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Mundo

Chile: Santiago vai voltando ao normal; Piñera se reúne com presidentes

Presidente reconheceu a existência dos problemas que estavam latentes e estouraram com velocidade impressionante no fim de semana

Willian Matos

22/10/2019 13h28

Rudolfo Lago
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Aos poucos, a normalidade vai voltando a Santiago e seus arredores, onde estouraram as manifestações desde o fim de semana. A linha 1 do metrô, que é a linha principal, voltou a funcionar. Parte grande do transporte se restabeleceu, e a cidade volta a dar maiores ares de normalidade, com carros e pessoas circulando pelas ruas. O comércio já voltou em vários lugares. Mas os protestos continuam, embora de forma pacífica. O maior problema tem sido o desrespeito de manifestantes ao toque de recolher que, em Santiago, ocorre das 19h até as 6h da manhã. Os que optam por ficar nas ruas depois desse horário acabam sendo presos. As prisões já passam de duas mil.

O caminho para a normalidade, porém, passa pela própria reação do presidente Sebastián Piñera, que, após o início absolutamente desastrado na reação aos protestos, assustado com a situação, que já levou a 11 mortes, recuou e procurou negociar. Hoje, ele se reúne com os presidentes de todos os partidos, inclusive da oposição, em busca de uma solução. No pronunciamento que fez na segunda-feira (21), Piñera reconheceu a existência dos problemas que estavam latentes e estouraram com velocidade impressionante no fim de semana.

A política neoliberal adotada pelo Chile – e que serve de modelo para o que tenta fazer no Brasil o ministro da Economia, Paulo Guedes – fez o país dar um grande salto de desenvolvimento. O Produto Interno Bruto (PIB) per capita chileno é 60% superior ao brasileiro. As projeções indicam um crescimento de 3% na economia do país, enquanto as previsões no Brasil ficam abaixo de 1%.

Em contrapartida, tal modelo aprofundou fortemente a desigualdade social. Uma desigualdade que as ruas de Santiago não mais conseguem esconder. Há dezenas de acampamentos de sem terra espalhados em praças da cidade. Grandes favelas em diversos pontos da periferia da capital do Chile. Toda a rede de proteção social chilena desmoronou nos últimos anos. O Chile gasta 25% menos que o Brasil na educação pública, por exemplo. O modelo de capitalização da previdência passa os seguros para a iniciativa privada, aumentando os gastos individuais e reduzindo benefícios. Tudo isso resultou num grande aumento da desigualdade social. O Chile hoje só perde para o Qatar e o Brasil em termos de desigualdade entre o conjunto da população em comparação com o 1% mais rico.

A insatisfação latente com a situação estourou no fim de semana. E pode resultar em um conjunto de contrarreformas que, de alguma forma, retomem ao menos parte da rede de proteção social do país. Caso contrário, as ruas chilenas poderão pegar fogo novamente.

O que parece claro neste momento é a sensação de que o governo compreendeu os recados das ruas. Embora Piñera reclame das manifestações mais violentas, que levaram a saques e as mortes, cujos responsáveis o presidente chileno chamou de “delinquentes”, o chamado a negociação contrasta com a posição inicial do governo ao decretar o Estado de Emergência.

Piñera chegou a falar que o país vivia uma “situação de guerra”, declaração claramente desastrada em se tratando do fato de que o governo pretendia conter manifestações de cidadãos do próprio país. Ou seja: Piñera declarava guerra aos seus próprios concidadãos, o que só fez subir mais a temperatura.

Para alguns analistas, ao decretar o Estado de Emergência, e entregar a segurança aos militares, Piñera teria pretendido trazer de volta a sensação de terror dos tempos da ditadura militar de Augusto Pinochet para amedrontar os manifestantes. O problema: quem protestava não viveu tal tempo, não tinha memoria dele e pagou para ver.

Voos

No caso dos voos domésticos e internacionais, a situação ainda está longe de se normalizar. As mais de duas centenas de voos cancelados nos últimos dias concentrou um grande número de passageiros que precisa ser realocada. E isso vem sendo feito de forma ainda limitada, porque, depois do horário do toque de recolher, os aviões não podem mais decolar. Como resultado, há diversas pessoas que ficam acampadas no aeroporto, dormindo ali enquanto aguardam uma chance de voo, já que, após o toque de recolher, não podem da mesma forma sair do aeroporto em busca de um hotel.

O grupo de jornalistas convidado pela Latam para o voo inaugural Brasilia/Santiago deixa hoje a tarde a região de Pucón rumo a Santiago. E, então, será realocado conforme a disponibilidade em algum voo para o Brasil amanha. Já não mais voará direto para Brasília. Os voos diretos acontecem as tercas, quintas e sábados. Assim, o grupo será realocado em algum voo com conexão, se tudo correr bem, ao longo da quarta-feira.

O repórter voou a Santiago a convite da Latam

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