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Em 1 ano, Trump desce ao inferno para reacender como favorito para 2024

Com resistência até dentro do Partido Republicano, que antes dominava, Trump enfrentou forte revés nas eleições legislativas de meio de mandato

Redação Jornal de Brasília

31/07/2023 18h57

Foto: AFP

THIAGO AMÂNCIO
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS)

Até que Donald Trump fosse a uma rede social avisar, pouco se sabia das investigações federais que enfrentava. “Meu lindo lar, Mar-a-Lago, em Palm Beach, na Flórida, está atualmente sitiado, invadido e ocupado por um grande grupo de agentes do FBI”, escreveu ele no começo de agosto de 2022. Acuado, enfrentava uma operação policial e era alvo de apurações na Justiça e no Congresso.

Com resistência até dentro do Partido Republicano, que antes dominava, Trump enfrentou forte revés nas eleições legislativas de meio de mandato. Foi acusado de ser o responsável pelas derrotas que resultaram na maioria conquistada pelos democratas no Senado e no controle republicano frágil na Câmara.

Candidatos trumpistas também perderam disputas para o governo em estados-chave como Michigan e Pensilvânia, e fatia importante da legenda chegou a recomendar que ele não se candidatasse à reeleição.

Apontando o dedo de volta aos seus acusadores, Trump parecia derrotado e com poucas chances de voltar à Casa Branca, sobretudo diante de candidatos fortes como o então poderoso governador da Flórida, Ron DeSantis, reeleito no estado com força e descrito como o futuro do Partido Republicano. Em janeiro, chegou a aparecer em pesquisas a apenas 2 pontos percentuais de distância de DeSantis.

Mas bastaram alguns meses para ele reverter o cenário: um ano após descer ao inferno com a operação em Mar-a-Lago, Trump reacendeu como candidato favorito entre os republicanos para a próxima eleição presidencial. Continua cercado pela Justiça, réu em dois processos criminais e com mais dois à vista, mas soube usar as acusações a seu favor, arrecadando doações e disparando nas pesquisas.

O favoritismo ficou mais uma vez evidente na pesquisa do jornal The New York Times com o Instituto de Pesquisas da Faculdade Siena publicada nesta segunda-feira (31). Trump tem 54% das intenções de voto nas primárias republicanas, 37 pontos percentuais a mais que os 17% de DeSantis, segundo colocado.

A pesquisa só considera os eleitores com inclinações republicanas, que é quem deve votar nas primárias –as regras variam, e em alguns estados é preciso ser filiado à sigla, em outros, qualquer um pode votar.

Um fator que preocupa adversários é que não há indicação de que os processos abalam as intenções de voto no republicano. O caso de Mar-a-Lago se tornou o primeiro processo criminal contra um ex-presidente em nível federal na história do país, com acusações de violações da lei de espionagem e de obstrução da Justiça por suspeita de armazenar e esconder das autoridades documentos secretos de maneira ilegal.

Mas para 71% dos potenciais eleitores nas primárias republicanas, Trump não cometeu crimes federais sérios –17% afirmam que sim, e o restante não sabe ou se recusou a responder–, segundo a pesquisa.

Nesta terça-feira (1º), Trump pode se tornar réu pela terceira vez, em um processo que apura sua participação na invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 e as tentativas de reverter a eleição que perdeu para Joe Biden. Há ainda uma investigação avançada na Geórgia por pressionar autoridades locais a “encontrar” votos a seu favor. Não que isso importe para a maioria do eleitorado republicano: 75% dizem que Trump “só estava exercendo seu direito de contestar a eleição”, e 71% querem que o partido defenda Trump das acusações.

Embora tenha o favoritismo no partido, ainda há dúvidas sobre seu desempenho frente a frente com Biden. “Escrevo sobre Trump desde 1988. Em 2015, larguei tudo o que estava fazendo para cobrir sua campanha em tempo integral, porque sabia que ele tinha chance de chegar à Casa Branca. Não acho que seja o caso agora”, diz o jornalista David Cay Johnston, vencedor do prêmio Pulitzer e autor da biografia “The Making of Donald Trump”, além de dois outros livros sobre a era Trump no governo.

“Pesquisas a 16 meses das eleições não são um indicador confiável do que vai acontecer. Trump tem a liderança absoluta no partido, não há dúvida. Por outro lado, as eleições legislativas de 2022 e outros pleitos fora de época pelo país mostram que o apoio não se traduz no resultado das urnas. Nos indiciamentos em Manhattan e em Miami, houve repetidos pedidos de protestos, que não aconteceram.”

Assim, para Johnston, não surpreende um aumento repentino nas pesquisas no momento em que ele é indiciado, embora o movimento não seja um indicador real do resultado das eleições. Pesquisa YouGov de 20 de julho apontou Biden com 47% e Trump com 43% num cenário em que os dois se enfrentam.

O ex-presidente tem apoio em todas as fatias com inclinação republicana, abrindo margem mínima para seus adversários, na pesquisa do New York Times. Tem ampla vantagem entre homens (55%), mulheres (53%), brancos (53%), negros (44%) e hispânicos (68%) e vai melhor que os rivais mesmo nas faixas tradicionalmente menos conservadoras e até entre eleitores de 18 a 29 anos (59%) –entre os que têm de 30 a 34, atinge 41%. O mesmo cenário se dá entre os que moram em cidades (66%) em relação aos que vivem em subúrbios (49%).

O favoritismo se explica pelas prioridades para os eleitores republicanos. DeSantis, por exemplo, faz campanha em cruzada contra a chamada “ideologia de gênero” ou pautas raciais. Mas apenas 24% dos eleitores afirmaram que o candidato ideal “deve focar a derrota da ideologia radical ‘woke’ nas escolas, mídia e cultura”. Já para 65%, o foco deve ser “restaurar a lei e a ordem nas ruas e na fronteira”.

Além disso, Trump é crítico do envio contínuo de ajuda à Ucrânia, assim como a maioria dos eleitores republicanos, com 52% se dizendo contrários a enviar mais assistência financeira e militar ao país.

O ex-presidente também tem um discurso duro contra a imigração ilegal, e 57% dos eleitores se disseram contra uma reforma nas leis de imigração que legalize a situação dos imigrantes sem documentos.

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