundo ele, vários motoristas estavam em uma fila para abastecer os tanques de seus veículos no momento da explosão.

Ao menos 28 mil refugiados haviam chegado à Armênia até esta terça. O êxodo ocorre após o Azerbaijão derrotar, no último dia 20, as forças armênias do enclave separatista em uma operação relâmpago, finalizada em meras 24 horas. Os militares de Karabakh, território autônomo que até a ação azeri abrigava uma população de 120 mil pessoas, foram alvos de artilharia e forçados a declarar um cessar-fogo.

Segundo a Armênia, mais de 200 pessoas morreram, e 400 ficaram feridas na ofensiva.

A vitória azeri parece pôr fim a um dos “conflitos congelados” após a dissolução da União Soviética. O presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, afirmou que, com seu “punho de ferro”, havia enterrado a ideia de um Nagorno-Karabakh armênio independente, e que seu país transformaria a região em um “paraíso”.

Armênios étnicos haviam assumido controle da região e conquistado territórios vizinhos pouco depois da queda da Cortina de Ferro, em conflitos que ficaram conhecidos como a Primeira Guerra de Karabakh.

Ocorridos entre 1988 a 1994, eles deixaram cerca de 30 mil mortos e mais de um milhão de deslocados, azeris em sua maioria.

Em 2020, após décadas de tensões, o Azerbaijão, apoiado pela Turquia, venceu a chamada Segunda Guerra de Karabakh, que durou 44 dias, e reconquistou territórios ao redor da região. Esse conflito terminou com um acordo de paz mediado pela Rússia. Mas os armênios dizem ter sido “abandonados” e acusam Moscou, em guerra com Kiev, de não ter garantido o cumprimento dos termos do tratado.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, discutiu a crise nesta terça com seu homólogo iraniano, Ebrahim Raisi -Teerã faz fronteira tanto com a Armênia quanto com o Azerbaijão. Segundo o Kremlin, qualquer missão de observação internacional na região de Karabakh terá de contar com o aval do governo azeri.

Aliyev, o presidente do Azerbaijão, disse que tomará medidas para garantir os direitos dos armênios étnicos que optarem por permanecer em Nagorno-Karabakh. As declarações, porém, não arrefeceram os temores da população local, e nesta terça centenas de veículos se enfileiravam no corredor de Lachin, única ligação terrestre entre o enclave e a Armênia, de acordo com informações da agência de notícias AFP.

A Armênia acusa os vizinhos de praticar genocídio e limpeza étnica, palavras com forte eco na região devido ao massacre de armênios em 1915 pelos otomanos -seus descendentes diretos, os turcos, são aliados dos azeris.

A liderança do enclave separatista disse à agência Reuters no domingo que os 120 mil armênios étnicos da região pretendem fugir para a Armênia pois não querem viver como parte do Azerbaijão. Antes disso, na sexta-feira, o premiê armênio, Nikol Pashinyan, afirmou que havia alocado espaço para receber 40 mil pessoas.

Ilham Aliyev, por sua vez, fez uma aparição ao lado do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, nesta terça-feira em que lamentou que a dissolução da URSS em 1991 tenha encerrado o corredor terrestre entre seu país e o exclave de Nakhchivan, que fica entre a Armênia, a Turquia e o Irã, em uma declaração que parece sinalizar qual é seu próximo objetivo territorial.

A pressão azeri por uma ligação com Nackchivan enfrentaria, porém, algumas questões práticas. Moscou tem um pacto de defesa com Ierevan, mantendo cerca de 3.000 soldados naquela que é a sua maior base operante fora de seu território. Se houver uma ação armada contra a soberania armênia, assim, no papel os russos são obrigados a defender o aliado.

Como a última coisa que Putin precisa é um conflito em outra fronteira tensa, é improvável que qualquer acomodação envolva disparos. Resta saber se Moscou está pronta para aceitar uma negociação que rife territórios sob sua suposta proteção.

Representantes da União Europeia também pretendiam discutir a crise nesta terça numa reunião em Bruxelas com representantes da Armênia e do Azerbaijão. O encontro ainda terá a participação de diplomatas da Alemanha e da França.

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