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Mundo

EUA se posiciona contra falas de Putin: “não estamos voltando para a União Soviética”

Embaixadora norte-americana afirmou na ONU que ações russas representam um risco para todos os países

Redação Jornal de Brasília

23/02/2022 19h46

Foto: Reprodução

A Embaixadora dos Estados Unidos na Organização das Nações Unidas (ONU), Linda Thomas-Greenfield, discursou nesta quarta-feira (23) sobre a situação dos territórios da Ucrânia ocupados temporariamente. Durante o discurso, a embaixadora também afirmou que as ações da Rússia são um risco para todos os países e para a própria ONU.

“As ações da Rússia apenas confirmaram o que nós e outras nações alertamos. Outros Estados Membros da ONU devem reconhecer a ameaça que se apresenta diante de todos nós hoje, antes que seja tarde demais”, falou.

Thomas-Greenfield criticou o discurso do presidente russo, Vladimir Putin, onde o mesmo indicava que gostaria de uma “era de impérios”. “Ele deu a indicação mais clara de suas intenções na segunda-feira, quando pediu ao mundo que voltasse no tempo mais de 100 anos, antes mesmo da existência das Nações Unidas, para uma era de impérios. Ele afirmou que a Rússia pode recolonizar seus vizinhos. E que ele usará a força – ele usará a força – para fazer das Nações Unidas uma farsa”, disse.

A embaixadora relatou que o país europeu estaria criando uma “falsa realidade”, que tem gerado consequências para inocentes. “Até o momento, a guerra da Rússia no leste da Ucrânia já matou mais de 14.000 pessoas. Quase 3 milhões de ucranianos – metade dos quais são idosos e crianças – precisam de comida, abrigo e outras ajudas para salvar vidas”.

“Os Estados Unidos rejeitam isso com firmeza. Estamos em 2022. Não estamos voltando para uma era de impérios e colônias – ou para a URSS ou a União Soviética”, afirmou.

Ela também falou sobre os impactos econômicos que poderiam surgir com a tensão entre os países, já que a Ucrânia é um dos maiores fornecedores de trigo para outros países. “As ações da Rússia podem causar um aumento nos preços dos alimentos e causar a uma fome ainda mais desesperadora em lugares como Líbia, Iêmen e Líbano”, afirma.

Thomas-Greenfield citou as últimas ações do presidente Joe Biden, que anunciou medidas contra instituições financeiras russas. A Rússia declarou que “responderá com força” às sanções.

Confira o discurso na integra:

“Obrigadoa, Sr. Presidente.

Estados Membros das Nações Unidas, estamos em uma encruzilhada na história deste órgão. Na segunda-feira, o presidente Putin anunciou que a Rússia reconheceria como “estados independentes” as chamadas regiões DNR e LNR, que são parte do território soberano da Ucrânia controlado por representantes da Rússia desde 2014. Ele então ordenou que as forças militares russas, sob o pretexto de “manter a paz”, enviassem tropas para essas regiões.

Nas horas que se seguiram, o secretário-geral Guterres disse que isso era “uma violação da integridade territorial e soberania da Ucrânia e inconsistente com os princípios da Carta das Nações Unidas”. Ele reafirmou isso para a gente em seu discurso de hoje. Em uma reunião de emergência na noite de segunda-feira, todos, exceto um membro do Conselho de Segurança, pediram diálogo e diplomacia, o que só pode acontecer se a Rússia parar sua agressão não provocada contra a Ucrânia.

A Rússia fez isso? Não. Em vez disso, respondeu com ações adicionais que minam a soberania da Ucrânia, incluindo desinformação em massa – o que vimos novamente hoje –, ataques cibernéticos e esforços para criar um pretexto de “bandeira falsa”, além do esmagador acúmulo militar da Rússia de mais de 150.000 soldados perto das fronteiras da Ucrânia.

As ações da Rússia apenas confirmaram o que nós e outras nações alertamos. Outros Estados Membros da ONU devem reconhecer a ameaça que se apresenta diante de todos nós hoje, antes que seja tarde demais. Colegas, não há meio termo aqui. Pedir que ambos os lados diminuam a escalada só dá à Rússia um passe. A Rússia é o agressor aqui.

