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Cientistas britânicos anunciam recorde de produção por fusão nuclear

Para seus defensores, trata-se da energia do futuro, sobretudo, porque produz pouco resíduo e nenhum gás de efeito estufa

Redação Jornal de Brasília

10/02/2022 7h10

Cientistas do Reino Unido anunciaram, nesta quarta-feira (9), que produziram uma quantidade recorde de energia por meio da fusão nuclear, classificando o feito como mais um “passo” para a produção industrial desta forma de energia defendida como limpa e barata por seus partidários.

Alternativa à fissão nuclear utilizada nas centrais atuais, a fusão nuclear pretende replicar o que acontece no coração do sol. Para seus defensores, trata-se da energia do futuro, sobretudo, porque produz pouco resíduo – e muito menos radioatividade do que em uma planta convencional – e nenhum gás de efeito estufa.

Uma equipe de cientistas do Joint European Torus (JET), o maior reator de fusão do mundo, situado perto de Oxford, conseguiu gerar 59 megajoules de energia por meio desse processo em dezembro passado. Segundo a Autoridade Britânica de Energia Atômica, foi mais do que o dobro do recorde anterior, estabelecido em 1997.

“É a energia necessária para cobrir as necessidades, durante cinco segundos, de 35 mil residências”, disse Joe Milnes, diretor de operações do JET, em coletiva de imprensa.

Esses resultados “são a demonstração mais clara, em escala mundial, do potencial da fusão para fornecer energia sustentável”, declarou, por sua vez, a agência britânica em um comunicado.

Rumo a um projeto viável?

Em quantidades iguais, a fusão nuclear permite produzir quatro milhões de vezes mais energia do que o carvão, o petróleo, ou o gás.

Os resultados anunciados hoje demonstram a possibilidade de gerar energia de fusão durante cinco segundos, o que ainda é insuficiente para viabilizar o processo.

“Mas, se você pode manter a fusão por cinco segundos, pode fazê-lo por cinco minutos e, depois, por cinco horas” com futuras máquinas mais potentes, argumentou Tony Donne, do consórcio EUROfusion.

A cooperação internacional em matéria de fusão é extensa, porque, ao contrário da fissão, não pode ser usada como arma.

No sul da França, está sendo construído outro reator de fusão, o Iter, que é mais avançado do que o JET. Participam deste projeto China, União Europeia, Índia, Japão, Coreia do Sul, Rússia e Estados Unidos.

Seu diretor-geral, Bernard Bigot, comemorou os resultados britânicos nesta quarta-feira, afirmando que se aproximam da “escala industrial” de produção.

Reagan e Gorbachev

“O projeto Iter nasceu de um conflito. A ideia veio de uma cúpula entre (o ex-presidente dos EUA Ronald) Reagan e (o ex-líder soviético Mikhail) Gorbachev quando estávamos nos enfrentando com muitas ogivas nucleares” em 1985, lembrou nesta quarta-feira Tim Luce, do projeto Iter.

“E a única coisa em que eles concordaram foi usar a fusão como meio de cooperação”, acrescentou.

No entanto, o projeto tem sido criticado por organizações de defesa do meio ambiente e seus especialistas, como a ONG Greenpeace, como uma “miragem científica” e “um buraco financeiro sem fundo”.

Embora dezenas de reatores de fusão nuclear tenham sido construídos desde a década de 1950, eles seguem consumindo três vezes mais energia do que permitem criar.

Ian Fells, professor emérito da Universidade de Newcastle, classificou os últimos resultados do JET como um “marco importante”.

“Agora cabe aos engenheiros traduzir (esses avanços) em eletricidade limpa e mitigar as consequências das mudanças climáticas”, acrescentou.

© Agence France-Presse

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