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“Estamos nos preparando há 70 anos”, diz embaixador de Taiwan sobre possível conflito com a China

O embaixador da ilha taiwanesa no Brasil, Tsung-Che Chang, disse não haver dúvidas de que a China irá invadir Taiwan

Geovanna Bispo

16/03/2022 5h12

Geovanna Bispo
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Com o avanço da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, muito se questiona sobre um possível conflito entre a China e Taiwan. Porém, o embaixador da ilha no Brasil, Tsung-Che Chang, explica que a relação não deve ser feita entre a Ucrânia e Taiwan, mas sim entre a Rússia e a China.

“Curiosamente, o pretexto da Rússia para invadir a Ucrânia é que o país tradicionalmente faz parte da Rússia e eles têm o direito de exigir a união. Esta afirmação é a mesma do Partido Comunista Chinês, de que Taiwan tradicionalmente pertencia à China. A Rússia está tentando restaurar a glória da União Soviética, e a China está tentando reviver a chamada nação chinesa”, explicou Chang em entrevista exclusiva ao Jornal de Brasília.

Historicamente, a tensão entre Taiwan e China se estende há mais de 70 anos, com a vitória da Revolução da China, em 1949, após a derrubada do governo de Chiang Kai-shek e implementação do governo socialista de Mao-Tsé Tung. Após a queda, Kai-shek refugiou-se junto a 2 milhões de chineses na ilha de Taiwan, a 130 km do litoral da China. Desde então, o país tenta reintegrar a ilha.

Chang diz que a ilha está preparada para um possível conflito. “Não temos dúvidas de que a China invadirá Taiwan. Estamos nos preparando há 70 anos e ainda estamos fortalecendo nossos preparativos.”

Ainda assim, segundo o embaixador, a ilha ainda espera que a China use a guerra russa como exemplo e não comece um conflito facilmente. “Esta invasão russa da Ucrânia atraiu a condenação mundial, e esperamos que o Partido Comunista Chinês pense nas consequências da guerra. Não comece uma guerra facilmente”, continuou.

Outro ponto a ser considerado sobre um possível conflito são os apoiadores de ambos os países. Enquanto a Rússia apoia a China, os Estados Unidos, que também apoiam a Ucrânia, apoiam Taiwan. Inclusive, foi com a ajuda dos norte-americanos que Kai-shek conseguiu se manter forte contra os chineses, assinando um tratado de defesa mútua, após um bombardeio no estreito que separa a ilha, em 1954.

“Estamos recebendo mais armamentos dos EUA, incluindo armas F 16 V (modelo mais avançado), mísseis antiaéreos, etc., devido à atenção às ambições da China. Já temos a capacidade de construir treinadores de caça avançados, o alcance da distância dos nossos mísseis caseiros estão ficando cada vez mais longos, a produção está aumentando rapidamente e estamos construindo nossos próprios submarinos também”, explica o representante taiwanês.

Desde o ano passado, a China tem aumentado as hostilidades, com invasões do espaço aéreo e exercícios militares na região. Além disso, no mês passado, o governo chinês aprovou o aumento de US$ 8,6 bilhões ao orçamento anual de defesa, que já era de US$ 13 bilhões.

‘Ucrânia hoje, Taiwan amanha’

Com isso, desde o início dos conflitos entre a Rússia e a Ucrânia, no último dia 24, a frase ‘Ucrânia hoje, Taiwan amanhã’ estampa as manchetes da ilha e circula nas redes sociais.

Pensando em suas defesas, a presidente da ilha, Tsai Ing-Wen, tomou três medidas principais nos últimos dias. A primeira, foi o fortalecimento da inteligência da guerra e da moral pública, combatendo as possíveis desinformações sobre o país e o povo.

“À medida que forças externas tentam manipular os acontecimentos, afetando a moral do povo de Taiwan, nossas agências governamentais devem aumentar sua guarda contra a guerra cognitiva de forças externas, bem como de seus colaboradores locais, e devem fortalecer os esforços para esclarecer a desinformação, a fim de assegurar a estabilidade social doméstica de Taiwan”, explicou o representante.

A segunda, foi um alerta para as suas próprias forças armadas para qualquer tipo de movimentação. Além do fortalecimento econômico, garantindo a estabilidade do fornecimento de mercadorias, preços de commodities e mercado de ações e câmbio.

“Nossas agências governamentais devem continuar a monitorar os desenvolvimentos no comércio global e devemos avaliar e fortalecer nossos planos gerais de contingência para garantir a estabilidade de nosso fornecimento de bens-chave, preços de commodities e mercados financeiros, para que possamos minimizar quaisquer efeitos potenciais desta situação”, finalizou Chang.

‘Não existem vencedores na guerra’

Outro ponto abordado pelo embaixador é a relação entre os regimes que conduzem ambos os países: o totalitarismo. Segundo Chang, a atual missão da ilha, além de lutar pela sua própria independência, é o combate ao sistema. “Todos países democráticos precisam de se unir para derrotar a ambição de totalitarismo, qualquer que seja a razão destes para declarar guerra”, explicou.

Como forma de união entre os países, Taiwan enviou, em três semanas, 27 toneladas de ajuda médica para a Ucrânia e uma ajuda milionária para os refugiados ucranianos. A ilha ainda condenou a violação sofrida pela Ucrânia e se colocou a disposição para mediar possíveis acordos pacíficos entre os países.

“Como disse recentemente o ministro da Defesa de Taiwan, não há vencedores na guerra. Democracias ao redor do mundo, incluindo o Brasil, devem se unir e tomar precauções para impedir que estados totalitários façam guerra”, finalizou Chang.

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