A história nos diz que olhar para o outro lado é, em última análise, o caminho mais caro. E precisamos apenas olhar para a última década em busca de uma indicação do caminho que a Rússia está tomando. Desde 2014, a Rússia ocupou a Crimeia – após sua invasão ilegal – e vem fabricando e alimentando conflitos militares em andamento no leste da Ucrânia. Nos últimos anos, incluindo os comentários do presidente Putin esta semana, os líderes russos afirmaram que a Ucrânia não é um país real; eles questionaram seu direito de existir.

As ações da Rússia são uma violação não provocada do direito internacional, da soberania e integridade territorial da Ucrânia e uma contradição direta dos acordos de Minsk. A agressão da Rússia não apenas ameaça toda a Ucrânia, mas todos os Estados-Membros e a própria ONU.

Caros colegas, o presidente Putin nos deu a indicação mais clara de suas intenções na segunda-feira, quando pediu ao mundo que voltasse no tempo mais de 100 anos, antes mesmo da existência das Nações Unidas, para uma era de impérios. Ele afirmou que a Rússia pode recolonizar seus vizinhos. E que ele usará a força – ele usará a força – para fazer das Nações Unidas uma farsa.

Os Estados Unidos rejeitam isso com firmeza. Estamos em 2022. Não estamos voltando para uma era de impérios e colônias – ou para a URSS ou a União Soviética. Avançamos. E devemos garantir, como disse o Representante Permanente do Quênia no Conselho de Segurança na noite de segunda-feira, que as “brasas dos impérios mortos” não acendam novas formas de opressão e violência.

Infelizmente, a falsa realidade que a Rússia quer criar já está tendo consequências reais para o povo da Ucrânia e para o mundo. Até o momento, a guerra da Rússia no leste da Ucrânia já matou mais de 14.000 pessoas. Quase 3 milhões de ucranianos – metade dos quais são idosos e crianças – precisam de comida, abrigo e outras ajudas para salvar vidas. E, claro, os russos comuns deveriam estar perguntando quantas vidas russas Putin está disposto a sacrificar para alimentar suas ambições.

Se a Rússia continuar nesse caminho, pode – de acordo com nossas estimativas – criar uma nova crise de refugiados, uma das maiores crises que o mundo enfrenta hoje, com até 5 milhões de pessoas deslocadas pela guerra escolhida pela Rússia e pressionando os vizinhos da Ucrânia. E como a Ucrânia é um dos maiores fornecedores de trigo do mundo, especialmente para os países em desenvolvimento, as ações da Rússia podem causar um aumento nos preços dos alimentos e causar a uma fome ainda mais desesperadora em lugares como Líbia, Iêmen e Líbano.

As ondas gigantes de sofrimento que esta guerra causará são inimagináveis.

E depois há a ameaça mais ampla: que as ações da Rússia destruam nosso sistema internacional, ridicularizem a Carta da ONU e questionem nossos princípios mais fundamentais de soberania, diplomacia e integridade territorial. Infelizmente, apesar desses terríveis resultados que alteram o mundo, a Rússia parece determinada a prosseguir.

Juntamente com nossos parceiros e aliados, o presidente Biden tomou medidas decisivas para deixar claros os custos das ações da Rússia. Mas, por mais que todos desejemos que a Rússia diminua a escalada e escolha o caminho da paz, essa não é nossa escolha. Esta é a guerra de escolha do presidente Putin. Se ele optar por escalar ainda mais, a Rússia e apenas a Rússia terá total responsabilidade pelo que está por vir.

O que podemos fazer juntos hoje é deixar claro que a Rússia pagará um preço ainda mais alto se continuar sua agressão. Que os países responsáveis ??não submetam seus vizinhos. Que os antigos impérios não podem reivindicar nações soberanas e independentes.

A primeira linha da Carta da ONU afirma que estamos nos unindo, citando, “determinados a salvar as gerações futuras do flagelo da guerra”. Isso, aqui, agora, é um momento. É um momento em que podemos salvar esta geração e a próxima desse terrível destino.

Colegas, agora não é hora de ficar à margem. Agora é a hora de entrar em campo. Vamos juntos mostrar à Rússia que ela está isolada e sozinha em suas ações agressivas. Apoiemos plenamente os princípios de soberania, independência política e integridade territorial para a Ucrânia e para todos os Estados Membros.

Vamos mostrar à Rússia que todos os outros Estados Membros da ONU acreditam que é hora de diminuir a escalada, voltar à mesa de negociações e trabalhar pela paz para que os ucranianos possam viver em segurança e para que os princípios da Carta da ONU possam ser mantidos para as futuras gerações que virão.

Obrigada”

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