VICTORIA DAMASCENO
PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS)
A missão chinesa na ONU (Organização das Nações Unidas), por meio do embaixador e chefe da delegação, Fu Cong, enviou ao secretário-geral da organização uma carta em que afirma que a líder japonesa, Sanae Takaichi, expressa ambições de intervir militarmente na questão de Taiwan, emitindo uma ameaça de uso de força contra a China.
O documento, segundo declaração da missão chinesa na ONU, tem como objetivo detalhar a posição do regime em relação às declarações de Takaichi ao Parlamento japonês.
“Se o Japão ousar tentar uma intervenção armada na situação do Estreito, estará cometendo um ato de agressão. A China exercerá resolutamente seu direito de autodefesa, conforme previsto na Carta da ONU e no direito internacional, e defenderá firmemente sua soberania e integridade territorial”, escreveu Fu, segundo a publicação.
“Esta é a primeira vez, desde a derrota do Japão em 1945, que um líder japonês defende, em um contexto oficial, a noção de que uma contingência para Taiwan é uma contingência para o Japão e a vincula ao exercício do direito à autodefesa coletiva”, diz a declaração.
O estopim para a crise, que dura cerca de duas semanas, foi uma fala da primeira-ministra do Japão ao responder um parlamentar da oposição sobre em quais situações Takaichi acionaria as forças de defesa do país. De forma hipotética, a liderança respondeu que uma intervenção militar da China em Taiwan era um exemplo. Isso porque um ataque a navios de guerra americanos usados para romper um bloqueio chinês poderia exigir que Tóquio se envolvesse para defender os EUA, seu aliado.
Desde então, o regime chinês fez diversos movimentos para pressionar a primeira-ministra a se retratar.
Declarou que a fala viola a estabilidade diplomática entre os países, que teria ultrapassado limites e que o envolvimento do Japão na questão resultaria em uma derrota esmagadora pelo Exército de Libertação Popular. Também emitiu um aviso a seus cidadãos recomendando que evitem viagens ao Japão, levando companhias aéreas como a Air China a permitir reembolsos e alterações sem custos.
Em resposta, Takaichi afirmou que quer manter uma relação construtiva com a China, mas reiterou o apoio a Taiwan caso Pequim decida tomar a ilha pela força.
Na nova declaração, o embaixador chinês enfatizou que as falas da primeira-ministra constituem “grave violação do direito internacional” e que “Taiwan é território sagrado da China”, além de pedir novamente uma retratação da governante.
“Essas declarações são gravemente errôneas e extremamente perigosas, com uma natureza e um impacto profundamente maliciosos. Apesar das repetidas tentativas de aproximação e protestos da China, o lado japonês se recusa a se arrepender ou a retratar suas declarações equivocadas. A China expressa forte insatisfação e firme oposição.”
A carta, enviada na sexta-feira (21), precede uma declaração do chanceler Wang Yi sobre o assunto, tornando-se o primeiro membro do Politburo, órgão máximo de governança do regime chinês, a falar sobre o tema.
O ministro afirmou, em conversas com jornalistas da mídia estatal chinesa, que a declaração passou dos limites e que a China deve responder com firmeza para salvaguardar a soberania e a integridade territorial do país.
“Uma pessoa sem integridade não pode se manter no poder, e uma nação sem integridade não pode se manter no mundo. A China insta o Japão a refletir sobre seus erros e corrigi-los o mais rápido possível, e a não permanecer obstinado”, declarou.