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Cidade espanhola de Ceuta entre o pânico e o pesar com a onda migratória

A maioria dos migrantes é de jovens e adolescentes, que nadaram até as praias de Ceuta em busca de trabalho ou para fugir da fome no Marrocos

Redação Jornal de Brasília

20/05/2021 17h03

Quando soube que milhares de migrantes estavam chegando do vizinho Marrocos, Gloria Nisrin, moradora do enclave espanhol de Ceuta, admite ter sentido pânico.

“Ouvia alguns dizerem que queriam tirar os colonos de Ceuta e eu vivi isso com muito pânico”, disse à AFP esta mulher que mora na cidade norte-africana, controlada pela Espanha durante séculos e reivindicada pelo Marrocos.

“Mas depois que vi que as pessoas (…) tiravam as roupas molhadas e passavam pelas ruas de cuecas, (…) comecei a jogar roupa para eles porque não podia vê-los andando descalços”, afirmou.

A chegada de cerca de 8.000 pessoas vindas do Marrocos nos primeiros dias da semana, imagens que deram a volta ao mundo, despertaram o medo no enclave habitado por 84.000 pessoas, onde muitas lojas e bares fecharam as portas por temor a saques.

O “pânico” se espalhou, “sobretudo as mulheres e as crianças não se atreviam a sair às ruas porque sentiam medo”, disse um aposentado de 70 anos que não quis se identificar.

“Os comerciantes fecharam todas as portas porque sentem medo, estas pessoas que entraram são carentes de tudo, têm necessidades absolutas, de comer, de evacuar, de asseio, então sentiam medo de que entrassem em seus estabelecimentos para roubá-los”, explicou.

A maioria dos migrantes é de jovens e adolescentes, que nadaram até as praias de Ceuta em busca de trabalho ou para fugir da pobreza e da fome no Marrocos, que se intensificaram com a pandemia da covid-19.

Sem dinheiro, mas eufóricos, estes migrantes se espalharam pela cidade até que a Espanha reforçou a segurança com soldados e veículos blindados na praia fronteiriça e começou a devolvê-los ao país vizinho.

Medo da covid

O governo espanhol informou já ter devolvido 6.000 e que restariam uns 2.000 na cidade, dos quais 800 seriam menores.

Na manhã desta quinta-feira, era possível ver grupos de jovens percorrendo as ruas de Ceuta, alguns com bolsas com comida ou cobertores doados por moradores da região e ONGs, que também distribuíam máscaras.

“Senti medo porque eram muitíssimas criaturas correndo pela rua, não sabiam aonde ir, fugiam da polícia”, relatou Rafaela Callejas, uma dona-de-casa na casa dos 50 anos.

Mas seu temor não era de que fizessem algo com ela, “mas sinto medo porque há um vírus mundial que matou muitas criaturas”, esclareceu à AFP.

Na noite de quarta-feira, pessoal da Cruz Vermelha com equipamento de proteção fazia exames de covid em menores sentados em uma longa mesa do lado de fora de um armazém, perto da fronteira.

De qualquer forma, muitos migrantes estavam sem máscaras ou as usavam no queixo.

“Põe a máscara, põe a máscara!”, gritava um homem a dois migrantes que passavam do seu lado.

Ceuta e Melilla, “cidades esquecidas”

Algumas pessoas se mostravam comovidas e ofereciam comida, roupas ou algumas moedas aos migrantes, mas outras estavam irritadas e previam que a situação se complicaria em breve.

“Conforme os dias vão passando, a delinquência aumenta porque eles vão precisar comer, vão precisar de bebidas (…) O que vão fazer? Roubar”, lamentou-se Luis Dueñas, um empresário de 39 anos.

“O problema é que nos vemos desamparados pelo governo da Espanha porque (…) tampouco dá os meios para nos ajudar”, disse, criticando o Executivo de Pedro Sánchez.

Ceuta e o outro enclave espanhol norte-africano, Melilla, são “cidades esquecidas”, acrescentou.

“Liberam muito dinheiro, mas quando têm que agir de verdade, nunca agem”, acrescentou.

ng-hmw/du/dbh/mis/mvv

© Agence France-Presse

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